Há compreensível expectativa nos Estados Unidos com a iminente visita de Xi Jinping, o atual Vice-Presidente da República Popular da China. O Senhor Xi deverá tornar-se o Secretário-Geral do Partido Comunista ainda em 2012 e, no começo de 2013, Presidente da RPC.
Já faz parte do ritual da sucessão em Beijing o recebimento no Salão Oval da Casa Branca. Foi assim com o inexpressivo e burocrático Hu Jintao, a que o Presidente George W. Bush acolheu. Nos chamados banhos de público, o contato oficial com o chefe da Superpotência se torna um must[1]. À medida que a distância entre os Estados Unidos e a China encolha, e se acerque a eventualidade de que esta a ultrapasse, tenderá a crescer não só o simbolismo do encontro, mas também a sua óbvia necessidade.
Depois da liderança de Deng Xiaoping, e diante do afastamento de Zhao Ziyang, em função do golpe palaciano do grupo conservador de Li Peng, e a consequente tragédia de Tiananmen, de junho de 1989, se institui governo em que os presidentes se sucedem em dois mandatos de cinco anos.
O caráter burocrático do regime foi mantido no período presidencial de Hu Jintao, que ora se aproxima de seu término. O vice-presidente Xi Jinping se prepara para sucedê-lo. Fala-se muito a respeito do Senhor Xi, assim como de seu pai, que foi perseguido na Revolução Cultural, e passou dezesseis anos em um gulag, versão chinesa.
O progenitor de Xi Jinping, reabilitado, preconizou reformas econômicas e teria discordado da violenta repressão da manifestação estudantil na Praça da Paz Celestial.
Todos esses antecedentes têm alimentado rumores sobre um viés progressista do novo líder chinês.
Se a agradável surpresa poderá ocorrer, o engessamento das estruturas partidárias, o poder acrescido de mega-empresas estatais, os seus aliados na direção do partido único, e os empecilhos do primeiro mandato quinquenal – que remeteriam as eventuais mudanças para os últimos cinco anos – tudo isso coloca grande interrogação nas perspectivas de Xi.
Não se ignora que os seus sete anos de trabalho de camponês em aldeia do norte da China, o terá brutalmente familiarizado com a pobreza e, talvez, com a necessidade de superar as injustas condições que a determinam. Quaisquer prognósticos nesse sentido seriam imprudentes, eis que o livro do homem, no discurso imprevisível da história, se compraz em alinhar comportamentos contraditórios.
A segunda potência econômica da Terra, se já atingiu resultados surpreendentes, enfrenta grandes desafios. Dentre os problemas, avulta a corrupção e a injustiça social, com a criação de novas classes favorecidas, assim como se enrijece o aparelho repressivo, tangido pelos eternos temores das ditaduras, a que se somam os ventos da Primavera Árabe.
Como oportunamente se assinala, não se deve esperar indícios ou sinais reveladores em suas conversas introdutórias com o Presidente dos Estados Unidos, Barack H. Obama. A exemplo de todo delfim, Xi Jinping deve trabalhar com o mistério e a discreção. Quiçá se entremostre algo na passagem por uma granja em Iowa, ou até em Los Angeles, na costa do Pacífico. Serão sombras, no entanto, que por ora não podem desenhar críveis indicações.
De qualquer forma, que se aglutinem em torno do senhor Xi tantas expectativas pode ser interpretado como um bom augúrio.
( Fonte: International Herald Tribune )
Um comentário:
A grandeza do império Chinês assusta porque sabemos, nas entrelinhas, que se sustenta na exploração refinada de mão de obra escrava.
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