quinta-feira, 29 de dezembro de 2011

Notícias do Front XXVII

                                    
A  Liga Árabe e a Oposição Síria

                 A Missão da Liga Árabe nos domínios de Bashar al-Assad é uma boa ideia, na medida em que o seu monitoramento da situação induza moderação de parte dos esbirros do ditador, contribuindo para salvar vidas.
                  Dada a mendacidade do regime, não creio que a visita da delegação possa ter efeitos mais permanentes. A vinda da Liga Árabe constitui, na verdade, uma espécie de tournée a vilas Potiomkin às avessas. Não há mais qualquer fundamento para que supostos inspetores ainda tenham dúvidas sobre a violência do regime e a repulsa que desperta em largas camadas do povo sírio. Assim, estamos diante de uma encenação: os carrascos suspendem durante a  visita as suas ações habituais, e a atribulada população, em desespero de causa, se presta a uma representação, na esperança de ganhar tempo e angariar mais apoio internacional.
                  Não obstante, em dois aspectos pelo menos, a Missão não se portou de forma a corresponder em requisitos mínimos o que se espera de uma delegação de observadores que tenha presente a razão primacial de sua presença na Síria: as graves tropelias contra os direitos humanos cometidas pelo déspota Bashar al-Assad e suas forças auxiliares.
                  Assim, em um primeiro episódio, a missão considerou possível que os democratas sírios lhe apresentassem as queixas respectivas quanto a sevícias e arbitrariedades do exército de Assad, sob as vistas dos seus carrascos. Uma tal atitude contraria regras básicas de missões de monitoramento, e só pode ser explicada seja por abissal negligência, ou, o que se afigura mais provável, por parcialidade e evidente má-fé.
                  A segunda prova que depõe contra os propósitos da missão está... na sua chefia. Foi indicado para encabeçar a delegação um general do regime do indiciado pelo T.P.I., Omar al-Bashir no Sudão. Trata-se do general Mohamed Ahmed  Mustafa al-Dabi, que chefiou na região de Darfur os serviços de inteligência militar.
                  Tal escolha foi considerada uma farsa por um grupo oposicionista sírio. Em site de comitê de coordenação da oposição em Damasco, foi feita a seguinte declaração: ‘A designação de al-Dabi mancha os esforços da Liga Árabe, e os caracteriza na realidade como uma farsa política, pouco ajudando e provocando muitos danos para a situação na Síria.’

                       
 Aumenta o medo da ditadura burocrática chinesa

                     Um anônimo juiz na província de Sichuan aplicou ao ativista Chen Wei, um dos mais proeminentes militantes pró-direitos humanos no Império do Meio, a pena de nove anos de prisão, em punição por escrever artigos que ousam acusar o Partido Comunista de ser uma ‘ditadura’e um ‘inimigo da democracia’.
                      Em outras palavras, por dizer a verdade, Chen Wei é mandado para a masmorra. Todos os regimes autoritários – sejam nazistas, fascistas ou comunistas – têm a mesma natureza. Por conseguinte,  no seu intrínseco e arraigado temor dos mensageiros da liberdade, os  esbirros, paus-mandados dos regimes imperantes,  não diferem dos juízes de regimes absolutistas do passado.
                    Na verdade, as tiranias têm natureza similar, sejam as suas potestades individuais ou coletivas, e se fundam na discriminatória repressão, que  deriva de um generalizado  medo.  Os regimes ditos fortes são na essência fracos e timoratos, eis que o dissenso em qualquer de seus avatares constitui para eles abominável ameaça. Desvelada a intrínseca fraqueza de sua base ideológica, os seus representantes e esbirros recorrem à violência, que com as suas adaptações idiossincráticas será sempre a expressão da intolerância obscurantista.
                    As ditaduras e os despotismos podem metamorfosear-se em diversas organizações, mas não hão de diferir na essência do autoritarismo. Por isso, a obra revolucionária do Marquês de Beccaria ‘Dos Delitos e das Penas’, escrita na segunda metade do século dezoito,que procurou trazer a modernidade para o mundo dos tribunais e dos cárceres da época, continua tristemente atual.


A Presidenta Dilma, o Ministro Pimentel e o Fim da Faxina
 
                    Em sua coluna semanal, o jornalista Ricardo Noblat se ocupa da recusa de Dilma Rousseff em desfazer-se dos serviços do amigo ministro Fernando Pimentel. Sem ter como justificar sua experiência como consultor de empresas – e os dois milhões embolsados em dois anos, via quatro contratos, três deles feitos de boca – o Ministro do Desenvolvimento chegou a sugerir à presidente que o mais sensato seria ir embora.
                    Noblat se pergunta se Dilma se deu conta da encrenca em que Pimentel se meteu. Desconhece, porventura, o peso político do caso, e o quanto ele será perseguido  pela história do consultor bem pago e dispensado de dar consultoria ?
                    Acaso ela não se dá conta que a sua frase “É um problema pessoal dele” não justifica a sua atitude, podendo apenas valer como lápide à faxina como programa de combate aos alegados malfeitos ?



( Fontes: CNN, International Herald Tribune, O Globo )        

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