sábado, 16 de abril de 2011

Vamos dançar com dona Inflação ?

       Ressoam ainda as sábias palavras de atilada colunista de que, em país com o histórico do Brasil, não se deve brincar com a inflação. Infelizmente, com propósitos políticos bastante determinados, o governo preferiu ignorar os avisos e pôr em risco o maior ganho econômico que nos legou a década de noventa. Se já é tarde para chorar sobre o leito derramado, em meio a bazófias, importa deixar caracterizada a irresponsabilidade.
       Em reunião do Fundo Monetário Internacional, o Presidente do Banco Central, Alexandre Tombini, sinalizou que o país se acha ‘em meio a ciclo de aperto monetário’. A alusão ao recrudescimento inflacionário semelha óbvia, assim como previsíveis as providências da autoridade monetária.
       A grande liquidez atual, resultado dos fluxos de dólar estadunidense depreciado e do próprio real apreciado, apontam para a elevação da taxa Selic de meio ponto percentual (0,5%), ao invés de 0,25%, que era a previsão anterior do mercado. No momento a taxa Selic está em 11,75%, e o mais provável, portanto, seria a sua alça na reunião do Copom da próxima semana ao patamar de 12,25%.
       Dada a atração de uma taxa de juros desse nível para inversores em dólares (dados os baixíssimos juros vigentes por decisão da Federal Reserve nos Estados Unidos), o fato de haver incremento no afluxo de dólares para o mercado brasileiro, tal circunstância representa dádiva de dois gumes para a nossa economia. O ingresso de dólares contribui para o equilíbrio da balança de transações correntes, compensando a saída de divisas causadas pelo real mais forte (aumento das importações e mais dispêndios no ítem de turismo, entre outros). Por outro lado, contudo, incha a liquidez na economia, e por conseguinte, aumenta a pressão inflacionária, por via do aumento do crédito.
      Diante das duas grandes competições que o Brasil pleiteou e logrou sediar – a Copa do Mundo em 2014 e as Olimpíadas no Rio de Janeiro, em 2016 – muito se espera da autoridade pública com vistas à recuperação da infraestrutura, que se encontra, por prolongada falta de investimentos, em petição de miséria.
      Não é preciso ir muito longe para cientificar-se de que tal estado de coisas não é tropo literário, mas expressão da realidade. Desde os portos, com a sua notória incapacidade de carregar ou descarregar as mercadorias, passando pelos aeroportos, com a vergonhosa e continuada situação nos dois principais – Guarulhos e Galeão -, e adentrando as metrópoles, com o mesmo atraso quanto aos estádios, a seus entornos, sem esquecer o trânsito e as vias de acesso.
      O Governo Dilma – decerto mais ensimesmado do que o anterior, o que é um aspecto positivo – continua, no entanto, a transmitir a impressão de apatia e de perplexidade que o desafio das obras e a sua inequívoca urgência parecem trazer-lhe. Em terra de Juscelino Kubitschek e da construção de nova capital em menos de cinco anos, se contrapõe ideia de geral incapacidade. O tempo corre e nada acontece. O contribuinte, nesse país tão glutão em termos de coletar  impostos, taxas, tributos et al., não vê aparecer ninguém com cara de empreendedor. Será que essa geração atual só serve para ir à tevê e falar sobre as dificuldades de realizar isto ou aquilo ? Já vimos o quão ávidos são os partidos em avançar para as posições com maiores dotações. Desafortunadamente e paradoxalmente, todavia, tal empenho não se traduz em realizações, tanto as prometidas, quanto as necessárias.
      Esta realidade adquire até aspectos que seriam cômicos, se não fossem a expressão do respectivo menosprezo pelos direitos da sociedade. A Infraero, que se tornara sinônimo de ineficiência e de loteamento partidário, julgou oportuno colocar cartazes no Galeão, desculpando-se com o público pelo inconveniente gerado pelas obras. Como o usuário não via nos melancólicos espaços do terminal obra alguma, a quem pretendia o aspone redator enganar ?
      Nesse campo, somos informados pelo Ipea que dos doze terminais a serem reformados, nove não estarão prontos a tempo.
      Entrementes, se cuida de inchar o déficit da Previdência, a par de incrementar, por via de um aumento do salario mínimo para R$ 616,34 já em janeiro próximo. E a elevação pode ser ainda maior, se a inflação estiver em torno de 6,26%, como prevê o mercado.
      Dentro de conjuntura com viés inflacionário, qual o propósito do dílmico governo em encarecer a pressão também deste lado ? Depois não me venham queixar-se da indexação da economia, se é o executivo o primeiro a salgar as contas.
      Dessarte, o observador vê muito movimento do Governo em alguns setores, e muito pouco em outros. Infelizmente, todo esse denodo parece ir exclusivamente para engordar salário e emprego, enquanto aquele das obras semelha enlanguescer na triste sina da tropical abulia.
      O que na verdade deseja a senhora do PT ? Que o Brasil veja afastar-se a visão de Getúlio e JK de uma grande Nação, ou o país do jeitinho, das legendas de aluguel (beiramos trinta partidos ) e da demagogia ?

                                                              ( Fonte: O Globo )

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