terça-feira, 6 de dezembro de 2011

Justiça e Democracia


                                         
A execução anunciada de Tariq Aziz
 

      Tarik Aziz, o hábil diplomata que serviu o regime de Sadam Hussein, como vice-primeiro ministro de 1981 a 2003, teve confirmada a execução, que se realizará em 2012, depois da partida definitiva do exército americano.
     A sua sentença de morte foi prolatada em outubro de 2010, pelo Alto Tribunal Iraquiano. Como Aziz não se envolveu em nenhum assassínio, ou qualquer outro ato de violência, a penalidade máxima teve por motivação o seu papel contrário aos partidos religiosos no país, durante o governo de Sadam Hussein.
    Tarik Aziz que é cristão, da velha seita caldaica, tem recebido uma tépida defesa seja do Vaticano, seja da Anistia Internacional.
     Padre Federico Lombardi, o porta-voz do Papa Bento XVI, assim se expressou:
Não é a maneira mais adequada para promover a reconciliação e a reconstrução de justiça e paz em um país que tem sofrido tanto’.
     Por sua vez, Malcolm Smart, diretor da Anistia Internacional para o Oriente Médio e a África do Norte em 2010, falou: ‘O poder de Saddam Hussein foi sinônimo de execuções, torturas e outras graves violações de direitos humanos, e é correto que aqueles que cometeram crimes sejam submetidos à justiça.Entretanto, é vital que a pena de morte, que é a extrema negação dos direitos humanos, nunca venha a ser empregada, não importa a gravidade do crime.’
    Para quem se entregou voluntariamente ao exército americano – que ora se retira e lava as mãos de o que vier a ocorrer-lhe – tais ‘defesas’ de Tarik Aziz soam sem maior empenho, tímidas, desfibradas. Os caldaicos são uma antiga seita, hoje perseguida e forçada ao exílio, quando não são queimados antes. Mas a Santa Sé não deveria esquecer que no singular ou no plural, eles continuam a merecer misericórdia.
    Por outro lado, o contorcido pleito da Anístia em prol de um condenado à morte dispensa comentários.
    Badi Arif, um dos advogados do condenado à morte,  mostrou  convicção e coragem. ‘Não esperava que o governo fosse tão estúpido. Fazendo isso, eles arrastarão o país até as bordas do abismo. Que reconciliação nacional é esta que o governo vem conclamando ? A posição do governo iraquiano ficará ainda mais fraca, se eles implementarem a sentença depois da saída das tropas americanas. Isto agravará o conflito entre as facções no Iraque.’


Tudo bem na Jordânia ?

     Não faz muito o Rei Abdullah II aconselhou o seu vizinho Bashar al-Assad a renunciar. Tais palavras, que se inserem no discurso de outros líderes, como o turco Recip Erdogan, dão a impressão de alguém que se sente seguro no respectivo trono. Manda o bom senso que não se fale de corda em casa de enforcado.
     Como se sabe, no apagar das luzes de seu longo reinado, Hussein deserdaria o seu filho mais velho, Hamza, em favor do caçula Abdullah.
      Este, no entanto, não tem sido muito hábil. Ao contrário do pai Hussein – testemunha do assassínio do avô, Rei Abdullah I, por um fanático – que sempre soubera cultivar a parcela beduína da população jordaniana, e por isso tal apoio nunca lhe faltou em horas difíceis – como Setembro Negro, com a tentativa palestina de destroná-lo.
      Abdullah, que ascendeu ao mando também jovem, mas sem o discernimento e o carisma do pai, casou-se com a palestina Rania (nascida no Kuwait), tem adotado diversas medidas que contrariam os interesses da população beduína. A par de manterem alguns postos importantes – como o controle do Mukhabarat (polícia secreta), que nas ditaduras e assemelhados é instrumento essencial de governo – os habitantes da margem oriental do Jordão, ao invés da antiga admiração, cultivam surdo ressentimento no que tange à figura real e às insensatas medidas que prejudicam o povo beduíno.
      Por enquanto, tal insatisfação ainda não se traduz em movimentos de massa, seja pela atitude palestina na margem ocidental, seja pela indisposição beduína de opor-se abertamente ao poder real. Mas os focos vão aparecendo e o que lhes falta em número, tendem a compensar em arrojo. Não é segredo que, nesse contexto, seja aventada a restauração do deserdado Hamza, fluente na língua arábica (ao contrário de Abdullah) e com a astúcia do pai Hussein.
     Não obstante, haja vista a própria crescente impopularidade, deveria atentar mais para a voz das ruas. Assim, valendo-se das ambiguidades árabes, manifestantes cantam o ‘S’ que pode tanto significar reforma, como derrubada (do regime). E os mais atrevidos, além de maltratar cartazes do rei, não se pejam em cantar: Oh Abdullah, filho de Hussein, Kaddafi já partiu, para onde vai o teu reino ?
     O Ocidente, e o próprio Ministro Winston Churchill, desenhara na areia do deserto a Transjordânia, para dar um país ao emir Hussein, da família Hachemita. Mais tarde, ainda a Grã-Bretanha formaria o Iraque para abrigar o clã Hachemita,  que o clã saudita, por meio de Abd al-Aziz Ibn Saud, imã wahabita,  havia expulso da Arábia e de seu posto como Emir dos Lugares Santos. Com o assassinato do rei Faiçal em 1958, a Jordânia seria o único país remanescente sob o mando dos hachemitas, que reivindicam descendência direta do Profeta.
     Tal continuidade depende agora não só da revolução árabe, mas da própria capacidade no mando do rei Abdullah II.


A Eleição da Duma do Tsar Vladimir    


      Ao Primeiro Ministro Vladimir Putin, cuja eleição a presidente no ano próximo é havida por muitos como favas contadas, não terá agradado sobremaneira a eleição para o parlamento russo (Duma) deste final de semana.
     Demonstrando ingratidão, o povo russo não votou maciçamente nos candidatos da dupla PutinMedvedev. Dessarte, da antiga maioria absoluta de 315 cadeiras na Câmara Baixa se foram 77.  Além disso, chovem as acusações de fraude eleitoral. Resta  determinar se tais práticas importarão na perda de mais assentos, o que dadas as condições da justiça na Rússia se afigura no mínimo contestável.
       Malgrado a baixa na popularidade – resultado das denúncias de corrupção, arrocho da mídia e inúmeras infrações contra os direitos humanos (que não se cingem apenas à agitada república federada da Tchetchênia) – semelha muito improvável que surja um candidato em condições de pôr em perigo a eleição de Putin em março próximo. Não se poderia, contudo, excluir tal eventualidade, sobretudo se ocorresse na sofrida Rússia algo similar à praga dos incêndios florestais, que o desprovido serviço público e as estradas vicinais abandonadas só contribuiram para tornar ainda mais sérios e destruidores. Tudo isso foi atribuído à prática nefanda da corrupção, prática esta de que felizmente está livre o nosso país, com a sua esmagadora arrecadação de impostos, tributos, taxas e vá lá o que seja, o que garante as alturas do impostômetro e a nossa bela colocação em termos de exação fazendária.
        No entanto, a experiente fraude – como explicar, v.g., que na Tchetchênia o partido Rússia Unida tenha arrebanhado 99,8% dos sufrágios ? – com os seus exageros compareceu em massa. Assim, houve regiões em que, para espanto geral, a soma total dos eleitores superou aquela dos aptos a votar, atingindo o invejável número de 140% do total. Por outro lado, a capacidade de reação do partido situacionista continuou a bater recordes: em Moscou, a duas horas do fechamento das urnas havia 27,5% votos para o Rússia Unida. E não é que nessa prorrogação a contagem passou a ser de 46,5% dos votos !

         

(Fontes:  CNN, New York Review, International Herald Tribune, O Globo )

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