sexta-feira, 3 de abril de 2020

Mandetta e Bolsonaro


                         
           Segundo Merval Pereira, Mandetta é o terceiro ministro indemissível do Presidente Bolsonaro. Para o colunista de O Globo, aos superministros da Economia, Paulo Guedes, e da Justiça e da Segurança Pública, Sergio Moro, juntou-se nessa crise  da Covid-19, o Ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta.

            Ainda consoante o colunista Merval Pereira "para cúmulo do azar de um presidente paranóico, em plena crise do novo coronavírus surge como guardião da saúde pública o ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, em contraposição involuntária ao próprio presidente, que tomou para si o papel de inimigo da Ciência, relativizando a maior crise que o mundo já enfrentou em décadas recentes."
            E Merval segue adiante: "Em momento tão grave, o presidente Bolsonaro tem dado mostras de desequilíbrio emocional perigoso, que emperra a ação do próprio governo. Ao postar ontem o  vídeo de uma senhora pedindo o Exército nas ruas para reabrir o comércio e os negócios, Bolsonaro mostra que quer forçar uma confrontação com setores da sociedade civil e do próprio governo que são hoje majoritariamene favoráveis ao isolamento horizontal."

              Nesse sentido, Merval relembra no seu artigo "Um presidente cercado" que o Supremo já proibiu o governo de fazer propaganda que fuja à orientação da Organização Mundial da Saúde. e do seu Ministério da Saúde,  mas o presidente não se emenda.  E Merval assinala: "Vai contra o próprio ministro da Saúde, fazendo reuniões paralelas sem convidar Mandetta."

               O problema central com o Presidente Bolsonaro é que ele não se conforma em ter  posições secundárias no drama que vê desenrolar-se diante dele. Assim, Bolsonaro não se capacita em que não pode prescindir dos pareceres técnicos do Ministro da Saúde que, por seu conhecimento e abalizada competência, tem necessariamente a última palavra no que tange ao problema, quando eventuais questões políticas atravessam o caminho do campo técnico que fica a cargo do Ministro da Saúde.
                  Com o que o presidente parece não conseguir aceitar, é que o critério técnico do Ministro da Saúde prevaleça, como no caso do afastamento horizontal.  Bolsonaro atua de maneira paralela, criando seus próprios factóides, enquanto ameaça com decretos que não se concretizam porque implicariam no fim do equilíbrio institucional. Sem embargo, no espaço cada vez mais reduzido em que atua, ele continua a fazer estragos.

                   Por vezes, convoca reuniões que tratam de problemas da saúde, sem no entanto chamar o Ministro da Saúde... Em outras ocasiões, dá a precedência a ministros que do assunto pouco ou nada entendem. Fica decerto difícil de dar um nexo lógico e não emocional à posição presidencial que vai em choque frontal contra o elementar bom senso, que é tanto ouvir da autoridade competente o parecer abalizado, como dispor da opinião de quem realmente entende e domina a matéria. 
               Diante de suas teses despropositadas, que expõem as pessoas ao invés de protegê-las através do isolamento - que é uma receita do bom senso, com validade mundial - Bolsonaro continua a ater-se, como se fora uma guerra de guerrilha, e dá precedência a outros ministros, que da questão pouco ou nada entendem. Ficam no ar - além das ameaças do impensável - demitir alguém pela óbvia razão principal que é a autoridade competente na matéria, não só por ser o Ministro da Saúde, mas também pela própria competência profissional, não obstante as constantes ameaças ditadas pela insatisfação  do Presidente, insatisfação essa que decorre de sua discordância quanto à clara competência do ministro, competência essa cuja obviedade se afirma em todas as reuniões, malgrado os eventuais óbices que Bolsonaro procure colocar, desejando reconvocar o comércio e acabando com o isolamento, por mais que esse isolamento seja mais do que recomendável, e na verdade mandatório... Será que os precedentes dos desastres de Bérgamo e da Lombardia - e seus brutais saltos na mortalidade  não lhe acendem a luzinha do bom-senso ?...  

( Fontes: O Globo e Estado de S. Paulo )  

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