quinta-feira, 23 de fevereiro de 2012

A Doença de Hugo Chávez

                              
         O câncer é uma doença cujo tratamento tem registrado nas últimas décadas grandes progressos. Não está longe o tempo em que o anúncio dessa enfermidade já implicava em quase certeza de desfecho.
         Na Itália, por exemplo, a imprensa evitava citar nominalmente a palavra agourenta, limitando-se às mais das vezes a reportar que fulano ou sicrano sofria de mal incurável. Ninguém ignorava de o que se tratava, mas seja por caridade, seja por superstição, abstinha-se de designá-lo explicitamente. Seria quiçá maneira de mantê-lo à distância.
        Era exemplo de scaramanzia que o dicionário Zingarelli define como palavra, gesto ou sinal que, de acordo com a crença popular, livra as pessoas do mau olhado, ou as defende contra ele.  
       Posto que tal enfermidade continue a ser temida, a ciência médica tem feito muitos progressos no seu tratamento, tanto na prevenção, quanto na eventual cura, uma vez determinada a sua incipiente presença no organismo.
       Há inúmeros exemplos próximos do moderno êxito. A nossa presidente Dilma Rousseff é indicação nesse sentido. Por outro lado, o Brasil, em especial São Paulo e o Hospital Sírio-Libanês mostram os consideráveis avanços que a oncologia realiza em nossa terra.
      Prova disso são os tratamentos dispensados ao ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e ao Presidente Fernando Lugo, do Paraguai. Se a longa luta para salvar o Vice-Presidente José de Alencar não terminou bem, ela foi testemunho da coragem e da disposição do companheiro de chapa de Lula, assim como da perseverança das equipes médicas. No entanto, essa guerra, malgrado os progressos alcançados, longe está de ser vencida.
     Indicação disso é o caso do Presidente Hugo Chávez. Quiçá por desatenção, tenha descurado dos exames clínicos indispensáveis para desvelar os seus primeiros indícios.
    Sea doenca  atalhada  na primeira fase, o paciente tem probabilidade muito maior de sobrevida. Por motivos que não nos cabe indagar, tal não foi o caso do Presidente Chávez.  Tampouco acedeu em vir tratar-se no Sírio Libanês, o que seria garantia de atendimento de acordo com os melhores e mais adiantados nosocômios.
     O presidente venezuelano e seu entorno se habituaram a uma cultura do segredo, o que é inaceitável para os hospitais brasileiros. Como as suas descabidas exigências não foram aceitas, Chávez teve de entregar-se à medicina cubana.
     De certa maneira, voltamos ao passado, em termos de sigilo e de extremas precauções de segurança. Os romanos, uma vez mais, nos trazem a respeito amostra de irônico bom senso. Como se sabe, por dois mil anos convivem com o Papado, que é uma das poucas monarquias absolutas que restam no planeta Terra. E, nesse contexto, a propósito do mistério que sói cercar a enfermidade dos Sumos Pontífices, tem um dito que traduzido do saboroso romanesco ironicamente assevera: ‘O Papa goza ótima saúde até a sua morte’.[1]
      Terá sido essa inquietude cortesã, a quem apavora a perspectiva do passamento do soberano, pelo que prenuncia de incerteza e de tempos interessantes (no sentido chinês), que condiciona tal gênero de reação, que procura ocultar o que, em verdade, é inocultável.
      Em junho, Chávez revelou haver sido operado de um câncer. Ele anunciou que o mal tinha sido removido, não especificou o tipo de câncer (a prostactomia radical semelha o procedimento mais provável).
     Depois de anunciar a ‘cura’ em outubro, ora reaparece a doença. O Presidente a chama de ‘lesão’ - e no mesmo local anterior – e comunica a próxima operação, igualmente em Cuba.
     Henrique Capriles, seu adversário na vindoura eleição (distante de sete meses), deseja ‘operação bem-sucedida, rápida convalescença e uma longa vida’.
     A atitude da oposição se enquadra em tentativa de campanha civilizada, baseada não em questões pessoais, mas na discussão de problemas e de propostas no que concerne ao futuro da Venezuela.
      Parece a melhor estratégia, mas seria importante determinar se com ela concorda – ou pode concordar – o vasto campo que circunda o Presidente Hugo Chávez Frias.



( Fontes:  O Globo, CNN )

   



[1] Er Papa gode ottima salute finche muore.

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