Ontem à tarde já corria a nova de que o ministro Carlos Lupi não mais se aferrava à pasta do Trabalho. O pitoresco jornaleiro de Leonel Brizola, após longa resistência de 28 dias, resolvera abandonar o que julgava ser a boa luta.
Não sei se continuaremos a vê-lo monopolizar as inserções do PDT na propaganda política obrigatória, como se fora o único porta-voz dessa agremiação. É bem verdade que em tempos recentes terá abrandado a exclusão dos companheiros, que transformou em efígies com nome e breve dístico ilustrativo. Sem decerto desejá-lo, fazia lembrar a prática sugerida pelo Ministro da Justiça da ditadura, Armando Falcão, que restringira a propaganda eleitoral a mudos retratos dos candidatos.
De qualquer forma, até para o tenaz e infatigável presidente-licenciado do PDT teria ficado de bom tamanho. Assim, Dilma não mais terá a enésima conversa com o irrequieto e pertinaz ministro, em que ele se esforçaria quem sabe a apresentar sobre diversa luz o que para muitos não mais carecia de explicações ou outras luzes.
Na peculiar estatística ministerial do governo Dilma Rousseff, Lupi é o sexto ministro a cair, atingido por denúncias de corrupção. Se contarmos a outra demissão, a de Nelson Jobim – que tombou por falar demais – são sete ao todo os ministros que se foram – e o primeiro ano do reino de Dilma Rousseff ainda não terminou.
Como se esperassem na fila, os cabeçalhos dos jornalões a anunciar o ministerial tombo já repontam como peixes-piloto de outros infernos astrais. Não me reporto, apenas, ao tão falado Ministro das Cidades, Mario Negromonte – que, de certa maneira, está na gaveta das excelências com questões a explicar -, mas ao Ministro Fernando Pimentel que, pasmem, seria da própria quota presidencial.
Pimentel – que fora roçado pelo desaguisado dos dossiês, nas priscas eras da campanha eleitoral e das alegadas incursões contra o candidato José Serra – agora parece cair na rede das pingues ‘consultorias’, o mesmo gênero de atividade que tanto dissabor trouxera para o poderoso ministro da Casa Civil, Antonio Palocci.
Segundo pondera o Ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, na época ele não exercia cargo público e os alegados dois milhões de rendimentos nada tem de ilegal. A esse respeito, a Presidente Dilma Rousseff pede ao Ministro que se explique.
Se o leitor julgar que esse roteiro não tem nenhuma originalidade, ele certamente não estará muito longe da verdade. Porque as acusações – falsas até prova em contrário – contra os ministros do gabinete Rousseff primam por uma quase tediosa repetição. Não há negar que não se pode proibir ninguém do exercício de atividades lucrativas, posto que, por vezes, essa lucratividade semelhe um tanto fora da pauta do comum dos mortais.
Convenhamos que há uma certa monotonia nos ‘malfeitos’ dos dílmicos ministros. Não se entrevê muita creatividade. E não me reporto apenas às acusações, que seguem uma escala com poucas notas. Tampouco a defesa e as explanações trazem muita originalidade. A começar pela ritual convocação presidencial para a apresentação das razões respectivas. Que sóem ser aceitas de plano, só que nem sempre tenham prazo de validade mais longa. Pois surgem novas denúncias ou postulações, sem dúvidas ardilosas, mas também insistentes.
E como nos velhos mistérios medievais, há variações mínimas no enredo, que, para geral surpresa, não desagradam ao público, que os acompanha com a comovente atenção e o franco riso reservado aos anteriores.
É tal a repetição que assoma, incômoda, a pergunta se o problema estaria menos com os personagens, do que com o sistema. Quem sabe se o plantel ministerial fosse composto de outra maneira, com ênfase em antiquadas qualidades, correntes no passado, o resultado seria diverso, e se pouparia à nossa preparada e enérgica Presidente uma derrota mais segura, em mares mais calmos e quiçá mais propícios à atividade ministerial, que é a de assessorar o Chefe do Estado no trato dos assuntos públicos ? Talvez sejam questões vãs. Talvez. Mas não valeria a pena tentar ? Se mais não fosse, ganhar-se-ia precioso tempo gasto com tantas explicações, tantas idas e vindas, só não como no carnaval para terminar na quarta-feira, mas no sovado quadro de um novo ministro saído de um velho sistema ?
(Fonte subsidiária: O Globo)
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