A resolução da Liga Árabe, votada por dezenove estados, que impõe sanções à Siria de Bashar al-Assad representa um desenvolvimento importante no empenho internacional de solucionar de forma pacífica o atual enfrentamento entre o regime e o estado de sublevação civil que se espalha por todo o país.
Menosprezada no passado por sua incapacidade de sancionar países árabes, verificou-se já no que concerne ao levante líbico que a Liga Árabe, a instâncias de países como o Catar, assumira um papel mais pró-ativo.
O secretário-geral da Liga, Nabil el-Araby motivou a imposição das sanções pela negativa do regime alauíta em cooperar com a organização. Ao recusar-se Bashar a permitir a entrada de observadores no interior sírio, para monitorar o tratamento dado por seu governo a manifestações civis pacíficas, a Liga teve de passar para a fase de sanções.
São as seguintes as principais sanções da Liga: corta as relações dos países membros com o banco central sírio, proibe altos funcionários governamentais sírios a viajarem para os 19 estados que endossaram a medida, e congelaram os depósitos governamentais nos bancos árabes.
A lista dos 17 altos funcionários inclui o irmão de Bashar, Maher Hafez al-Assad, comandante da 4ª divisão blindada, o ministro da Defesa Emad Dawoud Abdulla, o Ministro do Interior Mohamed Ibrahim al Shaar, o chefe do serviço de inteligência Abdullah Fattah Quedsia, e o chefe da inteligência militar Rostom Ghazali.
Como se verifica, a previsível ênfase das sanções recai sobre os principais responsáveis na repressão das manifestações e protestos democráticos (pelo menos 3500 sírios foram trucidados pelas violentas ações de exército e destacamentos de segurança). Damasco, a capital, e Aleppo, a outra grande cidade, são os únicos centros em que as perturbações são bastante diminutas.
Além dos Estados Unidos e da União Europeia, a Turquia de Recip Erdogan tem assumido posição deveras contrária ao regime (nestas páginas foi reportada a advertência do premiê turco a Assad para que renuncie, a fim de não ter a mesma sorte de Muammar Kaddafi).
Importa ressaltar que Âncara também aplicará sanções econômicas e financeiras à Síria, na linha da Liga Árabe. Dentre as medidas, a suspensão de todas as transações comerciais e o congelamento de fundos ligados ao regime.
De conformidade com a mudança de sua posição na Terceira Comissão da Assembleia Geral das Nações Unidas, em que votara a favor da resolução condenatória, o Brasil apoiará no Conselho de Direitos Humanos, em Genebra, resolução que deverá responsabilizar o regime de Damasco por ‘crimes contra a Humanidade’.
O próprio Líbano, que não se associara aos dezenove da Liga, revela agora que também cumprirá as sanções. Já o governo dos Emirados Árabes Unidos anuncia que suspenderá, a partir da próxima semana, todos os voos para a Síria.
Não há negar que a imposição por tantos países, alguns dos quais como a Turquia a Síria mantinha intercâmbio importante, aperta o cerco em torno do regime alauíta de Bashar al-Assad. Por sua vez, o Irã – que enfrenta dificuldades de outra natureza, advindas de seu programa nuclear e balístico – já encetara algum distanciamento com o recente discurso do Líder Supremo Ali Khamenei. Enfrentando hoje graves problemas, muitos dos quais terá contribuído para acirrar, o Irã, malgrado as suas ligações com o Hezbollah, no Líbano e na Faixa de Gaza, não há de semelhar muito ansioso em atar-se a um barco, que principia a fazer água em muitas partes.
Quanto aos dois outros patrocinadores do regime sírio – a Federação Russa e a China – resta determinar se o seu eventual apoio remanescente terá condições de contrabalançar o cerco da Liga Árabe, dos Estados Unidos e da U.E. , o que se afiguraria, prima facie, em função do crescente desequilíbrio do suporte internacional ao campo sírio, demasiado oneroso para que seja provável.
É uma luta inglória que se estende por nove meses. O momento nada de bom pressagia para o sitiado regime de al-Assad. O próprio aut-aut [1]que lhe foi apresentado pela Liga tende a colocá-lo em qualquer hipótese em situação de precariedade. Se se dobrar às sanções da Liga, e abrir as fronteiras para permitir a inspeção no seu território do tratamento dado aos manifestantes, a decomposição do regime poderá acelerar-se, haja vista a impossibilidade de servir-se do fuzil, o único instrumento que tem assegurado a laboriosa permanência no poder de Bashar.
Se ao invés, o ditador persistir na linha atual de sangrenta repressão, circunstância que não lograria ocultar mesmo com sua proibição ao ingresso da mídia internacional, estariam criadas eventualmente as condições para solução não muito diversa na sua potencial violência da exibida pela Líbia no que tange a Kaddafi. A tal propósito, o déspota Bashar, a quem tanto irritou a comparação caricatural com o colega Muammar Kaddafi, estaria correndo risco ainda mais sério. A respeito, seria interessante que Bashar al-Assad considerasse com atenção a frase dita pelo Secretário-Geral da Liga, Nabil el-Araby : O regime sírio pode “evitar os perigos de uma intervenção estrangeira” se concordar com o plano da Liga em tornar menos agudo (defuse) o conflito.
A situação presente do filho de Hafez al-Assad recorda a peça do saudoso Vianinha, Se correr o bicho pega, se ficar o bicho come...
(Fonte subsidiária: CNN)
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