quarta-feira, 1 de fevereiro de 2012

Primárias na Flórida: Reflexões

                          
      Em uma das campanhas mais destrutivas na história das primárias – com 93% de  inserções negativas sobre o adversário direto nos meios de comunicação -, ironicamente, as eleições republicanas na Flórida  corresponderam à expectativa.
       Na montanha russa que até agora caracteriza a competição entre os pretendentes à nomination pela Convenção do GOP em Tampa, desta feita o galardão ficou com o moderado Mitt Romney, que obteve 46% dos sufrágios, contra 32% obtidos por Newt Gingrich, 13% por Rick Santorum e 7% pelo libertário Ron Paul.
       A vitória de Romney era mais do que esperada, e se consolidou com a avalanche de propaganda negativista dirigida contra o principal contendor, Newt Gingrich. Dados os antecedentes do antigo Speaker,  esta desconstrução não é tarefa difícil, posto que não seja das mais dignificantes.
      Gingrich, que almeja ser o candidato conservador por excelência, não tem decerto um bom retrospecto parlamentar (foi destituído da presidência da Câmara de Representantes, por irregularidades, tendo de pagar substancial multa), nem conjugal (as alegadas infidelidades, acusações de casamento aberto, etc.). 
      Tais fraquezas políticas não foram desdenhadas pelos amplos fundos da campanha do rival Romney, e o resultado na Flórida virou a página da derrota na Carolina do Sul. Sobretudo, no que concerne ao público feminino, o desempenho de Newt aponta sério problema para o futuro. O mórmon Mitt Romney obteve 51% das preferências das eleitoras, contra apenas 21% em favor de Newt Gingrich.
     Os outros dois concorrentes não esperaram a abertura das urnas para partirem para outros estados, cientes que estavam da aglutinação dos votos entre Romney e Gingrich, e de suas posições subalternas.
    Rick Santorum contaria ainda com a possibilidade de vir a ser  o candidato dos conservadores, posto ora ocupado por Gingrich. Até a super-terça-feira (seis de março), haveria no seu entender uma possibilidade para tanto, notadamente se se tiver presente que as primárias de fevereiro (Nevada e Michigan) não são promissoras para Newt, eis que em ambas, seja pelo número de mórmons (Nevada), seja pela anterior governança do pai de Romney (Michigan), o atual front runner[1] semelha ser o provável vencedor.
    Por temperamento e ambição, prognostica-se a permanência na campanha de Gingrich. Nesse contexto, o quesito a responder seria: o eleitor republicano se orientará menos pela estrita ideologia, e mais por aparentes possibilidades eleitorais, e nesse sentido favoreceria ao moderado Mitt Romney, em detrimento de um campeão conservador (Gingrich e, como azarão, Santorum) ?
     Não sendo a atual campanha  no GOP  um modelo de fair play, as acusações recíprocas, os ataques, sobretudo os sórdidos e aqueles bem abaixo da linha d’água, ao invés de rumarem para o limbo, ficariam tentadoramente pairantes no ar. Não se poderia, portanto, excluir que venham a ser eventualmente empregadas por terceiros, que teriam a persuasiva justificação de que apenas reproduzem o ‘fogo amigo’ que ora fustiga as entranhas republicanas.
     Não se desconhece que a Casa Branca trabalha com a presunção de que o adversário do Presidente Barack Obama será o ex-governador Mitt Romney. A Flórida vem pôr mais uma pedrinha na fundação de tal hipótese, posto que ainda seja demasiado cedo para ungir Romney como o candidato do GOP. Se é o perene favorito, ainda terá de passar por muitas desgastantes primárias e sabe-se lá por que outras contingências para que possa subir ao pódio em Tampa para ‘aceitar’ a designação partidária.
       Até o momento, a disputa interna no  partido tem sido uma caixa de surpresas, com o front runner da véspera escarmentado por derrotas de dois dígitos. Nada disso contribui para prognósticos otimistas no que tange a Obama – é bom lembrar que patina com preferências abaixo de cinquenta por cento. Será da economia, que faz tímidos acenos de melhora, que o atual 44º presidente poderá vir a ter o apoio determinante.
      Para vencer, resta-lhe lograr re-convencer a muitos independentes desiludidos com o seu comportamento decepcionante (no que concerne às promessas de mudança na campanha), especialmente no primeiro biênio.
      Mas quem sabe? não teria ele uma mãozinha adicional de uma guerra intestina, viciosa e deplorável, nas fileiras de seus leais adversários do Grand Old Party ?



(Fonte subsidiária: CNN) 



[1] corredor dianteiro.

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