O início do segundo mandato do Presidente Mahmoud Ahmadinejad se processa de forma algo acidentada. Esses quatro anos suplementares Ahmadinejad os deve literalmente ao Líder Supremo, o Ayatollah Ali Khamenei que determinou, como se sabe, a apuração relâmpago dos sufrágios, proclamando-se logo em seguida a ‘vitória’ do presidente Ahmadinejad.
Se os protestos multitudinários que se seguiram não foram bastantes para que Khamenei cancelasse os comícios e convocasse novas eleições, tais manifestações populares em favor do candidato Mir Hussein Moussavi provocaram um ulterior endurecimento do regime, com exacerbada repressão. As cadeias de novo se lotaram com grande número de iranianos, cuja única culpa foi terem participado de pacíficas passeatas contra o esbulho eleitoral.
Como os governos autoritários tendem a apresentar características similares, as detenções abusivas, as torturas, as violências e sevícias, com a sua quota macabra de mortes, recordam ao povo iraniano os procedimentos do antigo Xá, quando buscava salvar o próprio trono, diante das crescentes demonstrações de repúdio da sociedade civil.
De acordo com a lógica ditatorial, Khamenei e seu esquema de apoio optaram pela encenação de julgamentos criminais, em que se colocou grande número de pessoas no banco dos réus. A tática intimidatória dos tribunais pode, no entanto, suscitar resultados imprevistos, máxime se os juízos são abertos ao público. Nesse contexto, houve muitas denúncias de violências sofridas, seja ao ensejo do aprisionamento, seja no cárcere.
O clérigo e líder oposicionista Mehdi Karrubi tem informado, através de site na internet, que inúmeros manifestantes presos foram objeto de abusos sexuais, o que incluíu, em alguns casos, até o estupro. Não obstante os vociferantes desmentidos das autoridades – que não trepidaram em brandir a ameaça de prisão – Karrubi prossegue na sua campanha. Acaba ele agora de divulgar o relato de vítima de estupro, a que foi submetido na prisão Kahrizak (mais tarde fechada por ordem de Khamenei), quando se achava com os pés e as mãos atados.
Não logrando amedrontar os chefes da oposição, como Moussavi e Karrubi, os elementos de ponta do regime ora recorrem a uma escalada retórica, que pode prenunciar medidas ainda mais drásticas. Nesse sentido, o chefe do Conselho dos Guardiães, Ayatollah Ahmad Jannati, em discurso, clamou pela prisão dos líderes dos protestos que sacudiram o país após as eleições. Conquanto não haja explicitamente designado Moussavi e Karroubi, não deu o orador margem a dúvida de que se referia aos dois candidatos oposicionistas ao pleito presidencial.
Depois que as manifestações foram contidas, pela violência dos Basiji (milícia secreta) e da polícia, Moussavi, apesar de ser o mais popular, vem adotando postura mais discreta, porém firme. Por sua vez, Karrubi se tornou o crítico mais agressivo do sistema, com acusações públicas de que homens e mulheres foram vítimas de sevicias e violências sexuais na prisão.
O discurso de Jannati – que é a reação de mais alta hierarquia a tais acusações – se prestaria a duas interpretações: ao não citá-los nominalmente, estaria ou preparando a opinião pública para as detenções, ou evitando explicitar a matéria para que a crise não se agrave mais.
Por outro lado, o gabinete do Presidente Ahmadinejad poderia ter, entre seus membros, um nome polêmico. Depois de forçado a dispensar um parente seu como primeiro vice-presidente, por questionamentos surgidos da ala conservadora, o presidente pretende indicar como Ministro da Defesa a Ahmad Vahidi.
Vahidi está na lista de pessoas procuradas pela Interpol, devido à acusação do governo argentino “de conceber, planejar, financiar e executar” em 1994, o ataque em Buenos Aires, ao Centro Cultural Judeu, que causou a morte de 85 pessoas e ferimentos a centenas. O Senhor Ahmad Vahidi na época dirigia a secreta Força Quds, ligada aos Guardas Revolucionários (Forças Armadas Iranianas), com o encargo de realizar operações no exterior.
Consoante a normativa iraniana, o Parlamento votará sobre as 21 indicações ministeriais. Malgrado tenha maioria conservadora, não se pode adiantar se algumas dessas indicações serão rejeitadas pelos deputados.
terça-feira, 25 de agosto de 2009
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