Mais um escândalo em governo
de que deles não tem sido pobre. A bem, no entanto, da precisão que é
companheira da verdade, tais nódoas na Administração Dilma Rousseff se devem a
fatores exógenos, i.e., sendo sucessão dos dois mandatos de Luiz Inacio Lula da
Silva.
Tal se explica pela
circunstância de que Dilma foi eleita pelo especial empenho de seu chefe, que
com a própria autoridade obrigara o Partido dos Trabalhadores a indicáe-la e
apoiá-la. Não causa espécie, portanto, que a presença de Lula no novo governo
seja forte, tanto pelas confirmações, quanto por indicações específicas. Assim, no processo anterior, denominado de faxina, a ação da Presidente, forçando o pedido de demissão da autoridade sobre quem recaiam suspeitas de malfeitos, sempre foi a posteriori, atuando em função de revelações na imprensa ou de ações da Polícia Federal. Expostas as irregularidades, a Presidenta, sem tomar a iniciativa da exoneração, optou sempre pela alternativa, i.e., a parte envolvida se conscientizava da insustentabilidade política da respectiva posição e, em consequência, formulava o pedido de demissão.
Nos últimos tempos, no entanto, a dita faxina parece ter passado para o quarto de despejo. Tal se observou na Comissão de Ética da Presidência da República, em que o Ministro Sepúlveda Pertence preferiu exonerar-se, supostamente por falta de apoio presidencial no exercício de suas responsabilidades. Com efeito, o Ministro Fernando Pimentel, do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, foi mantido no cargo, a despeito de comissões recebidas de consultorias quando fora do governo, no que foi interpretado na imprensa como tratamento diferencial pela sua proximidade com a Presidente da República.
Desta feita, no entanto, em função da operação Porto Seguro da Polícia Federal, com a detenção dos principais membros do esquema de corrupção cosido à volta de Rosemary Noronha, a Presidente da República não esperou pela renúncia dos interessados. Todos foram exonerados prontamente. A única exceção foi o cuidado da Primeira Mandatária em que fosse levado – por Gilberto Carvalho – ao conhecimento prévio do Presidente Lula a exoneração de sua ex-secretária Rose do posto de chefe de gabinete da Presidência da República em São Paulo.
Catapultada pela dita operação, se metamorfoseia a relação da ex-secretária com Luiz Inacio Lula da Silva – segundo a imprensa a intimidade da ex-assessora com o ex-presidente teve início na década de 90. Dessarte, ela se transforma em novo escândalo, ou segundo a peculiar referência de Lula, em mais uma punhalada nas suas costas.
Ainda nos tempos da planície, ao ensejo das diversas tentativas malogradas de eleição, Rosemary foi, a princípio, secretária de José Dirceu, passando depois para a esfera do então candidato presidencial Lula da Silva.
Espalhafatosa e desenvolta, O Globo recorda a propósito a circunstância de cruzar aos gritos o saguão do Hotel Gloria, no ano de 1997, para ralhar com repórter que, sem dar-se conta, recolhera da mesa cópias das teses que seriam debatidas no partido.
Desde 2003, nomeada por Lula para trabalhar na Presidência da República, Rosemary fez 24 viagens ao exterior na comitiva presidencial. Sem embargo, a presença de Rose em tais deslocamentos dependia de uma condição: ela integraria a comitiva somente quando a então primeira-dama Marisa Letícia não acompanhasse o presidente. Nesse contexto, D. Marisa “jamais escondeu que não gostava da assessora do marido.”
No governo Lula, Rosemary Noronha interveio na designação de Paulo Vieira, como diretor da Agência Nacional de Águas (ANA). A sua especial força política seria no caso vincada pelas características inusitadas do processo de nomeação. Recusada pelo Senado Federal a mensagem de |Paulo Vieira, o obstáculo seria contornado, com a sua reiteração meses depois, logrando-se o objetivo da contestada nomeação.
Para Rose, a casa começou a cair com a surpreendente irrupção matinal dos agentes da P.F. em sua esfera doméstica. Acreditou então possível valer-se da intervenção do ex-chefe José Dirceu. Não demovida pela negativa deste, buscou in extremis o auxílio do Ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, que não atendeu ao telefonema.
Saída de baixo, Rose terá acaso acreditado que a hubris que a levara a destratar ministros e governador de estado, lhe permitiria igualmente acesso a providenciais e salvadoras intervenções ?
O futuro dirá se Rosemary Noronha aceitará compungida a queda da ficha, ou se ainda crê na milagrosa intervenção da cavalaria ligeira, como naqueles seriados do passado. Pesará para tal pessoa transportada para as altas esferas, descobrir-se de repente envolvida e arrastada por brutais lufadas de tempestuoso vento ?
( Fontes: O
Globo, Folha de S. Paulo )
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