segunda-feira, 6 de abril de 2020

Desaceleração na Itália, Espanha e Alemanha


        
      Uma boa notícia, misturada entre nuvens agourentas de más novas, por força do isolamento, três países europeus - Itália e Espanha (estas recém-saídas de experiências desastrosas), junto com a Alemanha, lograram  manter o ritmo de desaceleração,  através da implantação do refúgio nos próprios lares. Nada melhor, diante dos escassos meios da disponível medicação, que o isolamento social para deter o tenebroso avanço dessa nova peste - que Camus não conheceu - e é agora personi-ficada por esse estranho vírus, que é plurimus em nomes, mas sardonicamente despojado pelo modo cruel com que devora e desfigura os pulmões (se a vítima não lograr o pontual  apoio que é dado aos desesperados da sorte nas benesses da UTI).  

      Nos nédios números das cruéis estatísticas, se chega a comemorar como se as quedas no registro das mortes - 525, na Itália, 674, na Espanha; e de infectados na Alemanha, com aumento de 5.936, que chegam, portanto, a 91.714, como se tal lotada câmara da morte fosse motivo de júbilo, enquanto procedem tantas silenciosas batalhas, em que exaustos profissionais da saúde se empenham em porfias em que a esperança, nessas lutas anônimas, é tímida assistente, em que muitos lutam contra chamados que vítima e parentes pensam intempestivos, mas que pela sheer force of numbers, vai exaurindo médicos e enfermeiras.

        E com os pacientes da tão mal-falada Gripe Espanhola, eis que outro virus maldito avança na sua horrenda colheita, na azáfama das modernas UTIs ou nos leitos da segunda classe, reservados àquelas vítimas que não pesaram o bastante para justificar o favor - dúbio como todo aquele em que Mãe Fortuna tem aposta pesada - daqueles parentes que se desesperam em uma partida em que se despedem, lenta, sofrida e raivosamente, desse jogo cruel, em que forças estranhas jogam fichas pesadas, apostando em thanatos.

( Fonte:  O Globo )        

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