quarta-feira, 22 de fevereiro de 2012

Questão de Autoestima ?

                            
       O colunista Elio Gaspari dedica o comentário hodierno à deportação sumária pela polícia do aeroporto de Barajas, em Madri, de turistas brasileiros, que, supostamente, não se adequem às exigências da U.E.
      A pretensa novidade é que as autoridades brasileiras resolveram pôr  termo a  prática, que se estende, pelo menos, há quatro anos.
     Os meganhas espanhóis, além de tratar grosseiramente os turistas brasileiros – suspeitos de tentativa de imigração ilegal – os encerram em ambientes confinados, a par de negar-lhes acesso a remédios, bagagem de mão e eventuais corriqueiras comodidades.
     Dada a maneira objetivamente indiferente com que o governo brasileiro vem, na prática, reagindo, não há negar que a causa principal da permanência da inaceitável situação deve ser atribuída à sua displicência, traduzida em falta de qualquer preocupação seja de isonomia, seja de velar pelo respeito aos próprios concidadãos.
     Para tanto, nada mais simples do que a aplicação da estrita reciprocidade. É realmente um escárnio que tanto a polícia brasileira, quanto o Itamaraty tenham convivido com tal estado de coisas. A responsabilidade, no caso, cabe ao próprio governo. Desse modo,  uma vez verificado o arbitrário procedimento, se  passa a empregar a retorsão, que é a óbvia e apropriada resposta (submeter os espanhóis a idêntico tratamento no Brasil). Não há melhor fórmula para atalhar esse tipo de excesso, do que infligi-lo aos nacionais do país que se arroga a prática das tropelias.
     Dados os longos anos em que o governo brasileiro tolera esse absurdo, parece forçoso recorrer à  explicação psicológica de  negligência tão maligna quanto duradoura.
    Conviver com tal estado de coisas vai muito além da costumeira ineficácia dos serviços oficiais. Permitir uma  situação, em que nacionais brasileiros sejam tratados como gado, depõe menos contra os infratores do que  ao Estado nacional responsável, que admite o inadmissível (vale dizer, se omite no exercício do direito de proteção de seus concidadãos).
     Pelo visto,malgrado os ouropéis de nossa progressão na  hierarquia da riqueza das nações, ainda baixamos a cabeça diante de manifesta falta de equidade e de mínimo respeito no que tange às prerrogativas dos viajantes.
    Isso tem a ver com autoestima baixa que, no frigir dos ovos, pode conviver com esse tipo de gritante disparidade. Em fim de contas, a velha estória de que fantasma sabe para quem aparece continua a valer.
    A receita para pôr um termo a tais prepotências semelha bastante singela. Basta fazer o dever de casa. O respeito aos nossos viajantes devemos ensiná-lo às autoridades estrangeiras, através da oportuna e recíproca avaliação dos respectivos direitos e deveres, com a aplicação sem afeto – no sentido do Dr. Freud – da isonomia a que todos fazemos jus.  
    Ou será que ainda tacitamente aceitamos ser um país de là-bas (de Gaulle), uma nação sem personalidade (non-descript country, Edward Saïd) ?


(Fonte: O Globo)

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