terça-feira, 13 de dezembro de 2011

Dois Pesos e Duas Medidas

                              
      É tão gritante a diferença de tratamento para dois malfeitos no que tange a dois ministros do governo Dilma Rousseff atingidos pelas acusações de turno, que seria o caso de perguntar, parafraseando uma réplica famosa, se é a decência ou a memória que falta no caso.
     Não me refiro ao comportamento dos acusados da vez, porque é de costume que eles procurem se defender, negando de pés juntos que terão cometido algo de ilegal. Para Antonio Palocci, assim como para Fernando Pimentel, consultorias são atividades legais, que nada têm a ver com tráfico de influência, seja em função de funções passadas, ou de promissoras expectativas de colocações futuras.
    Creio que quem primeiro pôs o dedo na ferida quando à agressiva semelhança nas consultorias de Pimentel e Palocci foi o colunista Elio Gaspari. Por mais piruetas que desse o Ministro Pimentel, as diferenças na pertinente conduta entre o atual Ministro do Desenvolvimento e o antigo Chefe da Casa Civil só residem talvez no mais polpudo acervo entesourado por Palocci. Quanto ao mais, as consultorias, em termos legais e éticos são tão diversas quanto os gêmeos Twedledum e Twedledee de Alice no país das maravilhas.
    Não obstante os precedentes, a Presidente Dilma Rousseff tem neste novo capítulo de mais uma crise ministerial uma atitude marcadamente contrastante com a precedente. Antes assistira à questão de forma quase passiva, com tépidas manifestações de apoio ao ministro ameaçado. Tal conduta foi imitada – e acentuada – pelo PT, que se dissociou ,na prática, da vítima inicial.
     Alguma semelhança com a situação do Ministro Pimentel ? Além de levar o prestigiadíssimo ministro na comitiva a Buenos Aires, fez divulgar a sua eloquente manifestação – Resista ! - o que demonstra uma posição mais de facção, do que de imparcialidade.
      Sem embargo, pelas similitudes entre os dois episódios, as suspeições de tráfico de influência e a não-apresentação de comprovação dos serviços prestados por sua empresa de consultoria em 2009 e 2010, o comportamento oficial da sua Ministra de Relações Institucionais, Ideli Salvatti, e suas declarações após deixar reunião de coordenação política do governo, não subsistem dúvidas quanto à intenção presidencial de blindar o Ministro. Para tanto, ao invés de o Ministro Pimentel prestar ‘todos os esclarecimentos’, como prometera, o PT, a mando do Planalto, tratará de derrubar o requerimento da oposição no Senado, evitando que o Ministro do Desenvolvimento tenha de explicar os serviços que lhe renderam dois milhões de reais.
       E, no entanto, mesmo os episódios mais contraditórios e menos defensáveis, como é o caso da presente crise, tem serventia. Pois mostra que essa  faxina ética do governo Dilma Rousseff – no bom combate aos pundonorosamente rotulados malfeitos – é um exercício como antes se dizia para inglês ver, conduzido com alguma esperteza, mas pelo visto mui pouca convicção. E não é mau que a opinião pública saiba que a Presidente Dilma não é tão diferente assim de seu mestre, predecessor e criador. Surpreenderia, de resto,  se assim não fosse.        


( Fonte:  O Globo )

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