terça-feira, 21 de fevereiro de 2012

O GOP, Santorum & Cia.

                            
        A corrida republicana, se não é um avanço inexorável de lemingues rumo ao previsível destino, forçoso será reconhecer que muito se esforça em parecê-lo.
        O incrível Rick Santorum reflete as contradições dessa campanha. Neste contexto, o Presidente Barack Obama que, segundo as prévias da CNN, voltou ao patamar dos 50% é acusado pelo atual lider das preferências republicanas de ‘empurrar os preços da gasolina para as alturas com a sua radical política ambientalista’.
        Para angariar o sufrágio dos eleitores conservadores, Santorum serve para os republicanos estórias feitas sob medida para  público que se supõe crédulo e de vistas limitadas. Para carregar nas tintas da demonização de  Obama, o atual vanguardeiro nas pesquisas do GOP lança as seguintes pérolas: a incompetente direção da política externa americana no Oriente Médio faz com a ‘tensão’ se reflita na alça dos preços do petróleo; existe ‘falta de reais provas científicas sobre o aquecimento global’; por isso, não se pode confundir ‘falsos estudos’ sobre a questão com ‘ciência climática’quando não passam de ‘ciência política’.
       Quiçá inebriado pelas súbitas alturas de sua aprovação nacional – as pesquisas ‘Gallup’ ora lhe dão, em todo o país, 36% contra os 26% do severamente conservador Mitt Romney – o antes ignorado Santorum se tem metido em terreno movediço. Assim, como católico da Opus Dei, veemente adversário da prática do aborto (e da sentença da Corte Suprema Roe v. Wade), o ex-Senador pela Pennsilvania se opõe a que a amniocentese[1] seja custeada pela Reforma sanitária (para os conservadores, esse teste está associado à prática do aborto).
      Outra observação de Santorum – na verdade insinuações quanto à ‘real teologia da crença de Obama’- foi definida pelo porta-voz da campanha do Presidente como ‘bem além dos limites’: a adesão de Obama a ‘algum falso ideal, falsa teologia’ que ‘não se baseia na Bíblia, mas em diversa teologia’.
     Por sua vez, o crescimento de Santorum  pode agravar a crise na pré-candidatura de Mitt Romney, o envergonhado moderado. O ex-governador de Massachusetts não conseguiu até o presente manter o desejado momentum (força inercial) para manter-se como vanguardeiro do pelotão de candidatos republicanos, o que seria do agrado do estamento do GOP, mas não de sua base militante, que desconfia da respectiva sinceridade.
     Por duas vezes – em New Hampshire e na Flórida – Romney deu mostras de que dominaria a corrida, para logo adiante decepcionar tais expectativas. A  campanha, malgrado as contribuições, não consegue que os vultosos fundos lhe assegurem a liderança. Assim, de acordo com dados da Comissão de Eleições Federais, queimou US$ 18.7 milhões em janeiro, restando-lhe US$ 7.7 milhões. Há no campo de Mitt o temor com eventual resultado negativo em Michigan (onde seu pai foi governador).
Um revés neste estado seria desastroso para ele, além de tirar-lhe de vez a aura de front runner (corredor dianteiro).
     Até seis de março, a denominada Super Terça-Feira (com primárias em dez estados e 437 delegados) há de encerrar essa fase da campanha. A 28 de fevereiro teremos Arizona e Michigan, a que precede um último debate televisivo nesta quarta-feira, entre os quatro republicanos restantes (Santorum, Romney, Gingrich e Ron Paul). O antigo Speaker, com 13% das preferências nacionais, e que disputa o ‘voto conservador’, enredou-se na admissão de que, se perdesse o estado onde nasceu (Georgia) veria a sua candidatura gravosamente (badly) enfraquecida. Ron Paul, o candidato libertário, é o lanterninha da disputa, com 11%. Embora não tenha chance aparente para a nomination, deve ir até a Convenção em Tampa, e tentar arrancar concessões na plataforma partidária.
      A corrida pela designação da candidatura oficial pode ser lida como um retrato sem retoque da fraqueza dos pré-candidatos republicanos. Nenhum deles conseguiu firmar-se até agora como líder inconteste. O representante dos sonhos da direção do GOP seria o milionário, ex-banqueiro de Wall Street, e ex-governador de Massachusetts. Persistem, entretanto, ainda muitas resistências contra a seu desígnio, espelhadas, de resto, por repetidas esquivas dos militantes em adotá-lo como campeão das ambições republicanas em negar a reeleição ao abominado presidente Barack Obama.
     Desse modo, a corrente alternativa para Tampa – a postulação do ultra-conservador Rick Santorum – é caminho arriscado para o estamento dirigente, eis que, selecionando um contendor fraco e vulnerável (semelha difícil visualizar os independentes – que costumam decidir as eleições – abraçando candidatura tão fora do main stream[2] como a de Santorum) se descobririam condenados à inelutável derrota. Não é à toa, aliás, que nenhum senador republicano (malgrado os seus longos anos de serviço na Câmara alta) haja até agora apoiado o ex-colega.
     Por enquanto, o tétrico (dismal) plantel republicano poderia ser entendido como aquele dos sonhos do Presidente Obama. O otimismo, sem embargo, não é bom conselheiro. Até a burrice, tem limites. E, por isso, com todos os seus defeitos, parece fora de propósito que o moderado Mitt Romney não consiga na Convenção da Flórida arrebatar por fim a nomination. Até há pouco, se alternava na dianteira das preferências com Obama. Quem há de dizer que uma arremetida final bem-concertada não endureça a partida e torne o resultado conclusivo imprevisível ? Afinal, a única democrata a superar em popularidade todos os republicanos tem sido Hillary Clinton, mas por força da campanha de 2008 as sortes já foram lançadas, ficando Barack Obama, para o bem e para o mal, como o candidato também para 2012.



( Fonte:  CNN )   



[1] retirada de líquido amniótico do abdome materno, um dos exames pré-natais que pode determinar a existência da síndrome de Down ou outros problemas no feto.
[2] curso principal.

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