Estávamos na desastrosa negociação com os republicanos para a elevação do teto da dívida pública, momento burocrático no passado, que foi instrumentalizado pela bancada do GOP na Câmara de Representantes, notadamente a ala do Tea Party, de que se prevaleceu o líder Eric Cantor (R-VA), nisso arrastando o moderado Speaker John Boenher (R-OH).
Talvez esse haja sido o pior momento para Obama, discursando para um punhado de fotógrafos no jardim da Casa Branca, ao ensejo de sua assinatura de um acordo que parte da bancada democrata se recusou a avalizar.
Desde então, em parte por cortesia do GOP, sobretudo na Câmara, que passa imagem de contínuas confrontações e de escassa propensão por soluções de interesse nacional, e igualmente por alguma melhoria na situação econômica, a partir de janeiro último, com novos 243 mil empregos – o segundo mês de ganhos acima do previsto -, com a queda do índice do desemprego para 8.3%, e o número total de desempregados baixando para 12.8 milhões, a curva das perspectivas tem inflexão positiva.
Para a reeleição do presidente, a história indica que, excetuado FDR durante a grande Depressão, nenhum primeiro mandatário logra um segundo mandato, em cenário recessivo da economia, sobretudo se com índice de desemprego acima de 8.8%. A despeito da circunstância de que não criou tal situação, ao cabo de quatro anos Obama será julgado pelas condições da economia. O fato de que a chamada Grande Recessão se deva à calamitosa gestão de George Bush júnior, no entendimento da opinião pública, a responsabilidade recai ora sobre o sucessor.
Daí, os sinais promissores pelos novos empregos e a queda no índice de desemprego, dadas as anteriores pessimistas previsões, que chegavam a apontar para patamares de 8.8% de desemprego em outubro/novembro, vale dizer às portas dos comícios presidenciais. Diante do viés negativo desse prognóstico – nenhum presidente em exercício, em tempos recentes, lograra reeleger-se com tais índices -, compreende-se o relativo maior otimismo no campo democrata.
No entanto, o peculiar estado da economia americana torna, de certa forma, o presidente refém das estatísticas mensais de criação de emprego e de desemprego produzidas pelo Bureau do Trabalho.
Embora não mais possa ambicionar aos totais do candidato da Esperança e da Mudança, Obama, em alguns aspectos, tem crescido no exercício de seu mandato. Não é mais ingênuo a crer na possibilidade do bipartidismo. Dessarte, tem confrontado os republicanos, evidenciando pouca vontade de transigir com o GOP na sua exigência de prorrogação da suspensão de impostos sobre a folha de pagamentos.
Diante do bloqueio pela bancada republicana do Senado de nomeações do interesse de sua Administração, tampouco tem hesitado em valer-se de designações durante o recesso congressual, como na do importante cargo de presidente do órgão de Proteção Financeira ao Consumidor.
Há um aspecto, contudo, cuja eventual ressurgência relembra a atitude do Barack Obama do primeiro biênio de seu mandato. Haja vista a melhora de seus índices de aprovação – supera, por um ou dois pontos, a de seu rival Mitt Romney, que malgrado as reviravoltas no GOP continua a ser visto como o provável antagonista em novembro -, Obama, e o seu grupo mais próximo, tem por vezes manifestado aquela húbris que fora singularmente castigada nas eleições intermediárias de 2010, através da reconhecida shellacking (tunda), que deu a maioria na Casa de Representantes aos radicais do Tea Party.
Em recente cerimônia na Casa Branca, estavam previstos dois oradores, Barack Obama e, em representação do clã Bush, o governador Jeb Bush. Despertou um pouco de estranheza que Obama depois de discursar, e sem esperar pela outra intervenção, tenha deixado o recinto, não obstante estivesse presente o 41º Presidente dos Estados Unidos, George H.W. Bush.
Não será através da arrogância e da consequente atitude de distanciamento, que Obama há de efetivamente progredir no respectivo propósito de evitar tornar-se presidente de um único mandato.
( Fonte: International Herald Tribune )
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