Chávez: ficções administrativas
A nova operação em Cuba do Presidente Hugo Chávez, marcada para o início da próxima semana, não causará nenhuma transferência formal de governo. Esta é a versão oficial de problema que se pensa resolver através de uma não-solução. A decisão do presidente de continuar governando do exterior pode atender a disputas internas dentro do esquema de poder chavista, é uma postura artificial, que nada resolve.
A doença de Chávez repõe a velha questão dos caudilhos e dos ditadores. A possibilidade de sua falta deslancha uma luta interna dentre os grupelhos que dele se reclamam. É o combate dos sucessores – de que há tantos exemplos na história mundial – e que se caracteriza muita vez por feroz antagonismo nessas facções. A ponto de preferirem a estória da Carochinha de que o enfermo coronel governará o país até da sua mesa de operação em Havana, Cuba. Isto sem falar dos dias subsequentes, em que estará entubado e sedado, empenhado em diversa batalha, que terá mais a ver com a física sobrevivência, do que com pormenores de administração e de pública política. Contas Externas: Pior resultado em 65 anos
O turista brasileiro, nesta época de vacas magras nos EUA e na Europa, é recebido de braços abertos. Também, pudera. As nossas contas externas de janeiro fecharam no vermelho: US$ 7,1 bilhões !
O peso determinante, segundo o Banco Central, foram os gastos no exterior, especialmente nos Estados Unidos, de nossos viajantes, no total de US$ 2 bilhões.Consoante as autoridades, não há motivo de inquietação. O fluxo de recursos de fora continua a chegar, embora com uma diferença: no passado o investimento produtivo equilibrava o cômputo. Agora, o Banco Central tem de contar também com os financiamentos externos para empresas.
A distinção é clara. Nas inversões produtivas, o dinheiro vinha para ficar. Já no caso de financiamento, como todo empréstimo tem necessariamente o momento da volta.
De qualquer forma, dado o volume de reservas internacionais – US$ 354 bilhões em nossos cofres – haveria, segundo o mercado, muita gordura para queimar.
A pergunta inconveniente é: por quanto tempo, se o jogo financeiro continuar com as constantes acima ?
Bashar al-Assad continua a martelar a oposição em Homs. Não há nada, porém, de figurativo nisso. Esse martelamento se procede a tiros de artilharia pesada. A desfaçatez do tirano – após a recarga da respectiva confiança, por cortesia de uma aliança que não é santa, e que atende pelos nomes de Putin (Rússia) e Khamenei (Irã) - chega ao ponto de trucidar jornalistas nesta carnificina do povo sírio.
Nas duas primeiras semanas de fevereiro, após a saída da missão de observação da Liga Árabe, e a patética visita em carro blindado do Ministro russo Sergei Lavrov, o bom oftalmologista Bashar julgou adequado forçar a barra. Não é à toa que relatório apresentado por Paulo Sérgio Pinheiro – por fim um nome brasileiro a abraçar uma boa causa – reporta 787 pessoas abatidas. Tais violações, sempre conforme o relatório, decorrem de ‘política de Estado incentivada pelos mais altos níveis das Forças Armadas e do governo’.O que é mais grave para o senhor al-Assad é que haja mortes com retrato, nome e a profissão de informar. São as vítimas da mídia, que adentraram o cenário sanguinolento, e que pagaram o mais alto preço em termos existenciais: Marie Colvin, com um tapa-olho oriundo de outra missão proterva, de nacionalidade americana, e como correspondente do Sunday Times, de Londres; e um jovem fotógrafo francês, Rémi Ochlik.
Bashar al-Assad quer que o deixem massacrar os próprios nacionais, sem interferência alienígena. É a mesma anti-política em matéria de informação que esse paradigma do tratamento dos direitos humanos – o regime de Ahmadinejad e dos ayatollahs – aplica no que tange aos meios de comunicação.
Os que acompanham a CNN terão visto os corajosos jornalistas infiltrados na Síria, que se dispõem a arrostar grandes riscos para informar sobre as violações e os crimes contra a Humanidade do regime alauíta. Uma coisa é verberar tais ofensas das tribunas internacionais, outra coisa é noticiar da área conflagrada, sem quaisquer garantias de uma soldatesca que encara o jornalista estrangeiro como um cúmplice da oposição.
Enquanto a jornalista francesa Edith Bouvier apela para o governo sírio a deixe partir (ela precisa ter o fêmur operado), reúne-se na Tunísia (onde tudo começou pela auto-imolação de Muhamad Bouazizi) o Grupo de Amigos da Síria, que é alternativa diplomática para contornar o apoio das autocracias de China e Rússia a Bashar. A Secretária de Estado Hillary Clinton fará parte da reunião, e não se exclui que doravante a política ocidental se torne um pouco mais pró-ativa no particular, com a eventual distribuição de armas às frentes da oposição na Síria.
Para que tal alternativa apareça na mesa de negociações, a revolução síria deve agradecer à própria insana política do presidente Bashar, cujos procedimentos não deixam dúvidas de que julga factível a eliminação física em larga escala dos que porventura ousem contestar-lhe o mando.
( Fontes: O Globo, CNN, International Herald Tribune )
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