Em recente artigo, o Prêmio Nobel Paul Krugman bem chamou de tétrico, sombrio (dismal) o grupo de candidatos à designação presidencial do Partido Republicano. Se é feliz a caracterização, forçoso será reconhecer que ela não só corresponde à realidade, senão reflite a atual situação no antigo partido de Lincoln. Hoje predomina no GOP a corrente ultradireitista e evangélica, a par do movimento do Tea Party, engendrado, entre outros, pelos bilionários petroleiros irmãos Koch, de acordo com raivosa tendência reacionária, anti-tudo que possa indicar algum progresso. Urdido por esses bons irmãos – que financiam o anti-ambientalismo, os candidatos da direita, e se associam alacremente nas contribuições ensejadas pela decisão da ‘sua’ Suprema Corte, a Citizens United, que permite todo o gênero de anônima subvenção a todo o tipo de ataque através da mídia contra quaisquer políticos que sejam reputados pouco confiáveis para os desígnios desta agitprop da extrema direita. Escusado dizer que a besta-fera de tal campanha é aquele senhor Barack Hussein Obama, que para eles, malgrado os certificados das autoridades competentes, é um infiltrado muçulmano nascido no Quênia.
As contínuas reviravoltas no campo de pretendentes republicanos refletem não só a incerteza dos militantes, mas também as fraquezas dos rivais na liça pela nomination. Assim, passaram pela dianteira a deputada Michele Bachmann, Herman Cain ( a versão afro-americana do executivo conservador), o próprio governador do Texas, Rick Perry (que chegara a ameaçar Ben Bernanke, o presidente da Federal Reserve, mas cuja garrafal ignorância administrativa lhe inviabilizou a postulação).
Os três acima, junto com um ex-governador de Utah, Jon Huntsman, já são cartas fora do baralho, pois abandonaram a disputa, tangidos pela falência das respectivas campanhas. Sem embargo, os restantes, por diversas razões, tampouco enchem as medidas do fremente, irrepresso desejo dos republicanos em lograr, de alguma forma, impedir o segundo mandato a Barack Obama.
Dessarte, o libertário Ron Paul, deputado pelo Texas, detém substancial apoio que pode carregá-lo até a Convenção em Tampa, e lá constranger a direção partidária a concessões para evitar a apresentação de chapa minoritária, o que sangraria o total de votos do candidato oficial. Não obstante, pelo radicalismo de suas posições (volta ao isolacionismo, anulação dos direitos civis, etc.) a sua candidatura não possui qualquer viabilidade.
Newt Gingrich, bom debatedor, possui um currículum com demasiados furos. A sua liderança no grupo, em função da vitória na primária da Carolina do Sul, foi efêmera, por força de suas anteriores fraquezas (seja no campo marital, seja no modo em que saíu do posto de Speaker da Câmara, a par de suas consultorias para a Freddie Mac).
Rick Santorum, o ex-Senador pela Pennsilvania, se pelo lado conjugal e familiar impressiona favoravelmente, a sua postura ultra-conservadora (católico membro da Opus Dei, visceralmente contrário ao aborto, inclusive nos casos de estupro, a crise climática é um embuste maquinado pela esquerda para dar ‘uma desculpa para ter maior controle sobre a vida da população’), se somada há de revelar que o senhor Santorum seria, no frigir das contas, um postulante assaz vulnerável.
É, por isso, expressivo da desorientação reinante nos domínios do GOP, que Santorum tenha logrado o seu recente triplo triunfo, e retenha ainda vantagem sobre o seu principal contendor, no cômputo de preferências para a eventual designação na Convenção de Tampa.
Por último, Mitt Romney, o ex-governador de Massachusetts, aquele que dispõe de maiores recursos, e que é considerado, tanto pela Casa Branca, quanto pelo estamento diretivo republicano, como o provável designado a candidato oficial partidário.
Romney, a julgar pelas avaliações na imprensa estadunidense, é tido como um ‘moderado’ em agremiação que, nos dias que correm, semelha ter um fraco por conservadores militantes, como Rick Santorum e até Newt Gingrich.
As avaliações de Romney partem sempre do núcleo de 25%, o que constitui, a um tempo, a sua força, e a sua fraqueza. Em situações favoráveis, como em New Hampshire e na Flórida, ele assume a liderança do pelotão. No entanto, a própria falta de coerência política, ou a sua grande mutabilidade, ou até mesmo supostos problemas de caráter induzam a que o eleitor das primárias alimente muitas reservas sobre os títulos republicanos de Mr Romney.
Ao contrário de seu pai, o governador de Michigan, George Romney, que era conhecido pela firmeza dos respectivos princípios, o filho Mitt não se assinala por comportamento político digamos retilíneo. A sua campanha (malograda) contra Ted Kennedy, ele a fundamentou no apoio ao aborto e à sentença da Suprema Corte Roe v.Wade; na sua governança em Massachusetts fez aprovar uma reforma sanitária que é, na prática, o modelo da atual Reforma da Assistência Sanitária, votada pelo Partido Democrata sem sequer um voto republicano, e sancionada por Obama. Malgrado o seu principal êxito no governo de Massachusetts haja sido tal reforma, ele a renegou na atual campanha, porque representaria um empecilho para a sua candidatura.
Por outro lado, talvez tenha herdado um pouco da incontinência paterna (que pela gafe de se haver declarado vítima de lavagem cerebral pelos generais teve de renunciar a postular a Casa Branca). Não é que Mitt já disse não se importar com os muito pobres, e se declarou um governador modelo de severidade conservadora ? Tais assertivas, no mínimo equívocas, lhe têm cobrado muitas explicações, que às vezes só redundam em afundar-se ainda mais.
Não surpreende, por conseguinte, que, em função da relativa melhoria no quadro econômico, na redução do número de desempregados, e em uma renovada e auspiciosa combatividade, o candidato democrata, Barack Obama, ostente no momento uma vantagem de seis pontos sobre o adversário republicano (Mitt Romney), além de haver atingido a marca de 50% das preferências totais, o que há muito não ocorria com o 44º Presidente.
É muito cedo para vaticínios, eis que os destinos desta eleição estarão muito dependentes das estatísticas do Departamento do Trabalho. Mas não há negar que a fraqueza dos postulantes republicanos constitua um ponto a favor da reeleição do presidente democrata.
( Fonte: International Herald Tribune )
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