segunda-feira, 27 de fevereiro de 2012

O Aprendiz de Ditador

       
       Na frágil democracia equatoriana, Rafael Correa não hesitou em palmilhar a batida trilha da intimidação da imprensa. Fê-lo por via judicial, valendo-se do poder irrestrito do señor presidente, por intermédio de oportunas substituições de juizes, fossem de primeira ou de última instância.
      Ao impor pesadas penas à expressão do livre pensamento, sejam físicas ou pecuniárias, embriagado pela própria húbris – e será esta a única emoção que há de partilhar com o berço da democracia – Rafael Correa é discípulo de outros algozes da mídia, a começar pelo seu modelo Hugo Chávez Frias e a viúva Cristina de Kirchner.
      O poder absoluto não só corrompe os respectivos usuários e pretendentes, mas também tolda-lhes a visão. Com a atmosfera do medo, ficam os tiranetes entregues a fâmulos e cortesãos, a ponto de carecerem na fábula da ingenuidade infantil para denunciar-lhes a nudez moral.
      Em um passado ainda próximo, Equador e América Latina se dão as mãos pela pletora de ditadores, demagogos e golpes militares. O mestre-escola e discípulo de Chávez ensaia largos passos nesta enganosa e traiçoeira vereda.
     Ao empreender a pouco dignificante jornada, não se deve comiserá-lo pelas verdades que lhe são entrementes arremessadas.
     Em El Pais, Mario Vargas Llosa aponta para a ação do presidente, que é um ato político, feito para minar os pilares da democracia, que são  a liberdade de expressão e o direito de crítica. Daí a irrespondível constatação de que “Rafael Correa acaba de ganhar uma importante batalha legal contra a liberdade de imprensa em seu país e deu um grande passo para a conversão de seu governo  num regime autoritário”.
     A Comissão Interamericana de Direitos Humanos, da Organização dos Estados Americanos, em boa hora, resolve emitir medidas cautelares para impedir a execução da sentença contra o jornal. Nesse sentido, o Presidente Jimmy Carter subscreveu carta de apoio à Comissão Interamericana.
     Por sua parte, mais de cem escritores espanhóis e latino-americanos assinaram manifesto em defesa dos jornalistas equatorianos Emilio Palacio, Juan Carlos Calderón e Christian Zurita.
     Enredado pelo cipoal dos protestos, Rafael Correa aciona os respectivos canais para saber se a Comissão Interamericana extrapolou suas funções ao emitir as medidas cautelares. Para tanto, tenciona apresentar-se como querelante junto a Corte Interamericana de Direitos Humanos, provocado pela injunção da Comissão para que o governo de Correa “suspenda de imediato os efeitos da sentença de 15 de fevereiro de 2012, a fim de garantir a liberdade de expressão”.
     Se confirmado, semelha de bom augúrio esse despertar das instâncias interamericanas na defesa da democracia. Existe uma Carta, aprovada faz tempo, que dorme nas gavetas dessas mesmas ‘burocracias internacionais’, a que alude o aprendiz de ditador incomodados por tais extrapolações.
     Até quando Hugo Chávez, Rafael Correa, Cristina de Kirchner e Daniel Ortega abusarão da paciência dos democratas, perseguindo a liberdade de expressão, em pequenas e grandes manobras, navegando, com ardilosa astúcia, entre as contraditórias correntes das respectivas opiniões públicas ?



( Fonte:  O Globo )

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