sexta-feira, 7 de agosto de 2009

Episódios Lamentáveis

Destampatórios no Senado

Se acaso restassem dúvidas de que o Senado Federal não mais faz jus à confiança mas também ao respeito da Nação, a altercação da sessão de ontem se incumbiu de dirimi-las. Porque custa crer que representantes dos Estados, eleitos pelo voto majoritário – excluída a excrescência dos suplentes – possam agir e falar de forma tão torpe e tão afastada do ambiente de dignidade que deveria presidir-lhes os debates.
Dignidade ? debates ? O que se viu e ouviu no plenário nada tem a ver com tal conceito e forma de discurso. Realmente mais do que despautério, é uma afronta e – por que não dizer – um deboche ao Povo brasileiro que congressistas se prestem a esse gênero de comportamento.
Perante um abúlico presidente, que se apega a lugar a que já lhe falta a autoridade moral para exercer, no vazio ritual de assembleia que se assinala pelo desperdício do dinheiro público, dois senadores se prestaram a uma rixa de quintal, despedaçando qualquer simulacro de decoro. Não há decerto de surpreender que um deles – há pouco escapado à cassação – chafurdasse ainda mais fundo, recorrendo a um palavrão.
Malgrado a provocação, tampouco é admissível a atitude do adversário. A rinha não seria própria de tais lugares, que existem para a discussão das grandes questões do Estado, e não para troca de insultos.
Mais baixo desceu ontem o Senado.
Achincalhada por tais excessos, a antiga Câmara alta mais parece feitoria em que a maioria tudo se permite, inclusive a farsa do Conselho de Ética, no qual o suplente que o preside sequer concede à oposição a mais comezinha regra processual, qual seja o benefício do contraditório. Tudo aquilo que não é do agrado do patrão da tropa de choque é, sem qualquer resquício de pejo, sumariamente arquivado.
Tal maioria que faz encher a boca de Renan Calheiros, é bom que se frise, ela existe por omissão pusilânime do PT e de sua liderança.
Estarrece que um partido outrora ético consinta em pactuar com essa gente do PMDB, que nada têm a ver com o ícone Ulysses Guimarães, e com tais procedimentos, que envergonham à Nação, e dos quais carecemos de nos livrar.
Será cabível que se continue aceitando ser representado por este triste conglomerado que, por onde o olhar alcance, menospreza e conspurca os fins a que foi proposto pela Constituição de 5 de outubro de 1988 ?

O segundo despautério do dia
Fernando Lyra, o Ministro da Justiça que saudou a supressão da censura, será hoje apenas um retrato na parede daquele ministério ?
O seu longínquo sucessor no gigantesco ministério do Presidente Lula da Silva – que, por certas atitudes, mais semelha um comissário – veio, em má hora, a público, para declarar que não é censura a decisão judicial que proibiu “O Estado de São Paulo” de noticiar investigação da Polícia Federal sobre Fernando Sarney, filho de José Sarney.
Conquanto o Ministro Tarso Genro se apresse em acrescentar que dificilmente o despacho de Dácio Vieira (TJ-DF) será mantido nas instâncias superiores da Justiça, a seu parecer não se configuraria como censura a liminar do desembargador, que proibe o “Estado” de divulgar dados sigilosos da aludida investigação da PF, porque, sempre conforme a precisão do Ministro, eles “podem ser inverídicos”.
Dando o nome aos bois a organização internacional “Repórteres sem Fronteiras” divulgou manifesto contra a censura ao “Estado de São Paulo”: “a decisão (...) constitui um ato de censura que lesa a liberdade de expressão.”
(Fonte: O Globo)

Nenhum comentário: