A Visita do Senhor Xi aos Estados Unidos
Conforme previsto, o senhor Xi Jinping, atual Vice-Presidente da República Popular da China, foi recebido no Salão Oval pelo Presidente Barack Obama. Xi, que tem 58 anos, deverá ser entronizado no próximo ano como Presidente, sucedendo a Hu Jintao.
Excluídos casos extremos, todo o novo chega cercado de promessas. Como referido em blog anterior, a situação chinesa, a despeito de crescimento a largas passadas no rumo do cobiçado primeiro lugar como economia mundial, tem em seu bojo inúmeras crises, algumas potenciais, outras nem tanto. Daí a esperança que pelo respectivo passado – que na infância e juventude não foi decerto fácil – Xi Jinping possa trazer sopro de renovação e de correção para o modelo chinês.
Se na parte política, os interesses são demasiado fortes e engessados, e eventual combate seria árduo e problemático, as crises estão aí subjacentes, com o trabalho nas usinas de produtos exportáveis a dar inveja aos tempos de Marx, dada a gigantesca mais-valia; a deformação do capitalismo ideado por Zhao Ziyang, ora transformado em capitalismo de estado, com a preponderância de megaempresas e de seus prepostos; a onipresente corrupção com todos os seus descendentes – expulsão de camponeses de suas terras, repressão social e sua aparentada política; nas finanças, um renminbi subvalorizado, com a missão específica de amontar enormes saldos mercantilistas, espalhar o descontentamento generalizado nos respectivos parceiros em que, a exemplo do Brasil, as suas mercadorias fecham fábricas e dissipam empregos.
Ao escrutinar a fisionomia de Xi Jinping, as autoridades , a um tempo solícitas, mas também inquisidoras, hão de se perguntar se não é demasiada carga para um só homem, e se tais tépidas esperanças, fundadas sobretudo na imagem da vítima da Revolução Cultural, se afirmarão, ao passarem pela prova de fogo de burocratizada presidência, e cerceada por múltiplos interesses que estão muito à cômodo com a inércia burocrática do inexpressivo antecessor Hu Jintao.
Nos Estados Unidos, a Superpotência que assiste o avanço na aparência inexorável da desafiante República Popular da China, Xi Jinping tem recebido nímias atenções, com a audiência ritual do Presidente Obama, e o anfitrião protocolar, o simpático Vice-Presidente Joe Biden. A par disso, a mídia observa Xi com os olhos que, outrora, os chamados kremlinologistas reservavam para os ungidos, havidos como prováveis sucessores da liderança no Politburo da defunta União Soviética.
Será talvez apenas nota de pé-de-página, mas o celebrado Senhor Xi, a julgar pela imprensa e demais orgãos de comunicação no Brasil, acaba de passar por Brasília, quase como se fora uma sombra. Despertou pouca atenção fora dos gabinetes e dos salões de Brasília, que ao presenciar a monótona corrente de visitantes oficiais semelha um pouco mais exigente na concessão de mesuras e espaços na mídia.
Venezuela: tentativa de intimidar a oposição
Há poucos dias das prévias que indicaram como candidato das oposições a Hugo Chávez o governador de Miranda, Henrique Capriles Radonski, o regime chavista mostra a sua verdadeira cara.
Ao invés dos agrados do caudilho, cancelando o seu programa televisivo no dia da consulta, a Suprema Corte venezuelana ora vem autorizar o confisco das listas de votantes que participaram das primárias de domingo.Malgrado o risível motivo apresentado – examinar as listas para investigar eventuais irregularidades -, a razão nua e crua tem a ver com a inquietude e consequente esforço oficial de intimidar os sufragantes nas prévias da oposição.
A tal respeito, líderes oposicionistas recordaram a publicação em 2003 e 2004 dos nomes de milhares de venezuelanos que se tinham manifestado em favor do ‘recall’ de Hugo Chávez. Muitos desses cidadãos sofreram posteriormente algum acosso de autoridades governamentais.
A ‘gentileza’ de marcar-lhes a oposição a Chávez fora feita por Luis Tascon, legislador da bancada governista, que postara os nomes no seu site na internet, sob o pretexto de que tivessem a oportunidade de verificar se a sua assinatura tinha sido forjada.
Quiçá o zelo chavista na tentativa de intimidação tenha sido exacerbado pelo vulto de votantes oposicionistas, mais de três milhões, o dobro do número apontado como provável.
Putin: a tevê mostra opositores!
A comovente unanimidade pró-Vladimir Putin das principais redes da televisão russa parece coisa do passado. Cientes do temor de muitos cidadãos com a possibilidade de mais seis anos pela frente – ou mesmo doze – de gospodin Putin como presidente, as três principais redes, nas últimas semanas que antecedem os comícios de quatro de março, vem dando surpreendente espaço a candidatos de oposição.
Se bem que o predomínio no horário reservado à eleição seja do candidato Putin, em várias tomadas que lhe enfatizam a alegada preocupação com a Rússia e seu povo (o primeiro ministro inspecionando fábricas, ralhando com burocratas indolentes, e adotando as medidas cabíveis com vistas à estabilidade e à prosperidade), ora surgem inserções acerca da apuração sobre as fraudes nas eleições legislativas, comícios anti-Putin e apresentações de candidatos da oposição. Habituado à exclusão da grande mídia, um dos convidados da NTV, evidenciou a própria surpresa em ter a oportunidade de atacar o governo e, em especial, Vladimir V. Putin em programa de audiência nacional: “É a primeira vez em cinco anos que apareço na NTV”.
Embora os prognósticos sejam ainda pela vitória do antigo funcionário da KGB, os ventos não mais sopram em seu favor com a força de antes. Por isso - e este é um comportamento que já vimos muito mais perto de nós – as principais redes tomam suas precauções. O noticiário continua com a prudente ênfase no situacionismo oficial, posto que agora condimentado com rápidas notícias e coberturas reservadas à oposição.
Não há de se alimentar ilusões com a preferência da grande mídia, mas escarmentada pelos multitudinários protestos resolve resguardar-se, se acaso o impensável venha a ocorrer.
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