quarta-feira, 1 de abril de 2020

Nos tempos do cronavirus


                                        

        Viver enclausurado pode parecer até encantador para quem rememora uma época, ou vem visitá-la envolvido nos românticos, quiçá diáfanos véus de eras passadas, seja sob os granulados mantos do tempo que guardamos nas ariscas memórias de provações pretéritas, em que pensamos recolher farrapos esgarçados, nessa parca, sáfara colheita que, por vezes, nos traz, como num capricho, a remembrança.

          O confinamento será promessa de salvação e enquanto, se temos juízo bastante, a experiência nos é propiciada, é melhor que vague o pensamento, com as portas abertas e que, cúmplice, a imaginação se empenhe  abrir até de par em par, ou se deixe espairecer nas estranhas sendas dessas peculiares lembranças, que mais parecem fantasmas ou até mesmo o que o francês chama de revenants, os que voltam, mal se sabe de onde, e que palmilham a terra, para sempre insatisfeitos.

( Fonte:  a realidade sob forma jamais vista.)

Nenhum comentário: