Para que melhor compreendamos esse louco carrossel, verdadeira montanha russa em que a campanha no G.O.P. semelha comprazer-se, um rápido resumo na trajetória a partir dos caucus de Iowa talvez ajudasse.
No estado que dá a partida na luta das primárias, o primeiro resultado – que favorecia Mitt Romney – seria, posteriormente, desmentido pela recontagem. Dessarte, a apertada vitória do ex-governador de Massachusetts (por oito sufrágios!), na verdade não era dele, mas do ex-Senador pela Pennsilvania, Rick Santorum, por cerca de trinta votos.
Com isso, a suposta sequência inicial de triunfos de Mitt – eis que este venceria no estado de New Hampshire – na verdade não existira.
Por outro lado, a seguinte vitória de Newt Gingrich na Carolina do Sul – como candidato conservador investindo contra o campeão dos moderados em terra ultraconservadora – só contribuiria para mais baralhar a confusão no pelotão da frente.
Pelo caminho, foram ficando antigos favoritos. Assim, Herman Cain,Michele Bachmann e Rick Perry – este governador do Texas, que adentrara na campanha falando grosso, chegando até a ameaçar Ben Bernanke, do Federal Reserve Bank (o banco central americano), e que saía discretamente, recomendando aos seus ex-eleitores apoiarem o ex-Speaker Newt – abandonaram a competição, tangidos pela falência, tanto política, quanto financeira, das próprias tentativas.
De novo, repontou com o brilho do favoritismo Mitt Romney. Malgrado as alternativas dos demais – ora restritos a Newt Gingrich, Rick Santorum e Ron Paul – o moderado ex-governador (e bem sucedido banqueiro) mantinha estável o seu patamar de cerca 25% dos votos.
Posto que a sua rejeição pelos militantes partidários fosse substancial, o quarto potencial dos votos totais constituía um inegável estribo para a continuação de sua postulação, na obstinada perseguição de um relutante consenso no GOP que acabasse por conduzir a uma espécie de anti-escolha. Assim, Mitt, o não-amado pela maioria conservadora, terminaria empolgando a nomination, por falta de opção crível para enfrentar a besta-fera Barack Obama, em novembro próximo.
Mais uma vez, após as primárias da Flórida, e em seguida de Nevada, os moínhos da candidatura Romney pareciam promissores, e ele tornaria a ser ungido por muitos como o favorito para a designação pela Convenção em Tampa, na Flórida.De repente, as ameaças de Newt Gingrich, ao despencar o respectivo apoio, voltaram a parecer fanfarronadas.
A enésima reviravolta na corrida pela nomination aconteceu ontem, com as sólidas vitórias de Rick Santorum sobre Mitt nas primárias de Minnesota, Colorado e Missouri. Se esta última, por não ser vinculante, é apenas um risco de giz no quadro da competição, as outras trazem delegados e sobretudo alento para a postulação do conservador Santorum.
De novo, a liderança do pelotão republicano se esquiva de o que muitos pensam ser o candidato mais do que natural, em verdade inexorável do GOP. Se Newt venceu na Carolina do Sul na sua qualidade de anti-Mitt Romney, Santorum semelha reforçar-se pelo seu conservadorismo. Com efeito, ele pareceria mais representante do Partido Republicano do que o suposto eterno front-runner Romney, a que a maioria evangélica e conservadora do GOP rejeita seja pela sua moderação, seja pela sua confissão mórmon.
Rick Santorum não tem o quarto dos fundos de Gingrich, com seus escândalos, tanto financeiros, quanto conjugais. Espelha a direita republicana, que abomina o dito Obamacare (a reforma da saúde americana, talvez a maior realização de Obama e dos democratas, e obtusamente repelida pela oposição). A propósito, não se deve esquecer que uma qualidade de Romney – ter feito aprovar em seu estado de Massachusetts uma reforma da saúde que é muito similar à Lei de Assistência Médica votada exclusivamente pelos sufrágios do partido democrata – virou defeito para os singulares membros do GOP (malgrado o ‘arrependimento’ de Romney, renegando a reforma que fizera aprovar quando governador).
Como candidato, Santorum pode afigurar-se como aquele dos sonhos do Presidente Obama. De direita, é católico da Opus Dei, deseja anular a decisão histórica da Suprema Corte Roe v. Wade (que aprovou o aborto), e o seu extremo conservadorismo, se lhe aproveita em certas áreas, será anátema em outras.
Em termos de preferências nacionais, Rick Santorum, apesar do reforço ora recebido, ainda está em quarto lugar para a Casa Branca, atrás de Obama, Mitt e Newt.
Nessa louca corrida, a chamada Super-Terceira Feira (Super Tuesday), que congrega a seis de março cerca de 24 primárias e caucus e poderá avalizar ou não a pretensão de Rick, no que tange a Romney. Se o ex-Senador pela Pennsilvania suceder ao ex-Speaker Gingrich, como o campeão natural da direita conservadora, a designação no GOP ficará ou não à baila.
O que o futuro determinará, e será sancionado em Tampa, é o tipo de candidato que a militância republicana (e do minguante movimento Tea Party) deseja para o Grand Old Party[1]: se um genuino conservador ou se alguém com chance de derrotar o atual Presidente Barack Obama.
( Fonte: CNN )
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