O leitor há de me perdoar, mas neste período natalino, na própria véspera do Natal, essa festividade religiosa que é tão calorosamente acolhida pelo comércio, e constitui o desafio a ser enfrentado por tantas donas de casa, empenhadas em produzir aquela mesa de noite natalina, sem embargo de tudo isso, de o que escrevi, eu volte aqui, nestas páginas herzeanas, a de tratar de um tema que parece entregue a uma única pessoa. Na verdade, peço vênia para que me desculpem. Não estou sozinho nessa matéria, mas se me permitem estou em um quase limite. Pois um antigo craque – que começou como grande jogador no Clube de Regatas Vasco da Gama – o Romário expressou igualmente a sua opinião em entrevista ao jornal Extra, de uma forma que eu assinaria embaixo, talvez com a exclusão de um ou outro vocábulo. Neste grande silêncio que ora circunda um time de tantos títulos e tradições, me pareceu mais do que auspiciosa a reação de Romário como jogador e como admirador do Vasco. Todos sabemos que Romário é América – e muito tem procurado fazer por essa equipe, que por tanto tempo foi o segundo time de todo o torcedor carioca. Romário está tão perplexo quanto eu no que concerne à desconstrução do Vasco da Gama pelo Senhor Roberto Dinamite. Não sei se é o sobrenome que trouxe dos tempos de artilheiro no Vasco, mas se afigura difícil descrever-lhe a trajetória em termos menos incisivos no que tange à sua presidência no CRVG. Depois que reeditou o feito do Corinthians e saíu da Segundona com a faixa de campeão, o Vasco teve trajetória que margeia o inacreditável. No campeonato de 2011, fez ótima campanha, foi vice e poderia ter sido o campeão se não houvesse sido tungado pelos senhores árbitros de pelo menos sete pontos, o que lhe daria, e com folga, a faixa de campeão, ao invés do Corinthians, sempre tão bem tratado pela comissão de arbitragem. Em vez de reclamar a seu devido tempo, Roberto Dinamite, malgrado o nome, aguardou o fim da competição, para montar um protesto simbólico e sem qualquer efeito prático. Por fim, neste campeonato de 2012, depois de um início esfuziante e promissor (quatro vitórias seguidas!), com uma série de desfalques na equipe não tardaria em que o Vasco iniciasse uma lenta mas segura descida na escala de colocações.
O que me estarreceu – e causou em Romário reações verbais ainda mais fortes – foi a passividade do senhor Roberto Dinamite, presidindo majestaticamente ao desmantelamento do time, desmantelamento este que, ao que semelha, lhe custou algum esforço, mas que está ora em vias de transformar o Vasco em um novo São Cristóvão (lembram-se? o campeão do centenário e hoje pouco mais do que um drummondiano retrato na parede). Desperdicei quiçá muito tempo escrevendo no espaço cibernético cartas para esse senhor, às quais pelo visto não dispensou maior atenção. Ele tem decerto o direito de reagir dessa forma – como igualmente procedeu no que concerne à entrevista de Romário, que seguiu um outro estilo – mas o que me marcou foi este vazio sorriso que o senhor Dinamite projetou sobre o Vasco da Gama, e todos os jogadores a quem terá prometido mundos e fundos.
Recordo-me, a respeito, da conversa televisiva que manteve com Juninho Pernambucano, esse veterano craque que tanto se dedicou ao Vasco no último campeonato, e que do Vasco e sobretudo de seu presidente, se afastou não exatamente satisfeito com o tratamento recebido.
A série de jogadores que saíram revoltados com esse ausente sorriso de um presidente cuja aparente meta é remontar o elenco do CRVG literalmente com o refugo da Série B. Para tanto, se deve reconhecer que o senhor Dinamite está bem adiantado na implementação do respectivo desígnio. Outros cartolas entram para o time com o intuito de elevá-lo às alturas do campeonato brasileiro e da Libertadores. Pelo demonstrado, não é este o escopo do senhor Dinamite. Se perguntarmos onde estão os craques deste ano: o goleiro Fernando Prass, Juninho Pernambucano, Diego Souza, Alan, Fagner, Rômulo, e agora Rodolfo, Alecsandro e Nilton, restam apenas – e por quanto tempo ? – Eder Luís e Dedé. Até o vascaíno Felipe teve a partida anunciada, para depois passar-se para o desmentido, diante da estupefação do diretor-técnico Ricardo Gomes, que continua por ora no Vasco.
Não darei, caro leitor, a relação dos jogadores previstos para integrarem o que será o novo Vasco. A maioria é de egressos da série B, ou de jogadores hoje encostados em equipes de segunda categoria no futebol europeu, ou de atletas de times que estão indo para a série B, ou que dela estão ascendendo para a série A.
Surpreende deveras que o Vasco tão mal administrado, com jogadores sem receberem por três meses a fio, ainda tenha conseguido concluir o campeonato vencendo o campeão Fluminense, e ocupando a quinta colocação !
Há em torno do Clube de Regatas Vasco da Gama um retumbante silêncio. Este muro invisível de indiferença – que apenas Romário quebrou – não reflete uma realidade. O Vasco é um time de títulos e tradições. Conta uma grande torcida, espalhada por esse Brasil afora, e que é, sem dúvida, a segunda em número no Rio de Janeiro. Se este senhor, do ausente sorriso, continuar por muito tempo onde está não subsiste qualquer dúvida que essa importância do Vasco como time de grande torcida não estará destinada a perdurar. Não há maior atrativo para a manutenção da torcida do que o êxito. O Vasco não é um time de segunda, um candidato perene à Segundona como o comportamento do senhor Dinamite vem dando inquietantes indícios de que é esta a ominosa resultante de uma gestão ruinosa.
Pelas suas tradições e suas conquistas memoráveis, o CRVG agregou uma grande torcida e têm torcedores famosos que lamentavelmente, diante da inépcia do sorriso do senhor Dinamite, têm permanecido não só em silêncio, mas nada têm feito para de alguma forma quebrar esse encanto, este mau olhado que caíu sobre a equipe da colina.
Para os que tinham dúvidas sobre a importância do futebol para o Brasil, a resposta do governo Dilma Rousseff as terá dissipado todas, com a prioridade extrema concedida à Copa do Mundo e a seus estádios. Construídos de acordo com as especificações da FIFA, exsudam riqueza e conforto, a ponto de que o colunista Tostão possa até temer que o torcedor comum venha a ser barrado em tão suntuosas instalações. Se não estão prontos todos, se-lo-ão em breve, junto com o Mineirão e outras maravilhas a que será destinado o dinheiro do contribuinte.
Será que as nuvens que se acumulam no horizonte, haja vista a boçal disparidade entre a categoria técnica do Vasco de antes e o da vindoura temporada, não poderiam ser acaso arrastadas por um movimento de amigos do CRVG antes que seja tarde demais e esse arremedo de timinho já se debata na mediocridade e o seu destino natural que é o retrocesso ? Lembram-se do São Caetano ? Disputou em 2001 a final do campeonato brasileiro com o Vasco e no corrente ano, ei-lo mandado para a Terceira Divisão ?
(Fontes: Extra,
O Globo, Folha de S. Paulo )
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