segunda-feira, 25 de abril de 2011

Dilma e a Inflação

           Como referido no blog A dádiva de Lula não há dúvida sobre quem recai a responsabilidade do ressurgimento da inflação, que tantos planos heterodoxos e ministros da fazenda jogara por terra, enquanto consumia a economia brasileira em decenal estagnação. Só mesmo irresponsável e temerário governante poderia brincar com esse gênio, que somente fora posto na garrafa, ao cabo de grandes sacrifícios, pelo Plano Real,mérito do presidente Itamar Franco e de seu ministro Fernando Henrique Cardoso.
           É bem verdade que na vitória sobre a inflação o governo de então jamais teve qualquer cooperação de Lula e do Partido dos Trabalhadores. Tudo foi feito pelo PT para colocar o Plano no mesmo saco de tantos outros esquemas, como o Plano Cruzado, cujo efêmero sucesso fora bastante para o estelionato eleitoral que dera grandes maiorias no Congresso e muitos governadores ao PMDB. No dia seguinte à eleição, o Ministro da Fazenda, Dilson Funaro e o Presidente José Sarney editaram o Cruzado II, que pôs fim à empulhação do Plano Cruzado.
           A população, que sofrera as agruras da inflação, teve o bom senso de não acreditar na propaganda de Lula, que tudo fez para desmerecer da confiança do público no Plano Real. A estabilidade dos preços trazida pelo Real foi o maior cabo eleitoral de FHC. Contra ele, a demagogia de quem antes liderara as pesquisas se desfazia, incapaz de brigar com a realidade vista em um dia-a-dia que, por fim, trazia segurança na manutenção do valor da moeda e do respectivo salário no fim do mês.
           Já se tratou demasiado do modo leviano com que se buscou agradar ao povo, com as desonerações fiscais e facilidades de crédito, a par do empreguismo desenfreado como ferramenta eleitoreira, e as famigeradas ‘capitalizações’do BNDES, esta suposta mágica varinha que, pelo aumento da dívida pública, suplementaria os níveis insuficientes de poupança para alavancar os investimentos e a economia.
           Tampouco ajudou o Ministro Guido Mantega, deveras mais flexível que o seu antecessor Antonio Palocci, e incapaz de contrariar o sôfrego Presidente Lula, a quem não importava brincar com a inflação, eis que tinha postos os olhos na eleição de sua candidata.
           Hoje sabemos – cortesia do Wiki-Leaks - que a propalada ‘autonomia’ do Presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, era estória da carochinha, posto que ainda em doses moderadas. Não obstante, dona Dilma resolveu afastá-lo, e o substituíu com Alexandre Tombini.
           Conhecemos os pendores desenvolvimentistas da Presidenta. Não somos decerto contrários ao desenvolvimento de nossa terra, mas já aprendemos – cortesia do dragão – que o crescimento econômico não se alcança por taumatúrgicos atalhos que desconhecem os riscos da carestia. Se há um país em que as autoridades não têm o direito de alegar desconhecimento de tais perigos é o Brasil.
           Por obra e graça de Lula, refestelado na sua fácil aprovação de mais de oitenta por cento, caíu no colo de sua pupila e Presidenta, com o Palácio do Planalto, o dúbio regalo da carestia.
           A despeito do desaparecimento da inflação, se deixarou em virtual hibernação uma pletora de índices, que sempre cuidaram de satisfazer o insaciável apetite das várias corporações, a começar pelos seus corifeus do judiciário.
           No entanto, redesperta a velha senhora, com a prestimosa ajuda de toda a tralha de índices, ela de repente se transforma de tênue aviso em perigo presente.
           Assim, só pode consternar a fraqueza do Copom, sob a presidência de Tombini, que preferiu os modos brandos de uma alça na Selic de 0.25%, quando a seriedade da situação – e a circunstância de o índice inflacionário já ter quebrado todos os prognósticos oficiais para este ano – exige mais  firmeza e seriedade.
           Assistíramos, neste governo, o mal-disfarçado embuste de um corte no orçamento de R$50 bilhões, que foi logo ‘compensado’por mais uma ‘capitalização’ do BNDES, essa falsa mágica de Mantega, que aumenta a dívida e onera o Tesouro (além de manter a pressão inflacionária, na bisonha prestidigitação que a ninguém engana).
           Se os estratosféricos níveis de popularidade de Lula no seu segundo mandato ensejaram a eleição da candidata por ele inventada, malgrado o tropeço no primeiro turno, o povo pode ser iludido por um tempo, mas não o será por muito se, ao fim e ao cabo, nos encontrarmos em meio ao recrudescimento da inflação, em pleno governo do PT e de D. Dilma. Por maiores que sejam os malabarismos não lograrão fugir à própria responsabilidade histórica de terem sido os vetores conscientes do regresso do temido dragão.
           Pelo Brasil e por todos nós, desejo que o atual governo tenha êxito em afastar este flagelo da economia e dos brasileiros, máxime os mais humildes, aparentemente os mais protegidos pelo assistencialismo do P.T. Que a Presidente Dilma Rousseff não se faça ilusões, em meio às melífluas palavras dos áulicos que enxameiam à sua volta: está diante não de um falso enigma, pois se não vencê-lo, ele a fará morder a poeira dos derrotados. Pelo Brasil, repito, espero que assim não seja. No entanto, por ora, o que se vê, só lança mais lenha na fogueira das inquietações.

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