quinta-feira, 27 de dezembro de 2012

Parabéns Rio, Brasil, Mundo !

                                 
            A suspeita de ontem se transforma na certeza de hoje ! Ontem, todos nós, sentimos muito calor. E um calor que nos terá parecido diferente dos demais, porque nos dava a incômoda impressão – dentro do geral desconforto da canícula – de que aquela temperatura, fosse qual fosse, nunca a tínhamos experimentado antes.
            E mais uma vez o bicho homem tinha razão ! Estamos todos irmanados nessa ! Fala-se por aí de falta de sentido comunitário... Pois nisso, a criatura humana tem sido imbatível !
            Mas vamos por partes. O que experimentamos nós todos ontem ? Mesmo aqueles que têm o ilusório conforto do ar condicionado ? Quantos de nós nos teremos perguntado: esse forno, nunca senti antes ?  E todos nós, você, eu, meus vizinhos, conhecidos e desconhecidos, estávamos redondamente corretos ! E qual é o prêmio que nos toca por vivermos nesse latifúndio ? Mais calor, e com ele toda a multidão de fenômenos e de desgraças, muitas delas convenhamos pra lá de inconvenientes, que vêm nessa companhia !
           O leitor – que é meu companheiro nesta viagem no planeta Terra – terá já as suas dúvidas, que julgará fundadas ou não. Pois não é que a máxima ontem, dia 26 de dezembro, foi na cidade mui leal e heroica de São Sebastião do Rio de Janeiro  de 43,2 graus centígrados, a mais alta porventura registrada nesta cidade fundada por Estácio de Sá, e ainda por cima, com direito a sensação térmica de cinquenta graus !  50º  !  Isto é Saara, gente, e não o da rua da Alfândega e adjacências, mas aquele outro que ajudado por nós homens (e mulheres !) vai alargando a cada ano o seu sinistro abraço de secura e miséria através da Africa, com o prestimoso auxílio do Sahel, que é uma espécie de linha auxiliar da aridez, aquela profunda e inexorável.
           Poucos, muito poucos poderão dizer que estão fora dessa obra maldita. Se no Brasil até encontraram jeito de escorraçar Marina Silva, com seus dezenove milhões de votos, do Partido Verde, que ficou solidamente nas mãos dos que não têm carisma, e que estão contentes com o nicho seguro, embora estreito, construído pela própria esforçada mediocridade !
          Desde os tempos de Nosso Guia assistimos à progressão triunfante da vanguarda do atraso. Até o Ibama se tornou mais compreensivo, curvando-se aos maus humores e aos destampatórios de dona Dilma. Que faz muito medo aos pobres ministros, que tremem nas irrupções de suas grosserias. E, no entanto, acreditem: com toda a sua brabeza, a gente da chamada base de apoio – esse conglomerado costurado por Lula da Silva com os fios da ganância – não lhe dá a mínima e faz o que bem entende. O que – se de meio ambiente se trata – vale dizer o rolo compressor da infame tropa ruralista, que por onde passa faz desaparecer florestas, matas ciliares e tudo o mais que nos legaram os nossos maiores, os bandeirantes que tanto pavor infundiam à turma do oeste, que obedecia ao poderoso el-rei de Espanha !
         No tribunal do Meio Ambiente há falta de inocentes !  Os Estados Unidos continua na sua feliz trajetória de maior poluidor do planeta – com a China em seus calcanhares ! Na sua primeira posse, Barack Obama acenou depressa para a questão climática, para tratar de esquecê-la logo em seguida.Voltou a falar agora, mas fomos batizados por muitos convenientes esquecimentos para que possamos crer na sinceridade e sobretudo na firmeza do propósito.
        Porque o lado contrário, a tropa da negação burra, persistente e insidiosa está muito bem implantada. São os aproveitadores de sempre, aqueles que se lixam, não para a opinião pública, mas para o que supostamente virá depois. Não é que os irmãos Koch, os multibilionários petroleiros estadunidenses, depois de subvencionar tudo o que seja anti-clima e anti-homem, piedosamente reconheceram que, se Deus assim quiser, a postura da criatura humana poderá ficar deformada, curvada pelas agruras climáticas. Se assim for, o jeito é conformar-se.
        Esta organizada burrice, pode ter os seus triunfos – e ontem foi um deles, quando voltamos a gozar de calores senegalescos – mas que a sua entranhada má-fé, rica má-fé, que subvenciona até um bando de pseudo-cientistas que se proclamam negacionistas, não trará apenas no seus rastro maldito calenturas que podem acaso ser minoradas pelo ar-condicionado.
        A ignorância pode ser o melhor e o mais cruel dos remédios. Melhor, porque funciona como um leque  de antanho.  O refresco que proporciona é fugaz, passageiro, e vai sendo consumido pelo próprio empenho de quem o agita denodadamente.
        Atrás do ares condicionados e de toda a panóplia para manter o calor à distância está uma manutenção ineficiente, que não tem dinheiro para repor as peças, e que quando a crise ocorre, o seu remédio tem a ação atrasada pela nervosa incompetência e porque não dizer ignorância de técnicos mal-pagos e mal treinados.
        A atual presidenta – que parece querer transformar a nossa terra em gigantesca repartição pública – nos recordou profusamente dos apagões do tempo de FHC.  E agora, José ? Se ela não acabou, em que festa estamos ?
       Em obra conjunta, em que muitas mãos se atam felizes, de Santa Catarina para o norte da antes Hiléia Amazônica, para acabar com a pataquada das matas ciliares ! Os legisladores, inspirados pelo próprio adubo, dizem acreditar em barreiras de cinco metros, ao invés dos antes dispostos por mãe-natureza. Os poucos palmos de terra que a estupidez e a esperteza humanas lhe dizem proporcionar, o lavrador não tardará em ver que fez um mau negócio. Inundações, avalanches, terras perdidas por aquela falsa astúcia, que traz consigo miséria e regressão na escala humana.
      Os negacionistas – essa tropa em que tolos, estúpidos, gananciosos e burros se dão alegremente as mãos – podem olhar para trás, porque o seu legado, se é importante, ficará ainda muito maior.
      Depois de muitos anos de atraso, trouxemos esta marca do progresso para o Brasil, que é o Tornado, este furacão mirim, que deixa atrás dele casas destelhadas – quando não arrasadas – morte e sobretudo insegurança, quando a gente do campo – e mesmo da cidade – vê o próprio esforço decenal ser chupado pelos ventos quentes e, em seguida, espalhado inútil pelo chão.
      Os americanos não se perguntam porque os furacões – como Sandy ! – aparecem sempre mais coléricos e devastadores. Para quê ? Será comodo – como outrora – atribuir à divindade as desgraças climáticas. Fomos inclusive, especial cortesia do progresso, apresentados a outras, ainda mais assustadoras e que dão roteiros ótimos para películas de acidentes ditos naturais. Falo das tsunamis, de que nós outros não tínhamos ouvido falar até faz pouco, em que os primeiros brasileiros foram ceifados por essa vaga terrível, que é precedida de uma enorme sala de visitas, arranjado pelo mar que recua, para depois lançar com força inaudita sobre o tudo o que está à sua frente, inclusive usinas nucleares.
     E vejam só, como é previdente o nosso governo. Ao arrepio da Humanidade, a presidenta manta seguir a pleno vapor com Angra Três, escudada na nossa boa manutenção e talvez esquecida dos vastos recursos hídricos de que ainda dispomos como fonte energética !
     Mas não se inquiete, nem se aporrinhe caro leitor! Nesse barco da loucura climática – da inviabilização do grande Chico, o rio da nacionalidade, à operosa e sistemática devastação do nosso maior recurso natural, a Floresta Amazônica -  nós nos acreditamos na vanguarda e temos ainda muito a percorrer !
      E vai surgir a hora em que as temperaturas de ontem, em meio aos apagões sistêmicos, vão parecer um bálsamo, estranho é verdade, mas se o compararmos com o que vamos aprontar...

 
(Fonte subsidiária:  O Globo )    

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