terça-feira, 19 de junho de 2012

Entendendo Lula

                                      
       A foto estampada pelos jornalões não deixa dúvidas. No seu peculiar projeto de poder, o ex-presidente Luiz Inacio Lula da Silva não se deterá diante de nenhuma consideração para alcançar os próprios objetivos.
      Apesar de combalido pelas sequelas do tratamento da séria enfermidade que o acometera, ele ignora as recomendações médicas de repouso. Na ânsia de atender a todos os propósitos políticos que deseja tornar realidade, a opinião pública o verá presente e atuante nos mais diversos cenários.
      Agora o vemos no jardim de Paulo Salim Maluf, fotograficamente selando a aliança com o ex-adversário político, na empresa de fazer eleger, contra vento e maré,  seu pupilo Fernando Haddad, para a prefeitura de São Paulo.
      Diante desta trinca de dois calejados líderes partidários e um verde pupilo, protesta  Luiza Erundina(PSB) , que tem história e militância, e foi a escolhida para compor a chapa como vice. ‘Não me vejo aparecendo ao lado do Maluf. Não vou mesmo’ disse ela. Considera o passado de Maluf ‘abominável’ e ameaça boicotar a campanha na TV.
      Terá mudado tanto assim nas últimas semanas o fundador do Partido dos Trabalhadores ? Posto que a sua desenvoltura em fazer e desfazer candidatos por esses brasis afora tenha realmente aumentado, a frieza e a dita Razão de Estado já surgira no segundo mandato, quando veio a público salvar do escândalo dos atos secretos o presidente do Senado José Sarney, sob o discutível argumento de que Sarney não era um cidadão comum.
      Ter-se-á acaso esquecido de o que declarou na sua primeira entrevista após a cura do câncer ? Reconhece ter recebido ‘uma bomba de Hiroshima’ dentro dele, e a consequente necessidade de ‘manter a disciplina para evitar que aconteça alguma coisa’. Cumpre, portanto, evitar agenda ‘alucinada’.
      Seu comportamento das últimas semanas coloca, no entanto, em dúvida, se ainda tem presente tais escarmentados e sensatos desígnios de quem mal semelha desembaraçar-se do gélido abraço de terrível enfermidade.     
      A sua reunião, no escritório de Nelson Jobim, com o Ministro Gilmar Mendes, provocou reações como a do decano do Supremo Tribunal Federal, Ministro Celso de Mello.O ex-presidente parece não reconhecer a gravidade de seu ato,nem as implicações do que disse e insinuou.
      Já no Recife, a sua intervenção está mais para a República Velha, do que para a corrente democracia. Inviabilizar a candidatura à reeleição pelo PT, devidamente confirmada por prévia partidária, do prefeito João da Costa, para dar lugar ao seu preferido, Senador Humberto Costa, não se afigura nem democrático, nem politicamente recomendável. E, sem embargo, foi o que se fez, por recomendação da diretiva nacional, em obediência à determinação do Líder Máximo.
     A inspiração política de Lula da Silva não se cingiu a esses episódios. Outra ideia  sua foi a criação de uma CPMI para ocupar-se das ações do bicheiro Cachoeira.
     Segundo consta, ao urdir essa inusitada iniciativa – as CPIs costumam ser criações da oposição e não da situação – o ex-presidente cogitou  acertar contas com desafetos seus, como o governador Marconi Perillo, culpado de tê-lo avertido da existência do mensalão.  Não terá decerto pensado no incômodo que poderia estar trazendo para Dilma Rousseff e seu governo, ao inventar a dita CPMI.
     Talvez Lula crie incômodos para o seu adversário, mas o procedimento da CPMI, conforme ao seu caráter chapa-branca, se tem notabilizado por uma série de omissões,  como as não-convocações de Fernando Cavendish e do Governador Sérgio Cabral, que tendem a criar, na palavra do Deputado Miro Teixeira (PDT/RJ), a impressão de uma ‘tropa do cheque’ além daquela outra desmoralizante imagem, que é a da fazedora de pizzas.
    O futuro dirá a que levará toda essa frenética movimentação do ex-Presidente. Seu candidato a prefeito em São Paulo patina nas preferências de um dígito. No Recife, cabe aguardar a resposta do eleitorado no que tange ao paraquedista trazido por Lula.
    Talvez fosse melhor para a sua saúde que se mostrasse mais cordato com as recomendações dos clínicos. Sem esquecer  suas próprias declarações, ainda quentes com as vívidas lembranças da experiência hospitalar.




( Fontes: Folha de S.Paulo, O Globo )    

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