A doze de novembro último a base de Bid Kaneh, em área vizinha à Teerã, explodiu. Pelas fotos de satélite, as instalações foram quase completamente arrasadas.
Segundo o noticiário, a base se destinava a desenvolver mísseis de longo alcance, movidos a combustível sólido. Esse tipo de míssil é tecnologicamente mais sofisticado do que o modelo a combustível líquido.
Uma vez dominada a tecnologia, tais mísseis podem ser lançados em um prazo assaz menor de tempo. A sua pronta operacionalidade os torna mais temíveis como deterrentes, não só por serem acionados dentro de uma janela de manejo mais simples e expedito, senão porque os combustíveis sólidos apresentam melhores condições de uso do que os modelos anteriores, a combustível líquido. Também superam os da fase pregressa para o transporte de sua letal ‘carga’, no caso a ogiva (warhead) seja nuclear ou não.
O artigo, publicado em página interna do International Herald Tribune, sem chamada de primeira página, assinala que “não está ainda claro o que causou a explosão, com funcionários estadunidenses dizendo que eles acreditam que foi provavelmente um acidente, talvez causado pela inexperiência do Irã com uma tecnologia volátil e perigosa.”
Não obstante tal asserção, o mesmo parágrafo é concluído da seguinte forma: “O Irã a declarou como um acidente, mas discussões subsequentes do episódio na mídia iraniana se reportaram ao chefe do programa missilístico iraniano como um dos ‘mártires’ mortos na grande explosão”.
O parágrafo seguinte obedece a este enfoque, e provavelmente se destina àqueles que, em temas do gênero, procuram ler nas entrelinhas: “Alguns funcionários iranianos falaram de sabotagem, mas não está claro se tal se baseia em provas ou em suposições depois de vários anos em que cientistas nucleares iranianos têm sido assassinados nas ruas de Teerã, e que um altamente sofisticado verme de computador (computer worm)[1] atacou as principais instalações de produção de urânio".
Ainda nesse enfoque que torna na prática transparentes as determinantes da explosão, são citados funcionários americanos e israelenses, que mostraram pouca curiosidade acerca de suas causas (sic): “Tudo que nos dê tempo e atrase o dia em que os iranianos estariam habilitados a montar uma arma nuclear em um míssil com boa capacidade de direção (accurate) já é uma pequena vitória.”
Nesses termos, a acrescida faculdade de deterrência (dada a sua pronta, quase imediata possibilidade de ser lançado) ganha pelo Irã, se acrescenta um ulterior motivo de inquietude para a Administração Obama, o de que os foguetes iranianos tenham alcance intercontinental. Tal circunstância está no centro da insistência dos Estados Unidos em dispor de novos sistemas de defesa anti-mísseis.
O temor de que tal possibilidade se concretize fez incrementar os esforços de vigilância em sítios suspeitos no Irã. Nesse sentido, Teerã tem acusado amiúde os Estados Unidos e Israel de espionagem e de sabotagem. No último domingo, o governo iraniano fez uma sinalização do gênero, ao reivindicar haver abatido um drone (avião teleguiado) RQ-170, no Irã oriental.
Se tal realmente houver ocorrido, significaria que o Irã teria conseguido pelo menos um acesso parcial a uma tecnologia americana altamente secreta. Esse tipo de drone stealth[2] já havia sido empregado na operação que levou à eliminação de Osama bin Laden, sem ser detectado pelos radares paquistaneses.
Dentro de uma vigilância incrementada do Irã, a área de segurança supunha que essa modalidade de drone vinha efetuando voos de reconhecimento naquele país.
Como se verifica pelas indicações acima, a destruição da base de Bid Kaneh pode haver resultado ou de acidente – o que inclusive já aconteceu em bases americanas com foguetes a combustível sólido – ou de explosão provocada, como, v.g., pelo acionamento de um míssil ar-terra, a partir de um drone. Outra possibilidade seria decorrente de ação de sabotagem.
Qualquer que seja a causa da destruição de Bid Kaneh, o projeto missilístico iraniano, com a morte de seu dirigente e de outros técnicos, além da perda praticamente total do equipamento na base, registra um grave acidente de percurso, implicando em atraso considerável para a sua colocação em funcionamento.
( Fonte: International Herald Tribune )
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