Dom Pedro Casaldáliga é um brasileiro íntegro e
corajoso, que nasceu em Balsareny, na Catalunha a 28 de fevereiro de 1928. A
sua conduta e empenho pastoral evocam a lembrança de uma igreja que está ao
lado dos sem padrinho, da gente pobre e desvalida.
Por isso a travessia do bispo de São
Félix do Araguaia, no Mato Grosso, não é marcada por residência suntuosa, a
pompa e os ouropéis de alguns palácios episcopais. Com o cajado e a cruz da
igreja primitiva, ele é o símbolo de dedicação à boa nova e à verdadeira
justiça.Por quê o justo e quem abraça a causa dos pobres e oprimidos provoca desconforto e desassossego nos poderosos, seja por cargos públicos, seja pela força crua das armas ?
Como a presença desse religioso, o seu empenho e a serena coragem expressos em longos anos do bom combate pode engendrar surdos e inconfessáveis ódios será sempre um claro enigma.
Por não se acomodar, desde que assumiu a prelazia de São Félix do Araguaia em 1971, Pedro Casaldáliga sempre foi ameaçado por defender os índios e trabalhadores rurais. Em 1976, ao receber denúncia de torturas na delegacia do povoado de Ribeirão Bonito, o prelado foi até o local, acompanhado do padre jesuíta João Burnier. Ao cientificar-se de que procediam as acusações, o padre Burnier afirmou que denunciaria os policiais, o que motivou a sua morte com um tiro na nuca.
A despeito de ser hoje bispo emérito de São Félix – dom Casaldáliga tem 84 anos – e sofrer da doença de Parkinson, ele continua a defender o povo xavante na retomada da terra indígena Maraiwatsede. O valor de seu testemunho tem provocado através das épocas a reação das potestades do tempo. Nesse contexto, constaria que, nos anos de chumbo, se terá até considerado, como aberrante solução para o ‘problema’, a eventual expulsão de Pedro Casaldáliga da terra brasileira.
É um peculiar elogio que, mesmo fragilizado pela enfermidade, o bispo emérito de São Félix do Araguaia, pela força da vontade e do exemplo, ainda provoca ameaças de sequestro e morte, a ponto de a Polícia Federal haver confirmado o real perigo, deslocando para a região homens da Força Nacional.
Constitui estranha e raivosa “homenagem” que se lancem a este justo ancião, ao ensejo do início da retirada dos posseiros das terras indígenas, ameaças de morte que a violência prevalente naquela região tornam assaz críveis.
De acordo com Pedro Maldos, secretário nacional de Articulação Social, o bispo emérito segue monitorado pela Polícia Federal. Se d. Pedro não aceitou, como é seu costume, ficar sob total proteção da P.F., acolheu, no entanto, a recomendação de deixar sua residência em São Félix por uns tempos, durante a retirada dos posseiros da terra indígena.
É compreensível, portanto, que a Igreja Católica mantenha em segredo o local onde se acha hospedado o bispo emérito. Por medida de precaução, o seu transporte de casa para o aeroporto foi escoltado por veículos da Polícia Federal.
( Fonte: O Globo )
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