O Brasil faz parte dos Brics[1], festejadas potências emergentes, que desfilam na mídia com a flâmula propiciatória dos antecipados gigantes econômicos em processo de agregar-se aos Estados Unidos e à também condicional União Europeia.
Dentre os Brics, o Brasil se distingue pela homogeneidade étnica e linguística, por território ainda rico em florestas, hidrografia e aquíferos, por enquanto sem a presença de desertos, posto que, e não só no semi-árido, a tala indiscriminada e criminosa das matas e do cerrado já levantem em vários ambientes a indigência das savanas, e a praga das enchentes e das avalanches, com seus iterados rastros de destruição.
Não é aqui o lugar de ocupar-me dessa melancólica retirada das disparatadas, e quase sempre sinceras forças do ambientalismo, que não têm sido capazes de preservar o legado de nossos maiores, seja na defesa da riqueza sem igual no mundo da hiléia amazônica e do Pantanal, seja em outros locais com a malbaratação das riquezas espeleológicas, o radical desbaratamento das proteções contra as potências naturais ensandecidas pelo irresponsável aquecimento climático.
Como as avassaladoras legiões romanas, essa triste vanguarda do atraso vai acompanhada por mixórdia de demagogos, corruptos, gente cuja extrema voracidade lhes obscurece as vistas curtas, bem como das vivandeiras de sempre, laia timorata incapaz de cortar a palavra tanto dos estultos e ignorantes, quanto dessa espécie de marcada periculosidade, que é a dos burros dinâmicos.
Não faltam aqui carapuças. Que as tomem quem ainda tem vestígios de juizo, ombridade e respeito pelo meio ambiente, que recebemos da ingente empresa e trabalho de nossos antepassados. Já não partimos de um berço esplêndido. Por deplorável cortesia da Presidente que, ao não honrar compromisso de campanha, preferiu juntar seu nome e firma a um Código que não mais reflete os anseios dos que ambicionavam preservar o nosso maior recurso natural. Que ainda, a tal aleijume, por cálculos confessáveis ou não, haja associado o próprio nome sem o punhado de vetos que a sua Ministra do Meio Ambiente ousara sugerir não merece outra referência que o túrgido silêncio da raiva de todos nós, espectadores involuntários desta inominável espoliação.
Como se vê, o Brasil, aquele país do futuro do pobre Stefan Zweig, não está cuidando como devera do seu capital natural. Se não enfrentamos os problemas demográficos da Índia, as nacionalidades subjugadas mas não conformadas da China, a corrupção – pelo menos na sua extensão russa, arrostamos ainda diversos desafios.
Como o Ministro Rubens Ricupero tem assinalado em seus artigos, o nosso paradigma de crescimento não se despojou até agora do modelo das plantations, usinas no sentido nordestino de commodities, as matérias primas de sempre, aquelas com menores insumos de capital, e as mais vulneráveis à roda da fortuna das bolsas internacionais.
Se não é esquálido o nosso parque industrial – pois exibimos a cereja da Embraer, com os seus aviões de curto e médio alcance – o que dizer das feitorias da indústria automobilística ? Pois são estabelecimentos, sucursais na verdade, de empresas alienígenas. Não é culpa deste governo petista que o automóvel realmente nacional tenha saído de cena. No entanto, há de provocar estranhável assombro que nada seja feito para reverter tal situação. Dos principais Brics, somos os únicos a não dispor de indústria automobilística nacional.
Isto, seja dito de imediato, não é capricho ou cousa a ser desdenhada pelos estultos neoliberais. Cabe às feitorias produzir , ou melhor, montar aqui com as peças fabricadas por uma indústria nacional, mas economicamente submissa pelos ditames do monopsônio às especificações de suas únicas compradoras , não só para o respectivo lucro, mas para a célere transferência de lucros para as combalidas matrizes estrangeiras. E esse hediondo modelo de feitorias incha os cadernos dos jornais, consome nossas matas com as resmas de papel exigidas, para impingir, com desonerações fiscais dadas pelo governo, e promessas de facilidade creditícia, aos consumidores nacionais.
Não preside o fabrico dessas viaturas nenhuma preocupação de otimização tecnológica, e o governo se tem prestado a admitir que os critérios anti-poluição sejam postergados ou tratados de forma atrasada e insuficiente, dentro do paradigma das vendas para um país de là-bas[2], a exemplo do que se fazia com as antigas colônias.
Como muitos têm referido, o Brasil e seu governo se preparam mal para esta nova fase de desenvolvimento. Há muitas peias e entraves, dentro do modelo patrimonial vigente, a atrasar a nossa progressão e o que é muito pior, a nos empurrar para condições de todo insatisfatórias. Se o Brasil realmente quer tornar-se a grande potência que nossos próceres e antepassados afirmaram, em maviosa cacofonia de juízos, predições e vaticínios.
(a continuar)
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