Há muitas causas para o presente impasse entre União Europeia e Reino Unido. Mas a principal é o desconforto das lideranças britânicas com a sua permanência na União Europeia. Não é o caso de empreender um estudo aprofundado na matéria - isto será uma questão para o futuro. Mas é inegável que a ambição de uma geração de não acomodar-se com o veto do general de Gaulle ao pleito inglês de ingressar no Mercado Comum passaria nos anos seguintes a tornar-se uma questão controversa na Inglaterra.
Não se carece de ir muito longe quanto à ambivalência do desejo da elite britânica de encarar o ingresso na organização de Bruxelas como uma contradição ao suposto destino manifesto inglês quanto aos sonhos de um superpoder forçado a participar de um organismo continental, o que contrariava a sua suposta posição política acima dos poderes de Bruxelas e dos muitos países da Europa Central.
Por isso, o estúpido jogo de volta e meia atender aos apelos da direita ultraconserva-dora teria ao cabo de dar no que deu, com a vitória em um enésimo referendo, mal convoca-do num período estival, em que ironicamente a maior parte dos partidários do Remain estariam em férias na Europa, tornando assim ainda menos densa a disposição dos súditos de Sua Majestade de persistirem no bom caminho da aliança econômica com Bruxelas.
No passado, até líderes de maior relevo tinham concordado em submeter-se ao perigoso recurso ao referendo. Parodiando o velho dito, não desejes depender de velhas ilusões, e de brincar com a volta do passado, submetendo-se a postulações cretinas, eis que por mais carisma que o líder do momento tenha, sempre virá a hora de que as reivindicações da direita encontrarão pelo jogo dos números a oportunidade de fazer o errado prevalecer, como de fato ocorreu no último referendo que ali aparecera como uma suposta concessão à direita ultraconservadora. De que serve que um líder medíocre tenha visto a própria carreira política ir para o espaço dos políticos fracassados ?
Os arreganhos de uma suposta "libertação" das correntes impostas por Bruxelas funcionaram em um processo onde líderes mais jovens, lançados às posições de mando, terão julgado que o radicalismo passara a integrar o ambiente, livrando-os dos dinosauros na liderança e abrindo um espaço aos mais jovens, oportunistas de boa cepa. que não terão enjeitado a oportunidade de entrar afinal nella stanza dei botonni...
O afobado e ofegante líder conservador Boris Johnson chega à sede da Comissão Europeia, sendo recebido pela sua Presidente, Ursula van der Leyen. Mas a preparação do encontro fatídico não foi das melhores. O isolamento da pérfida Albion foi ironicamente ressaltado pelo anúncio supostamente apaziguador de que Londres revogaria cláusula da Lei do Mercado interno que violaria regras impostas pela Lei do Mercado interno - e que terá desrespeitado o pacto que permitiu o Brexit, firmado em fins de 2019. Ao mostrar certa má-fé a atitude inglesa terá sido recebida com fúria pela União Europeia . O organismo até ameaça levar a lei britânica a cortes internacionais...
( Fonte: O Globo )
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