quarta-feira, 31 de agosto de 2011
Só Vergonha ?
A frase já se tornou um chavão, mas a reincidência da Câmara dos Deputados em comportamento não só corporativista, mas também antissocial, nessas votações tristemente anunciadas, por pregressos arreganhos e provocações. O incentivo ao crime é punido pela legislação, mas somente para os cidadãos comuns.
A votação da Câmara firma a seguinte doutrina: o crime anterior à diplomação não é reconhecido como motivo bastante para perda de mandato.
Nenhum flagrante de corrupção poderá superar a prova da recepção de propina de cinquenta mil reais, no esquema do mensalão do DEM. Não obstante, dos 451 deputados presentes, 265 votaram contra a cassação; 166 a favor; e 20 se abstiveram.
Ratos protegidos pelo voto secreto,pois há cinco anos dorme nas gavetas da Câmara projeto que acabaria com o sigilo nas votações relativas à cassação de mandato. Empilham-se já muitas razões inconfessáveis para mais esta afronta ao povo. Temerosos do perigoso precedente de que parlamentares venham a ser punidos por crimes anteriores à eleição, 285 deputados (pois as abstenções no caso são águas para os moinhos da corrupção) se pronunciaram pelo privilégio e o desrespeito às leis que se aplicam aos cidadãos comuns.
O retrospecto da Câmara baixa já avultava como indicação segura de o que ela produziria: desde 2005, dos 33 deputados processados por falta de decoro, somente quatro haviam perdido o mandato.
Mais este penoso e humilhante episódio produziu outra cena deplorável. Recordam-se da dança ensaiada pela alegre deputada Angela Guadagnin (PT-SP), para comemorar a não-cassação do colega João Magno (PT), em outra votação na contramão do sentimento nacional ? Se ela seria mais tarde castigada pelos eleitores, cabe indagar o que se reserva ao petista Candido Vaccarezza, que ostenta o título de líder do governo na Câmara dos Deputados. Pois Sua Excelência, de um partido que antes se notabilizara no repúdio à corrupção, julgou oportuno associar o governo da presidente Dilma Rousseff à espúria comemoração com a deputada Jaqueline Roriz (PMN-DF) por um tal resultado ?
Que orientação o Sr. Vaccarezza terá dado aos seus liderados na hipótese de que tenha alguma liderança – congratulando-se sorridente com a flagrada em crime de corrupção passiva e filha do ex-governador Joaquim Roriz (justamente aquele que em passado recente renunciara para evitar processo de cassação?).
A escritora Lillian Hellman, nos anos do macarthismo, falava do tempo dos patifes (scoundrel time), e da farra das denúncias ideológicas. Ora, com a Lei da Ficha Limpa desativada pelo voto de novel ministro do Supremo, e com outras ações dos políticos por ela ameaçados – entre as quais a sua suposta inconstitucionalidade – um outro valor se alevanta. Se prevalecer, as suas causas serão muitas, a começar pelo pouco cuidado do Executivo no processo de seleção dos juízes da Suprema Corte. De qualquer forma, a escrita em muros e paredes, pelos hediondos garranchos, não será bela coisa a contemplar. E nos indicará que a luta será longa, e o tempo afastado, em que resultados como o de ontem se afigurem impensáveis.
Dentro da Lei, a sociedade precisa reagir, para mostrar a essa grei, que agora semelha assanhar-se, que todo o infrator das boas práticas, e todo o governo que diz uma coisa e faz outra deve ser punido, como o colégio eleitoral castigou a deputada dançarina.
( Fonte: O Globo )
terça-feira, 30 de agosto de 2011
Enchendo a bolsa para enfrentar a recessão
Depois das estrepolias eleitoreiras do governo Lula, as perspectivas de superávit primário continuam bastante positivas, se os demais parceiros da Administração Dilma Rousseff continuarem a cooperar.
A boa notícia, dada pelo Ministro Guido Mantega, da Fazenda, é que deverá haver um aumento do superávit primário de R$ 10 bilhões, o que corresponde ao total de R$ 127,9 bilhões. Assinale-se que até julho último, já foi realizado o superávit de R$ 92 bilhões, o que deixa para o fim do ano a parcela restante de R$ 35,9 bilhões.
Devido ao aumento da arrecadação, a meta do superávit primário foi revista para mais, passando de R$ 117,9 bilhões ( 2,9% do PIB) para 127,9% bilhões (3,2% do PIB).
Daí esses dez bilhões de incremento. Como se sabe, o superávit primário é a diferença entre as receitas do governo e as despesas, antes do pagamento dos juros da dívida pública. Quanto maior o superávit primário – obviamente aquele obtido com o aumento da receita, sem malabarismos ou truques fiscais, conforme realizados no final dos anos Lula – mais diretamente lucra o país, com a redução do endividamento público.
Antes de ocuparmo-nos das perspectivas das boas intenções do governo Dilma Roussef, consoante ora apregoadas pelo Ministro Guido Mantega, semelha oportuno colocar dentro do contexto dos últimos anos a performance do superávit primário. A meta para 2011 passa a ser de 3,2%, melhorada da previsão anterior de 2,9% do PIB.
É oportuno de início frisar que a meta prevista não sói concretizar-se. Com efeito, se tivermos presente o período de 2008 ao presente, em nenhum destes anos anteriores, o anunciado foi realizado pelo governo. Dessarte, em 2008, se a meta foi de 3,8% do PIB, a realizada baixou para 3,42%; em 2009, à meta de 2,5% correspondeu um superávit de 2,03%; e em 2010, para os antecipados 3,1%, o realizado foi de 2,78 %.
Pelo cômputo acima, por conseguinte, se verifica que o Ministro da Fazenda apregoa uma meta de superávit primário de R$ 127, 9 bilhões (3,2%) que já é, de saída, inferior àquela realizada em 2008, com R$ 103,6 bilhões e 3,42% do PIB. Cumpre, a propósito, assinalar que se na progressão anual, aos totais previstos correspondem percentuais menores, tal se deve à elevação acumulada do PIB através dos anos.
De acordo com o raciocínio da Fazenda, o aumento do superávit primário se dá para impedir o aumento de gastos correntes e para abrir mais espaço para os investimentos subirem no país. Além disso, sempre segundo a ótica fazendária, viabilizaria a médio e longo prazos a redução da taxa de juros (se o Copom estiver de acordo).
Consoante a Presidente da República, o crescimento econômico deve ser prioridade, máxime em momento no qual o cenário internacional se estaria deteriorando, apontando para possível recessão na Europa e nos Estados Unidos.
Ao invés dos estímulos fiscais, implantados pela administração Lula – com a decorrente redução da arrecadação tributária – para Dilma o modo mais eficiente para garantir uma taxa de crescimento do PIB seria através da redução dos juros, e não de ulteriores estímulos fiscais.
O Ministro Mantega assegurou que o governo continuará trabalhando pelo cumprimento da meta plena neste ano de 2011 e em 2012. Assim, de janeiro a julho a economia de recursos para pagamento de juros somou R$ 92 bilhões, quase 72 % da nova meta, de R$ 127,9 bilhões. Mantega estima desnecessário recorrer aos truques contábeis, o que significa não abater os investimentos do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), entre outros.
Para os bons propósitos fiscais do Governo, a presidente conta com a colaboração do Congresso e aí é que entramos em zona de possível turbulência. O Presidente da Câmara, Marco Maia (PT-RS) não se tem mostrado muito interessado em colaborar com a administração. Nesse contexto, existe a emenda 29, que fixa os percentuais mínimos a serem gastos na Saúde por estados, municípios e a União; assim como, proposta de emenda constitucional (PEC) 300, que cria piso nacional para bombeiros e policiais.
Todos sabemos o quanto é importante melhorar o atendimento da saúde, assim como elevar as remunerações de bombeiros e policiais. O que se coloca é a oportunidade da aprovação de tais emendas em um quadro recessivo da economia mundial. A par disso, como a mídia tem demonstrado à saciedade, a melhoria na saúde depende e muito da extirpação da corrupção nos seus três níveis de atuação.
A respeito, parece interessante citar a política preconizada pela CUT, que se enquadra na palavra mais ( tal advérbio resumiria para sindicalista americano a essência das reivindicações operárias). Consoante declarou Artur Henrique, o presidente da Central Única dos Trabalhadores : “A CUT é contra o aumento do superávit e a favor da queda da taxa de juros”. Trocado em miúdos, isso redundaria em aumento da inflação, o que viria a atingir em primeira linha a classe trabalhadora.
( Fontes: O Globo e Folha de S. Paulo )
segunda-feira, 29 de agosto de 2011
Que Destino para o Governo Dilma Rousseff ?
No oitavo mês da Administração Dilma ainda se discute do formato que terá perante a opinião pública. O spin dos publicitários – em tradução livre, a versão retocada – pode ser uma, e a realidade outra. O que há de importar será a imagem que ficará na mente do eleitor, quando tempo suficiente houver transcorrido para que a sociedade civil chegue a uma conclusão. Decerto haverá visões contrastantes. A que interessa será aquela que se afirmar como a preponderante.
Dilma não desconhece qual o interesse da opinião pública. Traduzido em miúdos, que o governo funcione, e que a mais-valia dos impostos arrecadados se traduza em um retorno visível, que dê ao contribuinte a certeza de que o seu, o dele, o nosso dinheiro ser bem empregado, para ganho de toda a coletividade.
Portanto, a faxina é importante, ao afastar gestores pouco confiáveis, colocando à frente de tais órgãos gente honesta e competente, que evitará assim a perda de grande parte da receita do Estado. Em outras palavras, fechar o ralo da corrupção, esse duplo desperdício: a inútil sobrecarga da comunidade sem qualquer proveito para ela própria.
Ora, houve indicações pela propalada faxina de que seria este o desígnio da presidente Dilma. Ao invés de indicações políticas para a gestão dos fundos públicos, a designação de técnicos experientes e respeitáveis. Em função da impressão difundida de que seria este o real propósito do governo Dilma Rousseff, a resposta da opinião pública não se fez esperar.
Contudo, a distorção política está muito entranhada – os oito anos de Lula da Silva são disso demonstração evidente – e os representantes políticos da base não só esperam, mas pressupõem como de seu direito abancarem-se em tais cadeiras.
A consequência de política que privilegie a eficiência da administração pública, através da entrega dos cargos correspondentes a técnicos competentes e confiáveis, tenderá a reforçar a imagem de Dilma como governante e administradora – tanto mais que o bom emprego dos fundos públicos se traduzirá em melhores estradas, terminais portuários, aeroportos, assim como em mais saúde, educação e segurança (com a necessária fiscalização dos recursos passados para estados e municípios).
Haverá dificuldades na base aliada ? Mal-habituados, certamente, existirá reboliço e ranger de dentes. Mas não esqueça a Presidenta de onde vem o seu poder - não da união corporativista dos congressistas, mas do Povo. Assim, ao ver traduzir-se na rotina do dia-a-dia o compromisso ético da Chefe de Estado em um banho de realidade fornecido por recursos substanciais e não desviados para outros destinos que não o de interesse da coletividade, não haverá política alternativa que se sustente.
O governo não poderá sustentar-se em uma via de mão única, em que o assistencialismo se cinge apenas às classes menos favorecidas - o assistencialismo das bolsas-família e da campanha contra a miséria. O esforço conjunto da sociedade – traduzido pelo impostômetro – não pode ser política de caixa-preta, em que o contribuinte dá cerca de 40% de sua renda para os cofres da Viúva, a troco de um pífio retorno de estradas em condições lastimáveis, aeroportos com terminais terceiro-mundistas, de segurança entregue a Deus, com hospitais e escolas que só luzem nas vilas Poniatowski da propaganda oficialista... Em outras palavras, a sociedade não quer mais ser engodada pela oratória de Lula e reivindica ser tratada com respeito e seriedade, observados pelo governo os mesmos princípios que são cobrados de todos os cidadãos.
Dona Dilma, nos disse há pouco que isso não é Roma antiga. Como a alusão se afigura imprecisa, a ignorância então prevalece. Porque falar-se de Roma antiga para alguém com o nível cultural da Presidenta é reportar-se ao governo da Roma arcaica, a que aludi em blog anterior, em que os mores se caracterizavam pelas figuras de Cincinato e Regulus. Agora, se por Roma antiga Dilma Rousseff pretende referir-se à Roma imperial, com os seus panes et circences (pão e circo), então a sua administração não difere da precedente, e tudo fica no mesmo.
Como se há de convir, não é apenas uma questão semântica que se acha em baila. É o destino do governo Dilma Rousseff.
Dilma não desconhece qual o interesse da opinião pública. Traduzido em miúdos, que o governo funcione, e que a mais-valia dos impostos arrecadados se traduza em um retorno visível, que dê ao contribuinte a certeza de que o seu, o dele, o nosso dinheiro ser bem empregado, para ganho de toda a coletividade.
Portanto, a faxina é importante, ao afastar gestores pouco confiáveis, colocando à frente de tais órgãos gente honesta e competente, que evitará assim a perda de grande parte da receita do Estado. Em outras palavras, fechar o ralo da corrupção, esse duplo desperdício: a inútil sobrecarga da comunidade sem qualquer proveito para ela própria.
Ora, houve indicações pela propalada faxina de que seria este o desígnio da presidente Dilma. Ao invés de indicações políticas para a gestão dos fundos públicos, a designação de técnicos experientes e respeitáveis. Em função da impressão difundida de que seria este o real propósito do governo Dilma Rousseff, a resposta da opinião pública não se fez esperar.
Contudo, a distorção política está muito entranhada – os oito anos de Lula da Silva são disso demonstração evidente – e os representantes políticos da base não só esperam, mas pressupõem como de seu direito abancarem-se em tais cadeiras.
A consequência de política que privilegie a eficiência da administração pública, através da entrega dos cargos correspondentes a técnicos competentes e confiáveis, tenderá a reforçar a imagem de Dilma como governante e administradora – tanto mais que o bom emprego dos fundos públicos se traduzirá em melhores estradas, terminais portuários, aeroportos, assim como em mais saúde, educação e segurança (com a necessária fiscalização dos recursos passados para estados e municípios).
Haverá dificuldades na base aliada ? Mal-habituados, certamente, existirá reboliço e ranger de dentes. Mas não esqueça a Presidenta de onde vem o seu poder - não da união corporativista dos congressistas, mas do Povo. Assim, ao ver traduzir-se na rotina do dia-a-dia o compromisso ético da Chefe de Estado em um banho de realidade fornecido por recursos substanciais e não desviados para outros destinos que não o de interesse da coletividade, não haverá política alternativa que se sustente.
O governo não poderá sustentar-se em uma via de mão única, em que o assistencialismo se cinge apenas às classes menos favorecidas - o assistencialismo das bolsas-família e da campanha contra a miséria. O esforço conjunto da sociedade – traduzido pelo impostômetro – não pode ser política de caixa-preta, em que o contribuinte dá cerca de 40% de sua renda para os cofres da Viúva, a troco de um pífio retorno de estradas em condições lastimáveis, aeroportos com terminais terceiro-mundistas, de segurança entregue a Deus, com hospitais e escolas que só luzem nas vilas Poniatowski da propaganda oficialista... Em outras palavras, a sociedade não quer mais ser engodada pela oratória de Lula e reivindica ser tratada com respeito e seriedade, observados pelo governo os mesmos princípios que são cobrados de todos os cidadãos.
Dona Dilma, nos disse há pouco que isso não é Roma antiga. Como a alusão se afigura imprecisa, a ignorância então prevalece. Porque falar-se de Roma antiga para alguém com o nível cultural da Presidenta é reportar-se ao governo da Roma arcaica, a que aludi em blog anterior, em que os mores se caracterizavam pelas figuras de Cincinato e Regulus. Agora, se por Roma antiga Dilma Rousseff pretende referir-se à Roma imperial, com os seus panes et circences (pão e circo), então a sua administração não difere da precedente, e tudo fica no mesmo.
Como se há de convir, não é apenas uma questão semântica que se acha em baila. É o destino do governo Dilma Rousseff.
domingo, 28 de agosto de 2011
Colcha de Retalhos XC
O Brasil é ainda um país católico ?
O economista Marcelo Neri (FGV) realizou estudo sobre a situação das religiões no Brasil. Para tanto, Neri se fundamentou nos dados levantados pela Pesquisa de Orçamentos Familiares (POF) do IBGE para assinalar a queda de 2003 a 2009 na proporção de brasileiros que se professam católicos. A inflexão nessa proporção passou de 74% a 68%.
Por sua vez, houve redução no ritmo de crescimento dos evangélicos pentecostais (Assembleia de Deus, Universal do Reino de Deus, Congregação Cristã do Brasil), que variou, no mesmo período, de 12,5% para 12,8% do total da população. Assim, a POF indica que os pentecostais que, na década de noventa, praticamente dobraram de proporção, ora registram nível bastante inferior de crescimento.
Somente quando forem divulgados os dados do Censo de 2010 do IBGE, no que tange à religião, é que se poderá determinar com maior exatidão a tendência da década passada. Nesse aspecto, o quadro atual do Brasil, em termos de concentração de católicos por estado, exibe a tendência regressiva do catolicismo em nosso país.
Dos católicos, a maior parte do país (12 estados), inclusive São Paulo, Rio Grande do Sul e Paraná, está na faixa dos 63-72 %; os dois únicos estados de faixa entre 81 e 90% são o Ceará e Piauí; os 7 estados entre 72 e 81% incluem Minas Gerais, Maranhão e Santa Catarina; o Espírito Santo e o Distrito Federal estão na faixa 54 a 63%; e, por fim, Roraima, Acre, Rondônia e Rio de Janeiro, estão entre 45 e 54%. A esse propósito, o Rio de Janeiro tem a segunda menor proporção de católicos no país, com 49,8%. A menor está com Roraima (47%).
Esta retração do catolicismo no Brasil é um fenômeno geral na América Latina.
Desde o tempo em que o surgimento dos evangélicos pentecostais era alocado à difusão das chamadas seitas, o estamento católico tem encarado com preocupação a correspondente regressão do número de católicos.
A elevação do número de evangélicos no Brasil e na América Central se acentua a partir do final do século vinte, notadamente nas duas últimas décadas. Consoante assinalado por estudos de prelados, em tal incremento haveria a participação estadunidense, inclusive da administração de Ronald Reagan. O influxo evangélico na América Central, máxime na Guatemala, terá contribuído para a descaracterização (e eventual desaparecimento) de antigas práticas que conviviam com o catolicismo. Por outro lado, dada a simbiose de catolicismo com as populações nacionais e indígenas, o enfraquecimento da religião nacional em favor das seitas evangélicas implicaria em menor politização da população, na medida em que os evangélicos tendem a ter menor participação política do que os católicos.
Nesse contexto, estudiosos interpretariam essa transformação induzida – aumento da população crente ou evangélica – como medida política de longo prazo, alegadamente favorecida pelo governo republicano (e evangélico) de R. Reagan, para assegurar postura latino-americana mais consentânea com a ideologia estadunidense.
Além da influência de tais agentes políticos – o que careceria de estudos mais aprofundados para a sua conformação – o crescimento exponencial das denominações evangélicas ( as igrejas protestantes tradicionais, v.g. batistas, episcopais, luteranas, presbiterianas, se mantiveram estáveis) acelerado pelo abandono de católicos, sobretudo nas classes B, C e D, se deveria a outros fatores. O agressivo proselitismo teve o impulso suplementar de hierarquia católica marcada por pontificados conservadores (João Paulo II e o atual Bento XVI). O grande teólogo alemão Karl Rahner definiria a visão teológica propugnada por Papa Wojtyla, como o inverno na igreja, dada a disparidade com a época conciliar, trazida pelo Papa João XXIII (1958-1963), e secundada, posto que com menor ênfase, pelo Papa Paulo VI (1963-1978). Infelizmente, o Papa João Paulo I, dado o caráter efêmero de seu pontificado (apenas trinta dias em 1978), não poderia traduzir as suas manifestas intenções no que pressagiaram as respectivas declarações.
O aulicismo de parte da hierarquia contribuíu para a falta de reações apropriadas para os novos desafios. A par da perseguição aos adeptos da teoria da libertação – de que o atual pontífice, então prefeito da Congregação para a Doutrina da Fé (o ex-Santo Ofício) foi um encarniçado promotor – a pouca sintonia da igreja sob Wojtyla pode ser epitomizada pela substituição de D. Helder Câmara por D. José Cardoso Sobrinho, que marcou a sua missão pela desestruturação de toda a obra pastoral de D. Hélder.
O predomínio da orientação conservadora na Igreja não se manifesta, apenas, nas designações para a cúria e as sedes episcopais. Ao contrário da rápida tramitação de beatificações e canonizações de servos de Deus caros à linha do atual Pontífice – a rapidíssima elevação aos altares de Karol Wojtyla é disso exemplo eloquente – a beatificação de Papa Roncalli tardou 37 anos, quase obedecendo ao meio século que me indicara o Cardeal Corrado Bafile. Por outro lado, tampouco semelha haver pressa para a canonização de João XXIII, cognominado ‘il Papa Buono’. Serão acaso empecilhos para torná-lo oficialmente santo, ele que já desde muito goza de inconteste fama de santidade, o largo culto devotado ao Papa do Concílio, os milagres realizados, a par de sua importância como o grande pontífice renovador da Igreja ? Pelo visto, João XXIII, morto desde 3 de junho de 1963, ainda desperta temores e resistências, logo ele que em vida somente cuidara de o que unia e congregava. Reativando como pontífice o que sempre fizera, abriu as janelas da Igreja para a renovação com o Concílio Vaticano II, lançou os diálogos de reconciliação com os judeus e ecumênico com os irmãos separados. Nunca a morte de um papa terá despertado pesar tão amplo e geral, congregando não só católicos, ortodoxos, protestantes e judeus, mas também os muçulmanos e budistas, crentes e não-crentes, todos irmanados no respeito devotado àquele mensageiro da paz entre os homens. Na obediência e na paz Angelo Giuseppe Roncalli soube congregá-los em vida. A presente hierarquia poderia através deste ato singelo pensar grande e imitar-lhe o exemplo. Para voltar a ser relevante em um mundo no qual o Papa do Concílio continuará sempre atual como fator de paz e de união.
O que esperar de um ditador ?
Pouco importa se foi movimento autônomo ou lição encomendada. A ação dos capangas ou partidários de Bashar al-Assad foi previsível na sua covarde brutalidade.
O ataque contra o caricaturista Ali Farzat mostra o que têm de risível as muitas promessas de abertura feitas pelo déspota sírio.
A intolerância é apanágio dos chamados regimes fortes. Na estúpida e automática reação contra qualquer forma de crítica, eles desvelam a sua inerente fraqueza. A violência será sempre a marca registrada das ditaduras. Na verdade, os tiranos só conhecem uma linguagem, que é a da força. Todos eles se assemelham, e o comportamento de Kaddafi, por mais patético que se afigure, se pautou sempre pela crueldade e a intolerância, enquanto o poder lhe restou nas mãos.
Por isso, a comparação do desenho de Ali Farzat entre o ditador sírio, ainda em função, e o decaído líder da Jamairiya terá parecido ao esbirros de al-Assad, duplamente ofensivo, primeiro por gritar que o rei está nu, e segundo por predizer-lhe a vindoura sorte.
Pouco importa para tais broncos, que Ali Farzat se sirva apenas de alguns traços no papel, ao desenhar Bashar a tomar carona no carro de Kaddafi. Foi o bastante para que homens embuçados o raptassem, o batessem e não sem antes quebrar-lhe os ossos da mão havida como indigna e ofensiva o jogassem inconsciente em alguma ruela de Damasco.
O rosto intumescido e as mãos enfaixadas de Ali Farzat refletem a realidade dos acenos do ditador, cercado pelos aplausos dos cortesãos. Nisto são todos iguais: por trás do sorriso congelado, se podem nele entrever todos as tropelias, sevícias, e atentados que bem lhe refletem a natureza e a ínsita debilidade.
Pode-se esperar algo do Federal Reserve ?
Na verdade, a pergunta se deveria dirigir a Ben Bernanke, mas há outros atores em cena, o que tende a enfarruscar o horizonte. O economista Prêmio Nobel Paul Krugman se mostra descrente – ficaria muito surpreso se o chairman do Fed ‘propusesse qualquer coisa significativa’.
No entanto, em seu discurso em Jackson Hole, o presidente do Fed disse que a batalha política deste verão quanto ao endividamento e os dispêndios do Governo dos Estados Unidos havia desorganizado (disrupted) os mercados financeiros “e provavelmente também a economia”.
Bernanke sugeriu que o processo político em si estava quebrado. “O país ficaria mais bem servido por um processo melhor para tomar decisões fiscais”. Sem embargo, Ben Bernanke deu poucas indicações de que o Fed daria mais estímulos monetários para contrabalançar os efeitos nocivos da política fiscal sobre uma fraca economia americana.
Por que Krugman descrê de uma atitude mais proativa de Bernanke ? O colunista cita uma série de propostas do economista Ben Bernanke no ano 2000, voltadas para uma política no ‘limite inferior zero’. Se o foco do artigo era o Japão, no entender de Krugman os Estados Unidos se acham agora em armadilha muito similar à japonesa, só que mais aguda.
A previsão de Krugman é que, intimidado por Rick Perry (o governador do Texas, e pré-candidato à Presidência pelo GOP, que ameaçou em recente discurso o chefe do Fed), Bernanke nada faça, agindo como um simples observador, enquanto a economia continua estagnada.
Semelha bastante penoso reconhecer que uma crise desta magnitude visite os Estados Unidos e se depare com personagens que até o momento não parecem crescer diante do desafio. Sem falar da irresponsabilidade dos líderes republicanos, que se serviram do seu controle de uma das Câmaras do Congresso para extorquir concessões políticas do receituário do Tea Party, sem atentar para o interesse nacional, a imagem do Presidente Barack Obama tampouco evidencia a coragem da liderança.
Apesar de ter elementos legais para atalhar a chantagem do G.O.P. – como o próprio antecessor Bill Clinton lhe recomendou – Obama preferiu renegar as teses partidárias e se apresentar nas patéticas vestes do centrismo. Anteriormente, quando dispunha de maioria em ambas as Casas, não empolgou a oportunidade para criar mais opções de emprego para a economia americana.
No quadro atual, os que não têm juízo agem como se o tivessem. E aqueles que são presumidos tê-lo, se apequenam e julgam mais oportuno agir de forma timorata.
O desfecho de tais comportamentos é uma triste repetição de tragédias anteriores. Só resta a esperança de que os fracos se tornem fortes, e desmintam os maus presságios...
( Fontes: Folha de S. Paulo, CNN, International Herald Tribune)
O economista Marcelo Neri (FGV) realizou estudo sobre a situação das religiões no Brasil. Para tanto, Neri se fundamentou nos dados levantados pela Pesquisa de Orçamentos Familiares (POF) do IBGE para assinalar a queda de 2003 a 2009 na proporção de brasileiros que se professam católicos. A inflexão nessa proporção passou de 74% a 68%.
Por sua vez, houve redução no ritmo de crescimento dos evangélicos pentecostais (Assembleia de Deus, Universal do Reino de Deus, Congregação Cristã do Brasil), que variou, no mesmo período, de 12,5% para 12,8% do total da população. Assim, a POF indica que os pentecostais que, na década de noventa, praticamente dobraram de proporção, ora registram nível bastante inferior de crescimento.
Somente quando forem divulgados os dados do Censo de 2010 do IBGE, no que tange à religião, é que se poderá determinar com maior exatidão a tendência da década passada. Nesse aspecto, o quadro atual do Brasil, em termos de concentração de católicos por estado, exibe a tendência regressiva do catolicismo em nosso país.
Dos católicos, a maior parte do país (12 estados), inclusive São Paulo, Rio Grande do Sul e Paraná, está na faixa dos 63-72 %; os dois únicos estados de faixa entre 81 e 90% são o Ceará e Piauí; os 7 estados entre 72 e 81% incluem Minas Gerais, Maranhão e Santa Catarina; o Espírito Santo e o Distrito Federal estão na faixa 54 a 63%; e, por fim, Roraima, Acre, Rondônia e Rio de Janeiro, estão entre 45 e 54%. A esse propósito, o Rio de Janeiro tem a segunda menor proporção de católicos no país, com 49,8%. A menor está com Roraima (47%).
Esta retração do catolicismo no Brasil é um fenômeno geral na América Latina.
Desde o tempo em que o surgimento dos evangélicos pentecostais era alocado à difusão das chamadas seitas, o estamento católico tem encarado com preocupação a correspondente regressão do número de católicos.
A elevação do número de evangélicos no Brasil e na América Central se acentua a partir do final do século vinte, notadamente nas duas últimas décadas. Consoante assinalado por estudos de prelados, em tal incremento haveria a participação estadunidense, inclusive da administração de Ronald Reagan. O influxo evangélico na América Central, máxime na Guatemala, terá contribuído para a descaracterização (e eventual desaparecimento) de antigas práticas que conviviam com o catolicismo. Por outro lado, dada a simbiose de catolicismo com as populações nacionais e indígenas, o enfraquecimento da religião nacional em favor das seitas evangélicas implicaria em menor politização da população, na medida em que os evangélicos tendem a ter menor participação política do que os católicos.
Nesse contexto, estudiosos interpretariam essa transformação induzida – aumento da população crente ou evangélica – como medida política de longo prazo, alegadamente favorecida pelo governo republicano (e evangélico) de R. Reagan, para assegurar postura latino-americana mais consentânea com a ideologia estadunidense.
Além da influência de tais agentes políticos – o que careceria de estudos mais aprofundados para a sua conformação – o crescimento exponencial das denominações evangélicas ( as igrejas protestantes tradicionais, v.g. batistas, episcopais, luteranas, presbiterianas, se mantiveram estáveis) acelerado pelo abandono de católicos, sobretudo nas classes B, C e D, se deveria a outros fatores. O agressivo proselitismo teve o impulso suplementar de hierarquia católica marcada por pontificados conservadores (João Paulo II e o atual Bento XVI). O grande teólogo alemão Karl Rahner definiria a visão teológica propugnada por Papa Wojtyla, como o inverno na igreja, dada a disparidade com a época conciliar, trazida pelo Papa João XXIII (1958-1963), e secundada, posto que com menor ênfase, pelo Papa Paulo VI (1963-1978). Infelizmente, o Papa João Paulo I, dado o caráter efêmero de seu pontificado (apenas trinta dias em 1978), não poderia traduzir as suas manifestas intenções no que pressagiaram as respectivas declarações.
O aulicismo de parte da hierarquia contribuíu para a falta de reações apropriadas para os novos desafios. A par da perseguição aos adeptos da teoria da libertação – de que o atual pontífice, então prefeito da Congregação para a Doutrina da Fé (o ex-Santo Ofício) foi um encarniçado promotor – a pouca sintonia da igreja sob Wojtyla pode ser epitomizada pela substituição de D. Helder Câmara por D. José Cardoso Sobrinho, que marcou a sua missão pela desestruturação de toda a obra pastoral de D. Hélder.
O predomínio da orientação conservadora na Igreja não se manifesta, apenas, nas designações para a cúria e as sedes episcopais. Ao contrário da rápida tramitação de beatificações e canonizações de servos de Deus caros à linha do atual Pontífice – a rapidíssima elevação aos altares de Karol Wojtyla é disso exemplo eloquente – a beatificação de Papa Roncalli tardou 37 anos, quase obedecendo ao meio século que me indicara o Cardeal Corrado Bafile. Por outro lado, tampouco semelha haver pressa para a canonização de João XXIII, cognominado ‘il Papa Buono’. Serão acaso empecilhos para torná-lo oficialmente santo, ele que já desde muito goza de inconteste fama de santidade, o largo culto devotado ao Papa do Concílio, os milagres realizados, a par de sua importância como o grande pontífice renovador da Igreja ? Pelo visto, João XXIII, morto desde 3 de junho de 1963, ainda desperta temores e resistências, logo ele que em vida somente cuidara de o que unia e congregava. Reativando como pontífice o que sempre fizera, abriu as janelas da Igreja para a renovação com o Concílio Vaticano II, lançou os diálogos de reconciliação com os judeus e ecumênico com os irmãos separados. Nunca a morte de um papa terá despertado pesar tão amplo e geral, congregando não só católicos, ortodoxos, protestantes e judeus, mas também os muçulmanos e budistas, crentes e não-crentes, todos irmanados no respeito devotado àquele mensageiro da paz entre os homens. Na obediência e na paz Angelo Giuseppe Roncalli soube congregá-los em vida. A presente hierarquia poderia através deste ato singelo pensar grande e imitar-lhe o exemplo. Para voltar a ser relevante em um mundo no qual o Papa do Concílio continuará sempre atual como fator de paz e de união.
O que esperar de um ditador ?
Pouco importa se foi movimento autônomo ou lição encomendada. A ação dos capangas ou partidários de Bashar al-Assad foi previsível na sua covarde brutalidade.
O ataque contra o caricaturista Ali Farzat mostra o que têm de risível as muitas promessas de abertura feitas pelo déspota sírio.
A intolerância é apanágio dos chamados regimes fortes. Na estúpida e automática reação contra qualquer forma de crítica, eles desvelam a sua inerente fraqueza. A violência será sempre a marca registrada das ditaduras. Na verdade, os tiranos só conhecem uma linguagem, que é a da força. Todos eles se assemelham, e o comportamento de Kaddafi, por mais patético que se afigure, se pautou sempre pela crueldade e a intolerância, enquanto o poder lhe restou nas mãos.
Por isso, a comparação do desenho de Ali Farzat entre o ditador sírio, ainda em função, e o decaído líder da Jamairiya terá parecido ao esbirros de al-Assad, duplamente ofensivo, primeiro por gritar que o rei está nu, e segundo por predizer-lhe a vindoura sorte.
Pouco importa para tais broncos, que Ali Farzat se sirva apenas de alguns traços no papel, ao desenhar Bashar a tomar carona no carro de Kaddafi. Foi o bastante para que homens embuçados o raptassem, o batessem e não sem antes quebrar-lhe os ossos da mão havida como indigna e ofensiva o jogassem inconsciente em alguma ruela de Damasco.
O rosto intumescido e as mãos enfaixadas de Ali Farzat refletem a realidade dos acenos do ditador, cercado pelos aplausos dos cortesãos. Nisto são todos iguais: por trás do sorriso congelado, se podem nele entrever todos as tropelias, sevícias, e atentados que bem lhe refletem a natureza e a ínsita debilidade.
Pode-se esperar algo do Federal Reserve ?
Na verdade, a pergunta se deveria dirigir a Ben Bernanke, mas há outros atores em cena, o que tende a enfarruscar o horizonte. O economista Prêmio Nobel Paul Krugman se mostra descrente – ficaria muito surpreso se o chairman do Fed ‘propusesse qualquer coisa significativa’.
No entanto, em seu discurso em Jackson Hole, o presidente do Fed disse que a batalha política deste verão quanto ao endividamento e os dispêndios do Governo dos Estados Unidos havia desorganizado (disrupted) os mercados financeiros “e provavelmente também a economia”.
Bernanke sugeriu que o processo político em si estava quebrado. “O país ficaria mais bem servido por um processo melhor para tomar decisões fiscais”. Sem embargo, Ben Bernanke deu poucas indicações de que o Fed daria mais estímulos monetários para contrabalançar os efeitos nocivos da política fiscal sobre uma fraca economia americana.
Por que Krugman descrê de uma atitude mais proativa de Bernanke ? O colunista cita uma série de propostas do economista Ben Bernanke no ano 2000, voltadas para uma política no ‘limite inferior zero’. Se o foco do artigo era o Japão, no entender de Krugman os Estados Unidos se acham agora em armadilha muito similar à japonesa, só que mais aguda.
A previsão de Krugman é que, intimidado por Rick Perry (o governador do Texas, e pré-candidato à Presidência pelo GOP, que ameaçou em recente discurso o chefe do Fed), Bernanke nada faça, agindo como um simples observador, enquanto a economia continua estagnada.
Semelha bastante penoso reconhecer que uma crise desta magnitude visite os Estados Unidos e se depare com personagens que até o momento não parecem crescer diante do desafio. Sem falar da irresponsabilidade dos líderes republicanos, que se serviram do seu controle de uma das Câmaras do Congresso para extorquir concessões políticas do receituário do Tea Party, sem atentar para o interesse nacional, a imagem do Presidente Barack Obama tampouco evidencia a coragem da liderança.
Apesar de ter elementos legais para atalhar a chantagem do G.O.P. – como o próprio antecessor Bill Clinton lhe recomendou – Obama preferiu renegar as teses partidárias e se apresentar nas patéticas vestes do centrismo. Anteriormente, quando dispunha de maioria em ambas as Casas, não empolgou a oportunidade para criar mais opções de emprego para a economia americana.
No quadro atual, os que não têm juízo agem como se o tivessem. E aqueles que são presumidos tê-lo, se apequenam e julgam mais oportuno agir de forma timorata.
O desfecho de tais comportamentos é uma triste repetição de tragédias anteriores. Só resta a esperança de que os fracos se tornem fortes, e desmintam os maus presságios...
( Fontes: Folha de S. Paulo, CNN, International Herald Tribune)
sábado, 27 de agosto de 2011
Notícias do Front (X)
Se descuidas do Meio Ambiente...
Apesar de que nos Estados Unidos exista candidato vitorioso nas urnas, mas esbulhado pela justiça da presidência, e que se tem empenhado pela conscientização ecológica, por um estranho desenvolvimento o ambientalismo continua a parecer suspeito ao homem da rua americano.
Mais do que qualquer homem público, Al Gore se identifica com a causa ambiental. Não obstante as asnices republicanas, a tibieza de diversos políticos – a começar pela do presidente Barack Obama e a insidiosa propaganda estipendiada pelos irmãos Koch, muito tem contribuído para que o povo estadunidense – na dianteira mundial em tantos aspectos – o país se está atrelando à publicidade interesseira e desonesta de alguns, e ao reacionarismo burro de outros para que venha a empavonar-se na vanguarda do atraso, com a única e mui honrosa exceção do estado da Califórnia.
Como assevera a sapiência popular, o pior cego é aquele que não quer ver. Depois de ter ido à Copenhague, e participado da insatisfatória resposta da comunidade internacional ao desafio do clima, o presidente Obama omitiu-se uma vez mais, pouco ou nada fazendo para que o Congresso estadunidense aprovasse novas metas em matéria ambiental para aquela grande nação.
Por considerações oportunistas, o Congresso se curvou à miopia republicana, que confunde ambientalismo com esse gravíssimo crime político que é para eles o esquerdismo, ou a tentativa de controlar emissões danosas para o meio ambiente.
No país da alta tecnologia e das soluções vanguardeiras, é pelo menos bizarro que se recuse a ver o perigo do incremento das emissões de gás carbônico e as suas consequências climáticas.
Que se empeçam as urgentes medidas de proteção ambiental em decorrência de peculiar aliança entre energúmenos, ignorantes de boa cepa e petroleiros convictos.A cada momento, o desastre climático se agrava ao norte do Rio Grande, em que as secas se revezam com as inundações, com a turbinada virulência dos tornados do meio oeste, dos furacões que acompanham essa estranha curva do antiprogresso, assolando terras nunca dantes visitadas com tanta fúria, e por aí afora, no melancólico legado dos reis fracos que, camonianamente, tornam fraca a forte gente.
O governo de D. Dilma virou neoliberal ?
O governo do Partido dos Trabalhadores não pode permitir que a legislação nacional seja desrespeitada por intermédio da venda da TAM – lembram-se? a empresa que tem orgulho de ser brasileira - para a chilena LAN.
Ao contornarem, por via do capital, este requisito básico que salvaguarda o óbvio interesse nacional, os atuais proprietários cometem grave infração contra a lei brasileira.
A TAM é a maior empresa nacional, com quinze destinos internacionais e quarenta e cinco destinos nacionais. A TAM é a maior empresa aérea brasileira nas linhas internacionais, e dispõe de grande rede de linhas internas por esses brasis. Apesar de não ter adquirido a VARIG, na prática a TAM é a sucessora da nossa Viação Aérea Rio-Grandense.
É de perguntar-se por onde anda o governo da senhora Dilma Rousseff que até o presente nada fez para atalhar essa venda ilegal de patrimônio nacional ? Para que serve toda a maquinária institucional com o CADE, a ANAC, o Ministério da Defesa e lá se sabe o que mais se impávidos assistem esse entreguismo deslavado, que ném o governo de FHC, com todas as suas fumaças neoliberais, sequer pensou ou admitiu ?
Sem dúvida o real criador da TAM, o Comandante Rolim Amaro deve estar-se revirando na tumba com um desrespeito tão acintoso ao lema da própria companhia. Será que não há limite para tais tratanças antinacionais, dona Dilma ?
Malabarismos com a previsão do PIB ?
A Presidenta Dilma Rousseff não parece confortável com a previsão de 4% - referida no curso desta semana pelo Ministro da Fazenda, Guido Mantega – e já determinou como previsão para o PIB em 2011 a adoção da taxa de 3,7%.
Como pareceria talvez para os incautos, não se trata, em verdade, de uma disputa bizantina de projeções tentativas que serão determinadas pelo futuro, quanto ao crescimento da economia brasileira.
Se o reduzirmos para essa quota inferior à precedente, o crescimento nacional continuará mais acelerado do que os países desenvolvidos, porém menor em relação aos emergentes como China e Índia.
Apenas uma preocupação estatística ? Nem tanto. Com a alça menor do PIB se acenderia o sinal verde para que o Banco Central do senhor Tombini principie a cortar a taxa de juros, atualmente em 12,5%. Recordem-se que por fumaças de pretensões autonomistas que Henrique Meireles foi defenestrado da direção do Banco Central – que ocupou pelos oito anos do Presidente Lula da Silva – pela candidata eleita Dilma Rousseff.
Todos nós somos favoráveis ao desenvolvimento, dona Dilma, mas devemos resguardar-nos da reaparição do velho dragão. Recorda-se que por causa da ‘marolinha’ e dos aumentos, ditos sazonais, seu antecessor Lula nos legou a dúbia dádiva da herança inflacionária, que o Plano Real, combatido pelo PT, lograra afinal afastar da vida do brasileiro comum ?
Os juros altos são o que nos resta para conter a inflação. Conhecemos o seu desenvolvimentismo, senhora presidente, mas é melhor cuidar que a carestia não volte pela porta dos fundos, sob as fumaças estimativas de menor pressão da economia e a fraqueza política do Copom.
O Prefeito Eduardo Paes e o progresso
Dentro de seu ativismo olímpico e com 2012 de eventual reeleição às portas, o prefeito Eduardo Paes vem demonstrando grande ativismo em pequenas causas. A esse respeito, menciono duas cruzadas suas.
Quem desconhece o passado, está condenado a repeti-lo. Ao determinar a retirada dos fradinhos – marcos colocados nas calçadas – e também das grades nos jardins públicos, o prefeito – eleito com o apoio determinante de seu patrono Sérgio Cabral, o que lhe permitiu derrotar no photochart da política o desafio do verde Gabeira – cria dois dúbios factóides, com previsíveis consequências.
Como lhe apontou em crônica Ferreira Gullar, retirar as grades dos jardins e parques públicos será de novo condená-los à invasão por mendigos e moradores de rua, o que lhes desencadeará a mesma decadência que motivara a implantação no passado das ditas grades...
Por outro lado, os fradinhos estão nas calçadas para evitar o estacionamento abusivo dos carros, com os transtornos previsíveis para os pedestres, e para que a finalidade dos passeios públicos, que aí não estão – é bom que se frise – para serem transformados em pistas de ciclistas e ocupação por viaturas.
( Fontes: O Globo, Folha de S. Paulo)
sexta-feira, 26 de agosto de 2011
A Ilusão do Poder Absoluto
O poder talvez seja das bebidas a mais inebriante. A máxima de Lord Acton – o poder corrompe, e o poder absoluto, de forma total – só é lembrada por reis, ditadores e presidentes quando ele não mais lhes pertence.
No entanto, a história se repete com seus rasgados quadros de passados faustos, a que, intoxicados pela húbris do mando, como se eterno fora, os tiranos de todos os matizes lhes dão a atenção que se dispensa amiúde à algaravia dos anciãos esquecidos nos esquálidos asilos.
Das entranhas do poder, o povo, a quem dizem soberano, só toma conhecimento quando as revoluções – ditas as parteiras da história – irrompem no recesso dos palácios e fortins. É a hora e a vez da verdade, trazida à luz brutal dos saqueios e das pilhagens. Vestida com o gesto da violência, ela não é mais do que a retribuição nutrida por longos anos de arrogância e repressão.
Essa visão do oculto fasto pode variar segundo a natureza do poder que cai. Se há um traço comum que é o abismal contraste entre vivência e cenário do palácio invadido e a vida diuturna dos invasores, as diferenças nos domínios ora arrombados estarão em suas origens.
Rompidas as barragens, a fúria reprimida das águas tudo leva consigo, sem atentar para a suposta legitimidade dos decaídos governantes.
Dessarte,a Versailles dos Bourbon, o Palácio de Inverno dos Romanoff e a Bab al-Aziziya, de al-Kaddafi, são levados de roldão pelos anônimos populares, por símbolos que são de uma realidade que desconhecera os próprios laços com o povo a que dissera representar.
Aí, contudo, se desvelam e se partem as cores e a natureza das realezas que mordem a poeira da revolução.
Diante do tropel da plebe, serão diversos os espetáculos da conspurcada dignidade das dominações que têm,então,rasgado o manto da legitimidade, e o quadro contrastante da coroada vulgaridade das ditaduras.
O farcesco complexo do líder supremo da Jamairiya, até então vedado ao povo, agora se mostra com toda a insultante hipocrisia e cafonice do coronel Muammar al-Kaddafi. No seu requinte extremo de alegado despojamento do poder, ali se expõem a falsidade do tirano e seu entranhado mau-gosto, em que se trai, apesar dos ademanes e da soberba, por todo esse bunker.
Acreditando-se eterno, ele esculpiu e modelou a respectiva residência em luxo e pompa agressiva, em que o ouro, o mais precioso dos metais, é a expressão de um fasto repugnante, fruto do roubo continuado. Para condená-lo no tribunal da história, ele preparou um deplorável palácio/fortaleza, que pensara ocultar das vistas de seu povo.
Todo o luxo agora exposto e revirado, o desmoraliza em frases irrespondíveis – porque leva o seu autógrafo – perante a posteridade com que tanto semelhava preocupar-se.
Vivo ou morto, Kaddafi será nota de pé-de-página no rol dos tiranos, essa praga que visita os homens desde os tempos sem memória.
( Fonte subsidiária: O Globo )
No entanto, a história se repete com seus rasgados quadros de passados faustos, a que, intoxicados pela húbris do mando, como se eterno fora, os tiranos de todos os matizes lhes dão a atenção que se dispensa amiúde à algaravia dos anciãos esquecidos nos esquálidos asilos.
Das entranhas do poder, o povo, a quem dizem soberano, só toma conhecimento quando as revoluções – ditas as parteiras da história – irrompem no recesso dos palácios e fortins. É a hora e a vez da verdade, trazida à luz brutal dos saqueios e das pilhagens. Vestida com o gesto da violência, ela não é mais do que a retribuição nutrida por longos anos de arrogância e repressão.
Essa visão do oculto fasto pode variar segundo a natureza do poder que cai. Se há um traço comum que é o abismal contraste entre vivência e cenário do palácio invadido e a vida diuturna dos invasores, as diferenças nos domínios ora arrombados estarão em suas origens.
Rompidas as barragens, a fúria reprimida das águas tudo leva consigo, sem atentar para a suposta legitimidade dos decaídos governantes.
Dessarte,a Versailles dos Bourbon, o Palácio de Inverno dos Romanoff e a Bab al-Aziziya, de al-Kaddafi, são levados de roldão pelos anônimos populares, por símbolos que são de uma realidade que desconhecera os próprios laços com o povo a que dissera representar.
Aí, contudo, se desvelam e se partem as cores e a natureza das realezas que mordem a poeira da revolução.
Diante do tropel da plebe, serão diversos os espetáculos da conspurcada dignidade das dominações que têm,então,rasgado o manto da legitimidade, e o quadro contrastante da coroada vulgaridade das ditaduras.
O farcesco complexo do líder supremo da Jamairiya, até então vedado ao povo, agora se mostra com toda a insultante hipocrisia e cafonice do coronel Muammar al-Kaddafi. No seu requinte extremo de alegado despojamento do poder, ali se expõem a falsidade do tirano e seu entranhado mau-gosto, em que se trai, apesar dos ademanes e da soberba, por todo esse bunker.
Acreditando-se eterno, ele esculpiu e modelou a respectiva residência em luxo e pompa agressiva, em que o ouro, o mais precioso dos metais, é a expressão de um fasto repugnante, fruto do roubo continuado. Para condená-lo no tribunal da história, ele preparou um deplorável palácio/fortaleza, que pensara ocultar das vistas de seu povo.
Todo o luxo agora exposto e revirado, o desmoraliza em frases irrespondíveis – porque leva o seu autógrafo – perante a posteridade com que tanto semelhava preocupar-se.
Vivo ou morto, Kaddafi será nota de pé-de-página no rol dos tiranos, essa praga que visita os homens desde os tempos sem memória.
( Fonte subsidiária: O Globo )
quinta-feira, 25 de agosto de 2011
Isso não é Roma Antiga
As declarações da Presidente Dilma Rousseff mandam inequívoca mensagem que vai muito além do que ontem disse para a imprensa: “Essa pauta de demissões em que fazem ranking não é adequada para um governo. Essa pauta, eu não vou jamais assumir. Não se demite nem se faz escala de demissão, nem sequer demissão todos os dias. Isso não é, de fato, Roma antiga.”
Se permite, senhora Presidente, as suas observações desalentam a opinião pública, que havia recebido com satisfação a sinalização da faxina. Aqui não se fala de considerações esotéricas. A sociedade civil saudara a faxina – confirmada por medidas concretas – porque viu nos seus atos a aplicação de princípios de conduta à administração pública que são os mesmos princípios com que a gente comum pauta o próprio comportamento.
Não são questões de lana-caprina, como a senhora não ignora. No país do impostômetro, a corrupção é um ralo por onde se esvai grande parte dos fundos arrecadados pela Receita Federal e suas congêneres estaduais e municipais.
A corrupção deve ser combatida e a atitude de seu governo, em aparente dissociação da prática da Administração anterior, parecia sinalizar o respeito a tal imperativo. E por quê ?
Porque o contribuinte, rico, remediado ou pobre – no Brasil, sabemos bem, todos são taxados – não só merece respeito quanto ao seu dinheiro que é destinado aos cofres públicos, mas também deve receber o retorno de sua contribuição nos serviços à coletividade.
Porque é falsa a asserção que trata de coisa de somenos, a ser assemelhada, como se fora arcaismo, aos mores da antiga Roma, aquela de Cincinato e de Atilius Regulus. O dinheiro subtraído pelo ralo imundo da corrupção, a sociedade civil o vê no descalabro dos serviços, nas miseráveis condições de nossa infraestrutura, seja nos transportes, seja na saúde, seja nas redes sanitárias e por aí afora.
Até mesmo para o assistencialismo – seja na bolsa família, seja na ‘faxina contra a pobreza’, que é, segundo afirma, a principal faxina na qual está interessada – se fazem mister órgãos públicos em que o dinheiro de nós todos contribuintes seja corretamente aplicado.
Nenhum governo se deve orientar por uma pauta de demissões. Mas em qualquer atividade que se empreenda, pública ou privada, nenhuma delas se sustenta e atende ao interesse da comunidade, se os fundos para elas levantados não forem utilizados para o seu precípuo escopo. Se o desfalque lesa a empresa particular, a corrupção atinge a serventia do órgão público. E não há argumentação, sofística ou não, que escamoteie as consequências de entregar os serviços públicos de toda ordem a maus gestores.
Por isso, senhora Presidente da República, o bom governante o encontramos por toda a parte, e não o devemos desmerecer como se arcaísmos de um nebuloso, quase mítico passado.
A corrupção, senhora Presidente, é meta do combate de qualquer governo, seja de Roma, ou do Brasil.
A Sociedade acreditou ver algo de diverso na Senhora. Por isso, os seus índices de aprovação subiram. Não se esqueça disso, se deseja ter o apoio da opinião pública. Ao contrário do que o atual regime dos muitos partidos lhe possa dizer este é o único suporte que a senhora terá que estará sempre acima dos interesses oportunísticos e pouco confessáveis.
( Fonte subsidiária: O Globo )
Se permite, senhora Presidente, as suas observações desalentam a opinião pública, que havia recebido com satisfação a sinalização da faxina. Aqui não se fala de considerações esotéricas. A sociedade civil saudara a faxina – confirmada por medidas concretas – porque viu nos seus atos a aplicação de princípios de conduta à administração pública que são os mesmos princípios com que a gente comum pauta o próprio comportamento.
Não são questões de lana-caprina, como a senhora não ignora. No país do impostômetro, a corrupção é um ralo por onde se esvai grande parte dos fundos arrecadados pela Receita Federal e suas congêneres estaduais e municipais.
A corrupção deve ser combatida e a atitude de seu governo, em aparente dissociação da prática da Administração anterior, parecia sinalizar o respeito a tal imperativo. E por quê ?
Porque o contribuinte, rico, remediado ou pobre – no Brasil, sabemos bem, todos são taxados – não só merece respeito quanto ao seu dinheiro que é destinado aos cofres públicos, mas também deve receber o retorno de sua contribuição nos serviços à coletividade.
Porque é falsa a asserção que trata de coisa de somenos, a ser assemelhada, como se fora arcaismo, aos mores da antiga Roma, aquela de Cincinato e de Atilius Regulus. O dinheiro subtraído pelo ralo imundo da corrupção, a sociedade civil o vê no descalabro dos serviços, nas miseráveis condições de nossa infraestrutura, seja nos transportes, seja na saúde, seja nas redes sanitárias e por aí afora.
Até mesmo para o assistencialismo – seja na bolsa família, seja na ‘faxina contra a pobreza’, que é, segundo afirma, a principal faxina na qual está interessada – se fazem mister órgãos públicos em que o dinheiro de nós todos contribuintes seja corretamente aplicado.
Nenhum governo se deve orientar por uma pauta de demissões. Mas em qualquer atividade que se empreenda, pública ou privada, nenhuma delas se sustenta e atende ao interesse da comunidade, se os fundos para elas levantados não forem utilizados para o seu precípuo escopo. Se o desfalque lesa a empresa particular, a corrupção atinge a serventia do órgão público. E não há argumentação, sofística ou não, que escamoteie as consequências de entregar os serviços públicos de toda ordem a maus gestores.
Por isso, senhora Presidente da República, o bom governante o encontramos por toda a parte, e não o devemos desmerecer como se arcaísmos de um nebuloso, quase mítico passado.
A corrupção, senhora Presidente, é meta do combate de qualquer governo, seja de Roma, ou do Brasil.
A Sociedade acreditou ver algo de diverso na Senhora. Por isso, os seus índices de aprovação subiram. Não se esqueça disso, se deseja ter o apoio da opinião pública. Ao contrário do que o atual regime dos muitos partidos lhe possa dizer este é o único suporte que a senhora terá que estará sempre acima dos interesses oportunísticos e pouco confessáveis.
( Fonte subsidiária: O Globo )
quarta-feira, 24 de agosto de 2011
O Governo Dilma Rousseff
O governo Dilma Rousseff termina o oitavo mês em curso muito mais acidentado do que o imaginado.
À primeira vista, as suas principais facetas são pirandellianas. Refiro-me ao teatrólogo italiano Pier Luigi Pirandello e sua peça Cosi è, se vi pare (Assim é,se lhe parece). Tomemos a base parlamentar, por exemplo. Ao contrário de bloco coeso, temos uma frente fisiológica e oportunista, que diz muito sobre a necessidade urgente de reforma política, dada sua extrema fragmentação e falta de qualquer sentido programático. Essa ‘base’ nada mais é do que formação disparatada, sem nexo ideológico apreciável, cujo único pressuposto será o caráter ad hoc de cada apoio.
Por outro lado, a chamada faxina tem rendido pontos preciosos à presidenta, com a opinião pública nela reconhecendo a iniciativa de expurgar a corrupção dos principais escalões de administração que ainda constitui composição disparatada, em que predomina a vontade do criador.
Sob rajadas de denúncias, as posições de alguns ministros se tornaram insustentáveis. Numa série de dominós, o primeiro a cair foi o todo-poderoso Antonio Palocci, indicação do ex-presidente Lula (que já tinha sido forçado a dispensar-lhe os serviços pelo escândalo do caseiro Francenildo Pereira).
Se Palocci tombou pela artilharia da Folha de S. Paulo, a revista VEJA passou a concentrar muitas das novas denúncias (v.g., nos Transportes – PR, com Alfredo Nascimento, e Luiz Antonio Pagot, no segundo escalão, com o famigerado DNIT, de polpudas dotações). Há o parêntese no Turismo, com a operação Voucher da Polícia Federal e o escândalo do IBRASI no âmbito do farcesco ministério de Pedro Novais, o latinista e o expoente do baixo clero na Câmara, criatura do tentacular José Sarney. Verificam-se as prisões relâmpago da P.F., com fotos de torso nu (admissíveis para brasileiros comuns, mas não para aqueles fora da categoria) e a queda do Secretário-Executivo do Turismo, Frederico da Silva Costa. Em seguida, na Agricultura-PMDB, com o lobista Júlio Fróes e o Secretário-Executivo Milton Ortolan, levados de roldão, e, num segundo tempo sucessivo, a queda do Ministro Wagner Rossi, articulada pelo Vice Michel Temer.
Em todos esses episódios, o comportamento de Dilma não foi decerto próativo, mas diferiu daquele de seu mentor, eis que, gostosamente ou não, nada fez para abafar as denúncias e manter os ministros em suas cadeiras (o quarto ministro, também herdado de Lula, nominalmente do PMDB, enrolou-se na própria língua, dando ensejo a que Dilma ressuscitasse outra criatura da antiga Administração. Walter Jobim terá sido o único para quem a presidenta foi a causa eficiente da exoneração).
Ingressamos no que seria a segunda rodada de denúncias de VEJA. O Ministro Mário Negromonte semelha a bola da vez. Do Partido Progressista, conhecido pelo caráter inflexível dos seus princípios de extremado situacionismo, Sua Excelência é acusado de achar-se em campanha intestina contra a facção do ex-Ministro Márcio Fortes, também do PP, de quem o ministério das Cidades é feudo por seis anos. Suspeito de recorrer a uma variante de mensalão, a posição do Ministro Negromonte estaria exposta a uma fritura intensiva. Assinale-se que a sua indicação não partiu da Presidenta, nem ela teria particular simpatia pelo atual titular.
Por outro lado, à sombra do Presidente Lula da Silva, o PT demonstra insatisfação com a imagem de Dilma como fautora da faxina. Vê nessa atitude o perigo de que o eleitor venha no futuro a associar a administração de Lula a um governo corrupto.
A propósito, circulam notícias de que ministros de Dilma ‘despachariam’ com o ex-presidente acerca de assuntos de seu interesse. Tudo isso devem ser intrigas da oposição, pois a presença do fundador do PT e seu presidente de honra parece voejar por toda a parte na administração Dilma Rousseff. A começar pelo Secretário-Geral da Presidência, Gilberto Carvalho, que é havido como escalão avançado lulista junto à Presidenta.
Nos entreveros da Administração, cresce o papel exercido peloVice-Presidente Michel Temer. Primeiro representante (ou ponta de lança) do PMDB junto a Dilma, em atuação, a princípio escanteada, registra uma inflexão em súbita relevância. Negociou, a pedido da Chefe do Governo, a saída de Wagner Rossi e designação de Mendes Ribeiro (PMDB-RS) na crise da Agricultura. Agora, não teria mãos a medir no caso de Pedro Novais. Malgrado as fintas do Vice-Rei do Norte, Novais seria mais uma de suas válidas indicações no ministério.
É também como mediador que Temer busca acalmar os reclamos do PMDB, que se sente preterido pela Presidenta. Nesse sentido, tenta evitar problemas com Henrique Alves (RN), o pugnaz chefe de bancada do que foi no passado o partido de Ulysses Guimarães.
Como se verifica pelas linhas acima, há muitos protagonistas no governo de Dilma Rousseff. Se uma metáfora fosse admissível, seria quiçá o caso de aí ver um gigantesco canteiro de obras. O que ainda semelha difícil determinar é a existência de um plano efetivo e de quem tem o controle dessa magna operação.
( Fonte subsidiária: O Globo )
À primeira vista, as suas principais facetas são pirandellianas. Refiro-me ao teatrólogo italiano Pier Luigi Pirandello e sua peça Cosi è, se vi pare (Assim é,se lhe parece). Tomemos a base parlamentar, por exemplo. Ao contrário de bloco coeso, temos uma frente fisiológica e oportunista, que diz muito sobre a necessidade urgente de reforma política, dada sua extrema fragmentação e falta de qualquer sentido programático. Essa ‘base’ nada mais é do que formação disparatada, sem nexo ideológico apreciável, cujo único pressuposto será o caráter ad hoc de cada apoio.
Por outro lado, a chamada faxina tem rendido pontos preciosos à presidenta, com a opinião pública nela reconhecendo a iniciativa de expurgar a corrupção dos principais escalões de administração que ainda constitui composição disparatada, em que predomina a vontade do criador.
Sob rajadas de denúncias, as posições de alguns ministros se tornaram insustentáveis. Numa série de dominós, o primeiro a cair foi o todo-poderoso Antonio Palocci, indicação do ex-presidente Lula (que já tinha sido forçado a dispensar-lhe os serviços pelo escândalo do caseiro Francenildo Pereira).
Se Palocci tombou pela artilharia da Folha de S. Paulo, a revista VEJA passou a concentrar muitas das novas denúncias (v.g., nos Transportes – PR, com Alfredo Nascimento, e Luiz Antonio Pagot, no segundo escalão, com o famigerado DNIT, de polpudas dotações). Há o parêntese no Turismo, com a operação Voucher da Polícia Federal e o escândalo do IBRASI no âmbito do farcesco ministério de Pedro Novais, o latinista e o expoente do baixo clero na Câmara, criatura do tentacular José Sarney. Verificam-se as prisões relâmpago da P.F., com fotos de torso nu (admissíveis para brasileiros comuns, mas não para aqueles fora da categoria) e a queda do Secretário-Executivo do Turismo, Frederico da Silva Costa. Em seguida, na Agricultura-PMDB, com o lobista Júlio Fróes e o Secretário-Executivo Milton Ortolan, levados de roldão, e, num segundo tempo sucessivo, a queda do Ministro Wagner Rossi, articulada pelo Vice Michel Temer.
Em todos esses episódios, o comportamento de Dilma não foi decerto próativo, mas diferiu daquele de seu mentor, eis que, gostosamente ou não, nada fez para abafar as denúncias e manter os ministros em suas cadeiras (o quarto ministro, também herdado de Lula, nominalmente do PMDB, enrolou-se na própria língua, dando ensejo a que Dilma ressuscitasse outra criatura da antiga Administração. Walter Jobim terá sido o único para quem a presidenta foi a causa eficiente da exoneração).
Ingressamos no que seria a segunda rodada de denúncias de VEJA. O Ministro Mário Negromonte semelha a bola da vez. Do Partido Progressista, conhecido pelo caráter inflexível dos seus princípios de extremado situacionismo, Sua Excelência é acusado de achar-se em campanha intestina contra a facção do ex-Ministro Márcio Fortes, também do PP, de quem o ministério das Cidades é feudo por seis anos. Suspeito de recorrer a uma variante de mensalão, a posição do Ministro Negromonte estaria exposta a uma fritura intensiva. Assinale-se que a sua indicação não partiu da Presidenta, nem ela teria particular simpatia pelo atual titular.
Por outro lado, à sombra do Presidente Lula da Silva, o PT demonstra insatisfação com a imagem de Dilma como fautora da faxina. Vê nessa atitude o perigo de que o eleitor venha no futuro a associar a administração de Lula a um governo corrupto.
A propósito, circulam notícias de que ministros de Dilma ‘despachariam’ com o ex-presidente acerca de assuntos de seu interesse. Tudo isso devem ser intrigas da oposição, pois a presença do fundador do PT e seu presidente de honra parece voejar por toda a parte na administração Dilma Rousseff. A começar pelo Secretário-Geral da Presidência, Gilberto Carvalho, que é havido como escalão avançado lulista junto à Presidenta.
Nos entreveros da Administração, cresce o papel exercido peloVice-Presidente Michel Temer. Primeiro representante (ou ponta de lança) do PMDB junto a Dilma, em atuação, a princípio escanteada, registra uma inflexão em súbita relevância. Negociou, a pedido da Chefe do Governo, a saída de Wagner Rossi e designação de Mendes Ribeiro (PMDB-RS) na crise da Agricultura. Agora, não teria mãos a medir no caso de Pedro Novais. Malgrado as fintas do Vice-Rei do Norte, Novais seria mais uma de suas válidas indicações no ministério.
É também como mediador que Temer busca acalmar os reclamos do PMDB, que se sente preterido pela Presidenta. Nesse sentido, tenta evitar problemas com Henrique Alves (RN), o pugnaz chefe de bancada do que foi no passado o partido de Ulysses Guimarães.
Como se verifica pelas linhas acima, há muitos protagonistas no governo de Dilma Rousseff. Se uma metáfora fosse admissível, seria quiçá o caso de aí ver um gigantesco canteiro de obras. O que ainda semelha difícil determinar é a existência de um plano efetivo e de quem tem o controle dessa magna operação.
( Fonte subsidiária: O Globo )
terça-feira, 23 de agosto de 2011
O que é Diplomacia
Na atualidade, se alça a polêmica a respeito da orientação de política externa do Brasil. Nesse sentido, acusa-se o Itamaraty de erros graves no que tange ao alinhamento político e à defesa dos direitos humanos.
Antes de julgar o mérito de tais posturas, é oportuno recordar metodologia de procer hoje caído em desgraça no tribunal da história, mas que ainda merece atenção no que concerne à epistemologia.
De acordo com tal visão, antes de analisar-se qualquer proposta, é mister estudá-la no próprio contexto e sobretudo determinar-lhe a origem. Consoante tal enfoque, conhecer a procedência e o autor da proposta será determinante para decidir se aproveita ou não ao interesse da parte.
A aparente paranóia desta tese tende a desfazer-se na seguinte rationale: a proposta, por melhor que pareça, não pode ser boa se ela provém de um inimigo. Porque, debaixo de sua enganosa roupagem , deve estar contaminada por objetivos que são contrários ou nocivos aos princípios e sobretudo interesses da parte receptora.
Por tal motivo e outros quiçá de maior peso, seria importante determinar-se na discussão das questões qual é a procedência das mensagens, e a quem elas servem.
Qual a importância desse princípio ? Dado seu caráter pragmático, terá mais a ver com movimentos táticos e com o dia-a-dia da política. Se sua utilização, a isto não se limita, semelha forçoso reconhecer a que em geral se aplica, posto que não devamos excluí-lo em princípio dos grandes temas.
O Brasil, até mesmo em tempo colonial, como Alexandre de Gusmão o evidencia, e a fortiori no Império e nas primeiras repúblicas, se pautou por uma diplomacia de estado, arrimada no interesse nacional e na coerência de sua defesa.
A diplomacia imperial, no estudo dos antecedentes e das posições pregressas da chancelaria, criou as bases para firmar as nossas fronteiras. Já esboçadas no Tratado de Madri, o uti possidetis se fundaria no conhecimento dos velhos mapas, delineados em terra pelas bandeiras e entradas, e gravados no papel pelos padres matemáticos e cartógrafos. Duarte da Ponte Ribeiro constitui o exemplo de diplomacia discreta e articulada, que enjeita a improvisação e as reviravoltas políticas. Diplomacia de estado, fundada no conhecimento e na tradição, e por isso infensa às contradições do transitório das contingências partidárias da política interna.
O Barão do Rio Branco, e a sua obra, representa o estuário de tantas modestas fontes diplomáticas, e foi no conhecimento aturado dos mapas que o Brasil venceu os laudos arbitrais – o das Missões, de fevereiro de 1895, do Presidente Grover Cleveland, e o da Guiana Francesa, de dezembro de 1900, do Conselho Federal Suiço.
A diplomacia da República, mesmo durante a noite do regime militar de 1964 a 1985, teve a sabedoria de manter a essência do estado, o que evitaria contradições e posturas em desserviço dos interesses permanentes do Brasil.
Esta orientação se manteria até 2002. Depois desta data, nem sempre tais princípios foram observados. Houve o convívio nem sempre coerente entre a larga visão do Estado, que sobreleva às implicações e as mutações de política interna, e uma ótica de partido, em que as questões do interesse do Estado tinham papel secundário, por força de contingências sectárias.
Às vezes, por ignorância, e outras por oportunismo faccioso, nossa diplomacia se afastou em determinados momentos da rota conhecida, marcada pelo grande leito da tradição.
A diplomacia não é uma planta sem raízes. Ela se alimenta da seiva do conhecimento, das doutrinas e dos interesses não momentâneos ou estrangeiros, mas de uma rota coerente, marcada por princípios e experiências já comprovados. A boa diplomacia não tem partido e enjeita a improvisação e as adequações de afogadilho.
O Itamaraty – esta metonímia da política externa brasileira – soube se fazer respeitar no passado não pelo oportunismo de estampo partidário, mas por uma orientação baseada em princípios e práticas comprovadas que, pela sua inteireza, estruturação e profissionalismo, soube marcar a respectiva posição, e granjear a respeitosa atenção que é sempre outorgada aos parceiros que têm presença marcante na cena internacional.
segunda-feira, 22 de agosto de 2011
Justiça para Dominique Strauss-Kahn (III)
O que se prenunciara, com o anterior anúncio pelo Promotor Distrital Cyrus Vance Jr. que expressava dúvidas sobre a continuação da ação na justiça nova-iorquina contra Dominique Strauss-Kahn, acaba de confirmar-se.
Cyrus Vance vai recomendar ao Juiz que, por falta de credibilidade da alegada vítima Nafissatou Diallo, seja arquivada a ação contra DSK por assalto sexual. Na verdade, Vance não acredita que existam, por outro lado, provas bastantes para convencer o júri de que o ex-Diretor-Geral do FMI é culpado sem sombra de dúvida do ato criminoso, e dessarte assegurar a sua eventual condenação.
O advogado da defesa, ao lado da camareira guineense, reagiu com a esperada veemência verbal. Como se sabe, nas últimas semanas Diallo se empenhava em campanha de opinião pública, com particular ênfase junto à população afro-americana, no sentido de aumentar a pressão sobre o promotor-distrital a fim de evitar a desistência que já se prefigurava pelo comportamento dúbio da suposta vítima e suas ligações com traficantes, etc. O interesse de instrumentalizar o caso era tal que se sugeriu transferir o foro para fora de Manhattan, para outro que fosse mais suscetível a secundar as pretensões da camareira.
Dentro do seu interesse de conseguir uma boa compensação financeira pelo caso, o advogado de Diallo já entrou com um processo cível de indenização contra Strauss Kahn.
Outra ação contra Strauss Kahn, sobre a qual pairam suspicácias de oportunística, é a movida em Paris por um alegado assalto sexual ocorrido em 2002.
Afigura-se deplorável que se tenha submetido Dominique Strauss-Kahn a toda a parafernália de humilhação pública – a caminhada do perpetrante algemado (perp’s walk), no modelo lançado pelo antigo promotor Rudolph Giuliani, a prisão na cadeia, a imposição de fiança de cinco milhões de dólares, e a obrigação de uso de tornozeleira eletrônica, entre outras medidas – para ao final e ao cabo, se determinar que o promotor não dispunha de provas suficientes para acusá-lo em juízo.
Os prejuízos sofridos por DSK – destituição do FMI, perda da candidatura à presidência na França – sem falar na carga de danos morais e de imagem não parecem suscetíveis de serem repostos. Se há ganhadores em toda esta estória, avulta sem dúvida a figura de Nicolas Sarkozy que não terá pela frente na disputa pelo Elysée um candidato com a popularidade e as possibilidades que antes reunia Dominique Strauss Kahn.
( Fonte: CNN)
O Fim Anunciado do Ditador Kaddafi
Na Grécia antiga encontramos o antepassado dos ditadores. É o tirano, cujo primeiro passo para assenhorear-se do poder estava no pedido de guarda armada, supostamente para garantir a segurança pessoal do chefe, mas na realidade a providência inicial no caminho da supressão das liberdades cívicas da cidade-estado. Pisístrato é o exemplo clássico, mormente por surgir em Atenas, que seria o berço da democracia. A sua ascendência, iniciada em 560 a.C., após curta interrupção, se estenderia até 527 a.C.
Cumpre notar que a figura do ditador na República Romana nada tem a ver com os precedentes e atuais ditadores. Era função constitucional, convocada em momentos de crise nacional, com finalidade específica e duração circunscrita à situação extraordinária que a motivara. Exemplo paradigmático é a ditadura de Quinctius Cincinato, que fora Cônsul em 460 a.C. Em situação de grave perigo, com a tropa do povo Aequi ameaçando Roma , o cônsul em função, Cincinato foi designado ditador. Em quinze dias, formou um exército, derrotou os Aequi.Após o triunfo, renunciou ao cargo e retornou ao manejo do arado, em seu campo. Como semelha óbvio, os ditadores do passado e presente, excluída o aspecto humano, em tudo o mais se diferenciam desses austeros vultos da Roma arcaica.
Tudo indica que a República Verde entra nas vascas da agonia. A Liga Rebelde já adentrou a chamada Praça Verde, em Trípoli. Se o bunker do lider da Jamairia ainda não foi invadido, dois de seus filhos foram presos. Com efeito, Saif al-Islam Kaddafi, fora indiciado pelo Tribunal Penal Internacional, por crimes contra a Humanidade.
Saif se encarregava do serviço secreto, e o Promotor Luiz Moreno Ocampo gostaria de hospedá-lo na Haia. Igualmente nas mãos dos rebeldes, outro rebento de Muammar, Saadi al-Kaddafi, hoje negociante e antes jogador de futebol.
O T.P.I. também indiciou Abdullah al-Sanussi, cunhado do ditador.
Kaddafi, o jovem major, que depôs, em golpe incruento, a 1º de setembro de 1969, o ausente Rei Idris (em tratamento médico na Turquia), liderava um grupo de jovens oficiais. Quem empolga o poder pela violência, tem de acostumar-se a que outros aventureiros queiram empregar a traiçoeira força contra ele ( a primeira conjura contra o major foi em dezembro de 1969, descoberta graças à espionagem egípcia). Muammar elegeu o presidente Gamal Abdel Nasser – que depusera o rei Faruk em 1952 – como seu ídolo e modelo. Para seu infortúnio, Nasser, amargado pela derrota na guerra dos seis dias em 1967, morreria em 28 de setembro de l970.
Kaddafi permanece à testa da Jamairia líbica há quase quarenta e dois anos. Para uns, símbolo do orgulho árabe e da luta contra o imperialismo; para outros, um déspota não-esclarecido, cruel, vingativo e caricato. Os exemplos são muitos, e não é o caso de elencá-los todos. Visto como um idealista, um novo líder cujo semblante, com o passar dos anos, se transformaria como no retrato de Dorian Gray, mostrando a flacidez e as cicatrizes do terrorismo (Lockerbie) dos bandos assassinos de dissidentes no exterior. Pagou em moeda o sofrimento que causara às vítimas e suas famílias do atentado contra a Pan Am (voo 103), e consentiu que dois nacionais seus fossem julgados como responsáveis, um deles sendo condenado à prisão perpétua (depois comutada em indulto). Kaddafi semeou sacrifício (perseguição aos bérberes, guerra do Tchad), mudou o nome dos meses do calendário (que passou a observar a cronologia islâmica) de agosto para hannibal, e de julho para nasser. O seu notório Livro Verde, que condensaria a imagem do futuro, parece ora destinado seja à lata de lixo de Trotzki, seja às fogueiras de Benghazi e alhures.
Como Kaddafi – que, mesmo na presente e precária situação, ainda desperta patéticas fidelidades e testemunhos – infligiu muito sofrimento. A revanche passou a concretizar-se no bombardeio ordenado por Reagan, para castigá-lo pelo torpe atentado da boîte La belle, em que seus sicários mataram três e feriram 229. A via penitencial do ditador ainda aprontaria algumas maldades periféricas pelo caminho como o ordálio infligido aos médicos búlgaros (libertos em 2007).
Abraçado enfim por George Bush e Tony Blair, ainda logrou encontrar-se com Barack Obama em 2009. Todos os seus esforços e a disposição de visitar (e revisitar) Canossa (ir a Canossa é humilhar-se perante o adversário), não foram bastantes para preservá-lo no mando, uma vez que o sacrifício de Mohamed Bouazizi atearia no mundo árabe as chamas da rebelião.
Por interposta pessoa, partiria da detestada costa oriental e a cidade de Benghazi, velhos aliados do rei Idris, a temida revolução. A própria desapiedada repressão aos respectivos nacionais – tratados como invasores alienígenas – ganharia para a Liga Rebelde o apoio da OTAN e do Ocidente, com as consequências que ora se vêem nas ruas de Trípoli.
Se Muammar Kaddafi será encontrado vivo ou morto, se será apanhado pelos adversários (como Benito Mussolini o foi para ser dependurado em Piazzale Loreto, na solitária companhia da amante Clara Petacci), o futuro, este caprichoso mago, por enquanto ainda nos oculta.
Difícil, no entanto, evitar-lhe este resumo histórico de quem encetou o caminho com grandes ideais, e acabou beijando o áspero pó da derrota infligida por inimigos tão persistentes quanto ingratos.
( Fonte subsidiária: CNN)
domingo, 21 de agosto de 2011
Colcha de Retalhos LXXXIX
Ministério das Cidades: a bola da vez ?
Segundo denuncia a revista VEJA – depois dos episódios dos Transportes (Alfredo Nascimento) e Agricultura (Wagner Rossi) – o próximo da lista seria o Ministro Mario Negromonte. A dezessete do corrente, parlamentares do Partido Progressista (PP) procuraram a ministra de Relações Institucionais, Ideli Salvatti, para relatar estranhas ocorrências no interior do gabinete do ministro. O problema maior seria que Negromonte, de acordo com os informes, não se cingiria aos meios usuais da política (cargos, liberação de verbas,etc.), mas se estenderia a promessas de mesadas de trinta mil reais para quem quiser aderir.
Será possível ? Afinal, essas ‘bondades’ têm perturbadora semelhança com o mensalão – que o PT persiste em negar, a despeito dos 39 réus que tem à espera de julgamento pelo Supremo. Custa acreditar no fundamento de tal denúncia, que não só implica em fato ilegal, mas também que agride a inteligência.
Há seis anos o Ministério das cidades é feudo do PP. É o terceiro partido da ‘base’, com 41 deputados e cinco senadores. Tem orçamento de 22 bilhões de reais e programas com grande apelo popular: instalação de redes de água, esgoto e construção de casas populares.
Para Negromonte, que não tem especial simpatia de Dilma,e ascendeu à pasta mais por relações com o PT da Bahia do que por apoio intrapartidário. Agora, com o controle do PP nas mãos do grupo de Márcio Fortes, Mário Negromonte desejaria reverter o jogo de modo supostamente heterodoxo.
Por serem fortes as acusações, baseadas em indícios preocupantes, não se pode descontar a possibilidade de que a presidenta venha a receber mais uma carta.
A Estranha Prisão dos Jovens Americanos
A boa fé dos jovens americanos presos nas montanhas iranianas só não convence o governo dos ayatollahs. Procedentes da região autônoma do Curdistão iraquiano, a trinca de ‘hikers’ Josh Fattal, Shane Bauer e Sarah Shourd, adentrou em julho de 2009 por engano o território do Irã. Embora os andarilhos tenham obtemperado que o seu ingresso aí foi de boa fé, por não haver sinais ostensivos de demarcação fronteiriça, para o regime de Teerã a tentação seria demasiado forte. Como não detê-los sob a incriminação de espionagem, e tê-los como virtuais reféns no seu longo embate com a superpotência ?
Presos na famigerada prisão de Evin – em que a tortura e os maus tratos são administrados pelos torpes guardas – os três encarcerados padeceram sob condições duríssimas, que tornam a estada nas antigas cadeias turcas quase brinquedo de criança. Em três anos apenas três breves telefonemas com familiares lhes foram concedidos. Quando até o recebimento de cartas da família lhes foi negada, Fattal e Bauer entraram em greve de fome.
A própria libertação de Sarah Shourd, no ano passado, assinala o nível da extorsão. Por disporem de meios, os parentes de Sarah tiveram de depositar uma fiança de quinhentos mil dólares !
A denegação de justiça – ou o que uma ditadura pode fazer com pessoas cuja única ‘culpa’ é terem passaporte americano – continua a sua cínica progressão. A mídia ora informa que os dois infelizes ‘hikers’ foram condenados a oito anos de prisão, por terem ingressado ilegalmente em território iraniano.
Josh Fattal e Shane Bauer dispõem de vinte dias para recorrer da sentença. Como não lhes é permitido o acesso de advogados defensores – nem poder receber visitas consulares -, intui-se a gravidade da situação dos dois desafortunados andarilhos.
Para os ayatollahs de Teerã, a dupla é uma presa que vem a calhar. Para eles, é um mero detalhe não respeitarem qualquer norma comezinha de respeito aos detidos.
Vivem em masmorras, guardados por boçais carcereiros, que devem deleitar-se com a oportunidade de sevícias que a presença dos excursionistas lhes traz.
Na história da humanidade, é longa a crônica dos reféns inermes em imundos calabouços. Para esses infelizes, o tempo não passa. O opróbio e a injustiça das longas detenções, em que os presos são submetidos a todo gênero de malvadeza é um triste capítulo, que deveria ser objeto de reflexão pelas potestades deste mundo sem qualquer exceção.
A Visita a New Hampshire de um discreto texano
Mais do que sobrancelhas se alçaram quando o novel précandidato à designação (nomination) para as eleições presidenciais de novembro de 2012 condenou o propósito do Federal Reserve Bank em emitir mais dólares. Rick Perry, governador do Texas, não ficou nisso, e ameaçou, por palavras, veladas uma recepção hostil se o presidente do Fed, Ben Bernanke cometesse a imprudência de aparecer em terras texanas.
O précandidato, cuja postulação tinha sido recebida com fanfarras e a expectativa reservada aos pesos pesado, se terá decerto surpreendido com o diapasão crítico provocado pelo ataque a uma das poucas quase unanimidades de Washington. Com efeito, Ben Bernanke foi indicado para o Fed pelo George W. Bush, e posteriormente confirmado para um segundo mandato, por Barack Obama. Despertou por isso mais do que estranheza o insólito ataque. O inesperado e mal dirigido ímpeto do novel postulante fê-lo receber uma saraivada de censuras e repreensões, que terão sacudido a segurança imperial do candidato.
A aparição de Rick Perry no pequeno estado de New Hampshire, na Nova Inglaterra, mostrou aos republicanos um outro avatar do texano, caracterizado pela discrição, quase humildade.
Esperando receber alguém à direita de Átila rei dos Hunos, Perry encantou a muitos pela moderação. Para quem já pensara alto acerca da possibilidade de o Texas retirar-se da União americana, o governador Rick Perry não calçava botas de cowboy, nem exibia postura arrogante. Indagado sobre o peso de suas palavras sobre o Fed, disse : ‘Ontem o presidente falou que eu deveria pesar bem o que digo. Gostaria de responder: senhor Presidente, os atos falam mais alto do que palavras. Minhas ações como governador estão criando empregos neste país. Os atos do presidente estão matando os empregos no país’.
Como candidato à Casa Branca, entende-se que Perry deseje Obama como interlocutor. Na verdade, a advertência a que respondia fora feita pelo secretário de imprensa da presidência.
Outro tópico que Perry tratou com cuidado extra foi a circunstância que no Texas a tese criacionista e a teoria darwineana da evolução recebem atenção paritária nas escolas públicas.
Quanto à propalada abertura de novos empregos no estado do Texas, de que se gaba Perry, o Prêmio Nobel Paul Krugman, em sua coluna, a apontou como uma falácia, que não resiste a um exame mais detido e aprofundado.
O Combate à Corrupção... na Índia
Vestindo o traje e a simplicidade de um Gandhi, Anna Hazare, iniciara o seu combate a endêmica corrupção na Índia com uma greve de fome. Atacado com razões burocráticas de desrespeito à autoridade – por realizá-la em praça pública -, a sua incrível e insensível prisão provocara o que comentarista televisivo denominaria de “catarse nacional sobre a corrupção”.
Capacitando-se do torpe erro cometido, o Primeiro Ministro Manmohan Singh, do partido do Congresso, cedeu, permitindo a liberação de Hazare, depois de três dias de detenção.
Segundo afirmou Hazare, sua greve de fome continuará até a aprovação do projeto do Jan Lokpal. Para contornar a resistência dos legisladores às emendas que deseja introduzir no projeto – que na sua versão atual concede imunidade ao Primeiro Ministro e aos altos escalões do Judiciário - Hazare, com a sua greve de fome e a circunstância de realizá-la em público optou por trazer a pressão da opinião pública em seu favor.
Existe na Índia desilusão pública com o processo político e a crescente falta de conexão entre o estamento dominante da classe governante e a massa dos governados. Nesse sentido, a corrupção generalizada, revelada em grandes e pequenas propinas, constitui um tópico explosivo.
A afronta feita ao ativista Hazare – que foi lançado no cárcere, enquanto os ladrões do partido governista lordeiam no parlamento – implicou em estúpido erro, típico da arrogância do poder. As centenas de manifestações espontâneas do povo indiano em favor de Anna Hazare levaram os nervosos funcionários governamentais a tentar soltá-lo da prisão. Hazare só admitiu sair se confirmada a autorização de continuar a greve de fome em praça pública. A autorização foi afinal dada, mas traz embutida a má-vontade burocrática, eis que foi limitada a quinze dias.
É terrível viver-se em países como a Índia, em que populares honestos e ascéticos – como o gandhiano Hazare – têm de arrostar o corporativismo de uma classe política que vive vida de privilégio e de impunidade.
(Fontes:VEJA, CNN, International Herald Tribune, O Globo)
Segundo denuncia a revista VEJA – depois dos episódios dos Transportes (Alfredo Nascimento) e Agricultura (Wagner Rossi) – o próximo da lista seria o Ministro Mario Negromonte. A dezessete do corrente, parlamentares do Partido Progressista (PP) procuraram a ministra de Relações Institucionais, Ideli Salvatti, para relatar estranhas ocorrências no interior do gabinete do ministro. O problema maior seria que Negromonte, de acordo com os informes, não se cingiria aos meios usuais da política (cargos, liberação de verbas,etc.), mas se estenderia a promessas de mesadas de trinta mil reais para quem quiser aderir.
Será possível ? Afinal, essas ‘bondades’ têm perturbadora semelhança com o mensalão – que o PT persiste em negar, a despeito dos 39 réus que tem à espera de julgamento pelo Supremo. Custa acreditar no fundamento de tal denúncia, que não só implica em fato ilegal, mas também que agride a inteligência.
Há seis anos o Ministério das cidades é feudo do PP. É o terceiro partido da ‘base’, com 41 deputados e cinco senadores. Tem orçamento de 22 bilhões de reais e programas com grande apelo popular: instalação de redes de água, esgoto e construção de casas populares.
Para Negromonte, que não tem especial simpatia de Dilma,e ascendeu à pasta mais por relações com o PT da Bahia do que por apoio intrapartidário. Agora, com o controle do PP nas mãos do grupo de Márcio Fortes, Mário Negromonte desejaria reverter o jogo de modo supostamente heterodoxo.
Por serem fortes as acusações, baseadas em indícios preocupantes, não se pode descontar a possibilidade de que a presidenta venha a receber mais uma carta.
A Estranha Prisão dos Jovens Americanos
A boa fé dos jovens americanos presos nas montanhas iranianas só não convence o governo dos ayatollahs. Procedentes da região autônoma do Curdistão iraquiano, a trinca de ‘hikers’ Josh Fattal, Shane Bauer e Sarah Shourd, adentrou em julho de 2009 por engano o território do Irã. Embora os andarilhos tenham obtemperado que o seu ingresso aí foi de boa fé, por não haver sinais ostensivos de demarcação fronteiriça, para o regime de Teerã a tentação seria demasiado forte. Como não detê-los sob a incriminação de espionagem, e tê-los como virtuais reféns no seu longo embate com a superpotência ?
Presos na famigerada prisão de Evin – em que a tortura e os maus tratos são administrados pelos torpes guardas – os três encarcerados padeceram sob condições duríssimas, que tornam a estada nas antigas cadeias turcas quase brinquedo de criança. Em três anos apenas três breves telefonemas com familiares lhes foram concedidos. Quando até o recebimento de cartas da família lhes foi negada, Fattal e Bauer entraram em greve de fome.
A própria libertação de Sarah Shourd, no ano passado, assinala o nível da extorsão. Por disporem de meios, os parentes de Sarah tiveram de depositar uma fiança de quinhentos mil dólares !
A denegação de justiça – ou o que uma ditadura pode fazer com pessoas cuja única ‘culpa’ é terem passaporte americano – continua a sua cínica progressão. A mídia ora informa que os dois infelizes ‘hikers’ foram condenados a oito anos de prisão, por terem ingressado ilegalmente em território iraniano.
Josh Fattal e Shane Bauer dispõem de vinte dias para recorrer da sentença. Como não lhes é permitido o acesso de advogados defensores – nem poder receber visitas consulares -, intui-se a gravidade da situação dos dois desafortunados andarilhos.
Para os ayatollahs de Teerã, a dupla é uma presa que vem a calhar. Para eles, é um mero detalhe não respeitarem qualquer norma comezinha de respeito aos detidos.
Vivem em masmorras, guardados por boçais carcereiros, que devem deleitar-se com a oportunidade de sevícias que a presença dos excursionistas lhes traz.
Na história da humanidade, é longa a crônica dos reféns inermes em imundos calabouços. Para esses infelizes, o tempo não passa. O opróbio e a injustiça das longas detenções, em que os presos são submetidos a todo gênero de malvadeza é um triste capítulo, que deveria ser objeto de reflexão pelas potestades deste mundo sem qualquer exceção.
A Visita a New Hampshire de um discreto texano
Mais do que sobrancelhas se alçaram quando o novel précandidato à designação (nomination) para as eleições presidenciais de novembro de 2012 condenou o propósito do Federal Reserve Bank em emitir mais dólares. Rick Perry, governador do Texas, não ficou nisso, e ameaçou, por palavras, veladas uma recepção hostil se o presidente do Fed, Ben Bernanke cometesse a imprudência de aparecer em terras texanas.
O précandidato, cuja postulação tinha sido recebida com fanfarras e a expectativa reservada aos pesos pesado, se terá decerto surpreendido com o diapasão crítico provocado pelo ataque a uma das poucas quase unanimidades de Washington. Com efeito, Ben Bernanke foi indicado para o Fed pelo George W. Bush, e posteriormente confirmado para um segundo mandato, por Barack Obama. Despertou por isso mais do que estranheza o insólito ataque. O inesperado e mal dirigido ímpeto do novel postulante fê-lo receber uma saraivada de censuras e repreensões, que terão sacudido a segurança imperial do candidato.
A aparição de Rick Perry no pequeno estado de New Hampshire, na Nova Inglaterra, mostrou aos republicanos um outro avatar do texano, caracterizado pela discrição, quase humildade.
Esperando receber alguém à direita de Átila rei dos Hunos, Perry encantou a muitos pela moderação. Para quem já pensara alto acerca da possibilidade de o Texas retirar-se da União americana, o governador Rick Perry não calçava botas de cowboy, nem exibia postura arrogante. Indagado sobre o peso de suas palavras sobre o Fed, disse : ‘Ontem o presidente falou que eu deveria pesar bem o que digo. Gostaria de responder: senhor Presidente, os atos falam mais alto do que palavras. Minhas ações como governador estão criando empregos neste país. Os atos do presidente estão matando os empregos no país’.
Como candidato à Casa Branca, entende-se que Perry deseje Obama como interlocutor. Na verdade, a advertência a que respondia fora feita pelo secretário de imprensa da presidência.
Outro tópico que Perry tratou com cuidado extra foi a circunstância que no Texas a tese criacionista e a teoria darwineana da evolução recebem atenção paritária nas escolas públicas.
Quanto à propalada abertura de novos empregos no estado do Texas, de que se gaba Perry, o Prêmio Nobel Paul Krugman, em sua coluna, a apontou como uma falácia, que não resiste a um exame mais detido e aprofundado.
O Combate à Corrupção... na Índia
Vestindo o traje e a simplicidade de um Gandhi, Anna Hazare, iniciara o seu combate a endêmica corrupção na Índia com uma greve de fome. Atacado com razões burocráticas de desrespeito à autoridade – por realizá-la em praça pública -, a sua incrível e insensível prisão provocara o que comentarista televisivo denominaria de “catarse nacional sobre a corrupção”.
Capacitando-se do torpe erro cometido, o Primeiro Ministro Manmohan Singh, do partido do Congresso, cedeu, permitindo a liberação de Hazare, depois de três dias de detenção.
Segundo afirmou Hazare, sua greve de fome continuará até a aprovação do projeto do Jan Lokpal. Para contornar a resistência dos legisladores às emendas que deseja introduzir no projeto – que na sua versão atual concede imunidade ao Primeiro Ministro e aos altos escalões do Judiciário - Hazare, com a sua greve de fome e a circunstância de realizá-la em público optou por trazer a pressão da opinião pública em seu favor.
Existe na Índia desilusão pública com o processo político e a crescente falta de conexão entre o estamento dominante da classe governante e a massa dos governados. Nesse sentido, a corrupção generalizada, revelada em grandes e pequenas propinas, constitui um tópico explosivo.
A afronta feita ao ativista Hazare – que foi lançado no cárcere, enquanto os ladrões do partido governista lordeiam no parlamento – implicou em estúpido erro, típico da arrogância do poder. As centenas de manifestações espontâneas do povo indiano em favor de Anna Hazare levaram os nervosos funcionários governamentais a tentar soltá-lo da prisão. Hazare só admitiu sair se confirmada a autorização de continuar a greve de fome em praça pública. A autorização foi afinal dada, mas traz embutida a má-vontade burocrática, eis que foi limitada a quinze dias.
É terrível viver-se em países como a Índia, em que populares honestos e ascéticos – como o gandhiano Hazare – têm de arrostar o corporativismo de uma classe política que vive vida de privilégio e de impunidade.
(Fontes:VEJA, CNN, International Herald Tribune, O Globo)
sábado, 20 de agosto de 2011
Notícias do Front (IX)
Estrebucha a ditadura de Kaddafi ?
Em meio a rumores de que o ditador Muammar Kaddafi estaria doente, rebeldes e forças governamentais se empenham em renhido combate pelo controle da cidade (e refinaria) de Zawiya, 40 km a oeste de Trípoli. Os rebeldes teriam ocupado Zlitan (150 km a leste) da capital. Em torno de Trípoli, aumentam as incursões da Liga Rebelde, o que levou ao fechamento da saída rodoviária para a Tunísia.
Se completar-se o cerco da capital líbica, com o anel rebelde cerrando-se em torno do último reduto de Kaddafi, é óbvio que a situação do líder da Jamairia há de assumir caráter dramático.
Restará ao coronel apenas o Mediterrâneo como eventual via de abastecimento (ou retirada). Dadas as condições prevalentes, sua utilização tende a ser muito precária, com o domínio dos ares pela OTAN, e a probabilidade de estabelecimento de um bloqueio marítimo. Se não houver retrocessos na progressão das unidades rebeldes, o cerco de Trípoli fechará as vias de comunicação por terra (a liga de Benghazi já controla mais de dois terços do país).
Em tais condições, circulam boatos de iminência da debandada do bunker pelo coronel, para tentar o refúgio na Tunisia. Se os progressos militares da Liga no entorno tripolitano se confirmarem, resta determinar em que termos se realizaria a fuga in extremis do coronel Kaddafi, ao cabo de mais de quarenta anos de ditadura.
A Situação de Bashar al-Assad
Os Estados Unidos, Alemanha, França, Reino Unido e Canadá pedem afinal a saída do ditador sírio. O presidente Obama determinou, outrossim, o congelamento de todos os depósitos sírios, assim como o embargo a negócios de cidadãos americanos com a Síria. Por sua vez, o Kremlin continua a apoiar Assad. No que tange a Brasil, Índia e União Sul-Africana – há pouco fizeram gestão do grupo Ibas dos embaixadores acreditados em Damasco encarecendo moderação ao regime alauíta - não se associaram à nova postura ocidental.
No cenário diplomático relativo à crise síria, resta determinar a posição da Turquia de Recip Erdogan, que antes se dissociara do governo de Damasco em função da desapiedada, brutal repressão pelas forças de Bashar da população civil da Síria. Há pouco, a atitude de Ancara fora mais incisiva que a do Ibas. Com efeito, a gestão, em nível de ministro do exterior, dadas as relações anteriores entre os dois países,e a circunstância da Turquia ser o vizinho ao norte, conferiu à missão respeitável carga de pressão. Nesse contexto, a seriedade da mensagem não poderia ser ignorada por al–Assad. Por não tratar-se de mera audiência protocolar, sua eventual desatenção ao recomendado pelo alto emissário de Erdogan tenderia a desencadear reações mais drásticas.
A atitude de Bashar al-Assad parece padecer de autismo agudo, em meio à pressão internacional. Com a determinação de uma coluna de lemingues, prossegue no seu caminho para frente, com os trucidamentos de manifestantes, a exemplo dos 29 civis abatidos nessa última sexta-feira, o dia santo muçulmano. As mortes decorrem de postura mais afirmativa dos manifestantes, que souberam contornar as muitas barreiras colocadas pelo regime para dificultar os protestos.
Dessarte, na província sulista de Daraa, há oito vítimas fatais em Ghabagheb, cinco em Herak, uma em Inkhel e uma em Nawa. Por sua vez, caíram cinco manifestantes na cidade ocidental de Homs, dois em Harasta, dois em Rehela e um em Douma, nos arredores de Damasco.
Como se verifica, malgrado a violência das tropas de Bashar, a calma da capital semelha estar sendo quebrada. Se são difíceis as grandes concentrações na principal cidade da Síria, a maré rebelde dá sinais de que não mais se confinará ao interior do país..
A Base não está nem aí
O autismo da chamada base no Congresso emitiu mais um sinal de grave falta de sintonia com a atitude da sociedade civil.
Para comandar a Comissão Especial da Câmara dos Deputados que discutirá mudanças no Código de Processo Civil – que visam a tornar a Justiça mais ágil e moderna – os líderes do PT Deputado Paulo Teixeira, e do PMDB, Deputado Henrique Eduardo Alves indicaram , respectivamente, os deputados João Paulo Cunha (PT-SP) e Eduardo Cunha (PMDB-RJ).
Como se sabe, a iniciativa dos líderes tem odores de provocação, eis que João Paulo é réu no processo do mensalão no Supremo, e Eduardo Cunha responde a inquérito também no STF. Atitude como essa das lideranças partidárias da ‘base’ está manifestamente na contramão das tendências prevalentes na sociedade e no próprio Judiciário.
Segundo se assinala, o Ministro do Supremo Tribunal Federal, Luiz Fux, que presidiu o grupo de juristas responsável pela proposta de reforma, ficou constrangido com a situação. Os dois indicados, além de não serem da área de competência, ainda por cima serão julgados pelo Ministro Fux no STF.
O corporativismo - que é o traço marcante de um Congresso inexpressivo enquanto não representa o sentir da sociedade civil – tende a pautar a ação respectiva pela alienação da realidade social. Como se não tivessem raízes e o processo eleitoral constituísse apenas uma efeméride com estritos limites, circunscritos à publicidade eleitoral, apuração e diplomação, a grande maioria dos congressistas age como se o mandato do colégio eleitoral fora formalidade jurídica, sem outras condições.
É mais do que urgente que a mobilização da sociedade civil sacuda essa doce ilusão de Suas Excelências. Um banho de realidade se impõe, para que se dissolvam tais sandices independentistas da base partidária.
( Fontes: O Globo, Folha de S. Paulo, International Herald Tribune )
Em meio a rumores de que o ditador Muammar Kaddafi estaria doente, rebeldes e forças governamentais se empenham em renhido combate pelo controle da cidade (e refinaria) de Zawiya, 40 km a oeste de Trípoli. Os rebeldes teriam ocupado Zlitan (150 km a leste) da capital. Em torno de Trípoli, aumentam as incursões da Liga Rebelde, o que levou ao fechamento da saída rodoviária para a Tunísia.
Se completar-se o cerco da capital líbica, com o anel rebelde cerrando-se em torno do último reduto de Kaddafi, é óbvio que a situação do líder da Jamairia há de assumir caráter dramático.
Restará ao coronel apenas o Mediterrâneo como eventual via de abastecimento (ou retirada). Dadas as condições prevalentes, sua utilização tende a ser muito precária, com o domínio dos ares pela OTAN, e a probabilidade de estabelecimento de um bloqueio marítimo. Se não houver retrocessos na progressão das unidades rebeldes, o cerco de Trípoli fechará as vias de comunicação por terra (a liga de Benghazi já controla mais de dois terços do país).
Em tais condições, circulam boatos de iminência da debandada do bunker pelo coronel, para tentar o refúgio na Tunisia. Se os progressos militares da Liga no entorno tripolitano se confirmarem, resta determinar em que termos se realizaria a fuga in extremis do coronel Kaddafi, ao cabo de mais de quarenta anos de ditadura.
A Situação de Bashar al-Assad
Os Estados Unidos, Alemanha, França, Reino Unido e Canadá pedem afinal a saída do ditador sírio. O presidente Obama determinou, outrossim, o congelamento de todos os depósitos sírios, assim como o embargo a negócios de cidadãos americanos com a Síria. Por sua vez, o Kremlin continua a apoiar Assad. No que tange a Brasil, Índia e União Sul-Africana – há pouco fizeram gestão do grupo Ibas dos embaixadores acreditados em Damasco encarecendo moderação ao regime alauíta - não se associaram à nova postura ocidental.
No cenário diplomático relativo à crise síria, resta determinar a posição da Turquia de Recip Erdogan, que antes se dissociara do governo de Damasco em função da desapiedada, brutal repressão pelas forças de Bashar da população civil da Síria. Há pouco, a atitude de Ancara fora mais incisiva que a do Ibas. Com efeito, a gestão, em nível de ministro do exterior, dadas as relações anteriores entre os dois países,e a circunstância da Turquia ser o vizinho ao norte, conferiu à missão respeitável carga de pressão. Nesse contexto, a seriedade da mensagem não poderia ser ignorada por al–Assad. Por não tratar-se de mera audiência protocolar, sua eventual desatenção ao recomendado pelo alto emissário de Erdogan tenderia a desencadear reações mais drásticas.
A atitude de Bashar al-Assad parece padecer de autismo agudo, em meio à pressão internacional. Com a determinação de uma coluna de lemingues, prossegue no seu caminho para frente, com os trucidamentos de manifestantes, a exemplo dos 29 civis abatidos nessa última sexta-feira, o dia santo muçulmano. As mortes decorrem de postura mais afirmativa dos manifestantes, que souberam contornar as muitas barreiras colocadas pelo regime para dificultar os protestos.
Dessarte, na província sulista de Daraa, há oito vítimas fatais em Ghabagheb, cinco em Herak, uma em Inkhel e uma em Nawa. Por sua vez, caíram cinco manifestantes na cidade ocidental de Homs, dois em Harasta, dois em Rehela e um em Douma, nos arredores de Damasco.
Como se verifica, malgrado a violência das tropas de Bashar, a calma da capital semelha estar sendo quebrada. Se são difíceis as grandes concentrações na principal cidade da Síria, a maré rebelde dá sinais de que não mais se confinará ao interior do país..
A Base não está nem aí
O autismo da chamada base no Congresso emitiu mais um sinal de grave falta de sintonia com a atitude da sociedade civil.
Para comandar a Comissão Especial da Câmara dos Deputados que discutirá mudanças no Código de Processo Civil – que visam a tornar a Justiça mais ágil e moderna – os líderes do PT Deputado Paulo Teixeira, e do PMDB, Deputado Henrique Eduardo Alves indicaram , respectivamente, os deputados João Paulo Cunha (PT-SP) e Eduardo Cunha (PMDB-RJ).
Como se sabe, a iniciativa dos líderes tem odores de provocação, eis que João Paulo é réu no processo do mensalão no Supremo, e Eduardo Cunha responde a inquérito também no STF. Atitude como essa das lideranças partidárias da ‘base’ está manifestamente na contramão das tendências prevalentes na sociedade e no próprio Judiciário.
Segundo se assinala, o Ministro do Supremo Tribunal Federal, Luiz Fux, que presidiu o grupo de juristas responsável pela proposta de reforma, ficou constrangido com a situação. Os dois indicados, além de não serem da área de competência, ainda por cima serão julgados pelo Ministro Fux no STF.
O corporativismo - que é o traço marcante de um Congresso inexpressivo enquanto não representa o sentir da sociedade civil – tende a pautar a ação respectiva pela alienação da realidade social. Como se não tivessem raízes e o processo eleitoral constituísse apenas uma efeméride com estritos limites, circunscritos à publicidade eleitoral, apuração e diplomação, a grande maioria dos congressistas age como se o mandato do colégio eleitoral fora formalidade jurídica, sem outras condições.
É mais do que urgente que a mobilização da sociedade civil sacuda essa doce ilusão de Suas Excelências. Um banho de realidade se impõe, para que se dissolvam tais sandices independentistas da base partidária.
( Fontes: O Globo, Folha de S. Paulo, International Herald Tribune )
sexta-feira, 19 de agosto de 2011
Alianças Políticas
Talvez não tenha sido intenção da presidenta Dilma Rousseff que a faxina no governo assumisse o alcance evidenciado tanto no ambiente político, quanto na sociedade. No que tange ao primeiro, a reação tende a ser negativa, porque a corrupção, como toda planta daninha, costuma proliferar. No que respeita ao entorno social, a raiva vem de longe, e a circunstância de haver sido reprimida por um período respeitável, não lhe retirou nem a pujança reativa, nem a rapidez na propagação. Muito pelo contrário.
Esses movimentos, quando desatados, podem semelhar o fogo, em campos e matas. Uma vez ateados, ganham força própria, correndo céleres por áreas imprevistas, na sua aliança com os ventos e demais caprichos da natureza.
Até o presente, essa nova criatura do Planalto tem sido divindade benfazeja para Dilma. Começou a livrá-la de entulho que, por sua condição, lhe tinha sido imposto pelo Presidente Lula. Mais talvez do que a três efígies atingidas (Palocci, Nascimento e Rossi), o ganho veio mais por acréscimo, ao brunir-lhe a imagem de faxineira empenhada na limpeza. E essa labuta de asseio se estendeu com proveito aos andares inferiores, conforme demonstrado pelo DNit.
A cruzada contra a corrupção – porque importa que Dilma refugue o eventual maniqueísmo da postura – ganha, na opinião pública, a força inercial desde muito represada pelos escândalos reflexos em segurança, hospitais, rodovias, portos, aeroportos e quejandos.
Não é à toa que frente política de respaldo à ação saneadora de Dilma Rousseff só possa colher nove senadores na Câmara Alta. Se forem sérios no propósito – e não factóide de uma semana, que se derreta com os primeiros arreganhos da primavera – no pequeno número estará grande parte de sua força.
Dizem que o Partido dos Trabalhadores – lembram-se acaso da formação aguerrida que não assinou a Constituição Cidadã, que expulsou um punhado de deputados que ousara sufragar Tancredo Neves, e erigiu o ‘não’ como blindagem às influências ditas espúrias da partidocracia ? – está irritado pelo desgaste à patina de ‘Nosso Guia’ implícita na faxina da sua criatura presidencial ?
Se procede ou não, não desafina do novo tom do PT, que hoje parece espojar-se com prazer em práticas fisiológicas, no longínquo passado pré-2003 escarnecidas e vilipendiadas. Dentre as dádivas de Lula, não será das menores o sistema das amplas coalizões partidárias pós-mensalão.
As consequências desse sistema para o cidadão são conhecidas. Basta transitar nas estradas esburacadas e sem acostamento, aceder aos deploráveis terminais terceiro-mundistas de nossos aeroportos, ou ter de recorrer a um hospital público, para sentir o que significa ser taxado de tributos como na Escandinávia, e dispor de um retorno de quarto mundo, em termos de infraestrutura.
Para afirmar o seu perfil, e não definhar na sombra dos títeres de um modelo de maximato mexicano dos tempos de Plutarco Elias Calles. é mister reconhecer que dona Dilma vem procedendo com habilidade, inteligência e pertinácia, ao reivindicar o seu lugar no panteão antes exclusivo.
Nesse sentido, a par dos contatos amiudados com o seu ubíquo criador, nossa primeira presidenta tem sabido, com destreza, mostrar ao que veio. Costura para tanto alianças antes impensáveis, como a empatia com Fernando Henrique, mais de uma vez sinalizada. Como FHC não há de deparar com simpatia a abertura da novel sucessora, justamente se lhe cotejarmos a experiência precedente, quando por motivos que não vale a pena escarafunchar, jamais o convidaram, sequer, para um cafezinho ?
Nem todas as embarcações da frota de Dilma vestem, de coração, suas cores. Sem embargo, seu jeito, destreza e até rompantes, os tem dissuadido de manobras hostis mais ostensivas. De todas as alianças, a mais relevante será a do povo, sobretudo se este entrevir na disposição da presidenta a vontade de fazer com que o impostômetro funcione mais em proveito do cidadão, de suas crenças privadas e dos seus anseios públicos.
Das excelências, terá todo o apoio que serão capazes de dar, se sentirem forte a ventania contrária. Mais aconselhável será contentar-se com as benesses próprias de seus cargos, que já não são de enjeitar.
quinta-feira, 18 de agosto de 2011
Dançando com dona Corrupção
Como todos sabemos, não existe corrupção no Brasil. Esta importante informação a podemos colher com o colunista Ricardo Noblat, que desaconselha, com sobejas razões, que se atribua tão ignóbil qualificativo a políticos brasileiros.
A prática judiciária demonstra que eles estão deveras conscientes de seus direitos nesse campo aleivoso e escorregadio. Dessarte, é recomendável evitar esse gênero de apodo, eis que a presunção de inocência foi levada pelo Supremo às últimas consequências.
Ao contrário de outros países, decerto mais atrasados nesses domínios, todo cidadão, sobretudo, me seja permitido agregar, aqueles que não são comuns (V. a respeito a memorável lição do presidente Lula da Silva) só podem ser havidos como culpados depois da ação passar em julgado. Ora, também se sabe, que muito justamente os políticos acusados dispõem de meios para defender a sua reputação,o que implica em longas tramitações nas três instâncias a que Suas Excelências têm, sem qualquer aceno de dúvida, todo o direito.
Para gáudio da Presidenta Dilma Rousseff – e horror de seu padrinho e criador – a faxina continua. Caíu mais um ministro, o paulista Wagner Rossi, do PMDB. Segundo se comenta, Rossi perdeu as condições de permanecer no cargo. Se não o tinha derrubado a desenvoltura com que o lobista Julio Fróes circulava pelas dependências no ministério, a que acedia pelo elevador privativo, a sua utilização de jatinho da Ourofino – empresa do setor agropecuário que obteve, só em 2010, 38,9 milhões de recursos federais – acabou por derrubá-lo.
Em sua carta de demissão, Wagner Rossi insinuou que as acusações contra ele têm a ver com a política paulista. As alusões quanto ao poder quase sobrenatural do ‘único político brasileiro’ que disso seria capaz, fazem pensar – consoante assinala Merval Pereira – que se tal procedesse José Serra teria tido mais sorte nas vezes em que disputou a presidência da república.
Dilma Rousseff pôde,assim, manter a imagem da faxineira. Depois de Antonio Palocci, Alfredo Nascimento e Nelson Jobim, Wagner é o quarto a sair do gabinete. Do quarteto, apenas Jobim foi exonerado por falar demais. As causas da demissão dos demais estão ligadas à faxina.
É bem verdade que Wagner Rossi se adiantou quando sentiu que a situação se tornara insustentável. Antes, no episódio do lobista, a presidenta se abalara a telefonar-lhe para cumprimentá-lo pelas explicações fornecidas, por ela julgadas convincentes.
Agora a bola está com o máximo representante do PMDB no governo, o Vice-Presidente Michel Temer. A ele caberá a prerrogativa (ou o ônus) de indicar o sucessor de Rossi na Agricultura. Mendes Ribeiro (PMDB-RS), atual lider do governo seria o mais cotado. Constantes da lista de prováveis contendores, o ex-Ministro e deputado Reinhold Stephanes (PMDB-PR) e Valdemir Moka (PMDB-MT).
Conforme se comenta,a presidenta teria deixado nas mãos de Temer o destino de seu afilhado político. Tinha ela a consciência de que não deveria tomar a iniciativa de afastá-lo, pois tal fato poderia abalar de maneira definitiva a sua relação com o PMDB.
Por isso, as cousas ficaram por conta de Temer. Teria percebido que a eventual permanência de Rossi por mais alguns dias poderia também ‘contaminá-lo’. Para uma conversa tensa o Ministro da Agricultura chegara ao gabinete do Vice-Presidente. Disse na oportunidade que não seria ‘um empecilho’. Foi combinado então que se comunicaria à Presidenta a saída de Rossi.
Na luta pela moralização do governo, a faxina continua a avançar. Repercute bem na opinião pública e, por conseguinte, nas avaliações de Dilma Rousseff. Observa-se, a propósito, que este sentimento de repúdio à corrupção se difunde na sociedade e não só nos andares mais altos.
É um desenvolvimento importante, porque a política alternativa – a de conviver com a corrupção, como se fora um mal menor, cuja erradicação traria descomunais prejuízos contra a governabilidade – é um falso caminho. Qualquer um pode ver o que representa – nos três níveis de governo – esta chaga. Ao contemplarmos seus efeitos – nas rodovias e estradas de ferro, na infraestrutura de portos e aeroportos, na desgraça da assistência médica, na falta de segurança, e em tantas outras coisas, grandes e pequenas – nós podemos vê-la e sentir uma raiva forte e anônima.
Não te enganes, porém. Em cada propina que porventura te arrancarem e que pensaste ser do teu interesse, estarás colaborando para tornar tua vida – e a de teus próximos – ainda mais desagradável e difícil.
Não é só na Índia que a luta contra a corrupção é oportuna e tem o apoio da maioria do povo. Porque, quem se dissocia desse combate, ou é doente da cabeça, ou dela se beneficia.
( Fonte subsidiária: O Globo )
quarta-feira, 17 de agosto de 2011
A Líbia é um atoleiro ?
O pessimismo do coronel Muammar Kaddafi ao conversar com seu velho amigo Ben Ali tinha fundos motivos. Por tantos anos Líbia e Tunísia tinham sido bons vizinhos. Agora sopravam de Túnis maus ventos, desencadeados por um simples verdureiro. Na verdade, a compreensão do líder da Jamairia com a situação do presidente tunisiano não era apenas fruto de suposto altruísmo. Quem depusera o rei Idris em 1969 sabia que a vizinha sublevação não deixaria de afetar-lhe e até contagiar-lhe os próprios domínios.
Essa para ele deplorável progressão lhe invadiria o país, assim como o vizinho Egito. Hosni Mubarak iria cair igualmente. Não obstante, as coisas lá seriam diferentes. A revolução da praça Tahrir permanece incompleta e não há sinal verossímil de que o exército pretenda ceder o lugar a poder civil. Afinal, desde 1952, com a derrubada do rei Faruk, na terra dos faraós o mando veste farda.
O dito famoso de Lord Acton sobre o poder e a corrupção cairia, com o passar dos anos, como uma luva sobre o jovem major que, em clássico golpe de estado em soberano viajante, foi aos poucos se transformando em ambulante caricatura das suas ilusões.
A revolução verde que pensara implantar na sociedade tribal da Líbia terá sido sempre mais fantasia do que planta a lançar raízes. Apesar de mais de quarenta anos no poder, plantou as sementes da cizânia – gramínea que os militares gostam de citar – ao imitar, sem o saber, o princípio dos Bourbon. Não esquecendo a aliança das tribos da Cirenaica com o soberano deposto, como poderia perdoá-las ?
Se, como disse Heródoto, o Egito é uma dádiva do Nilo, a Líbia será uma ilusão geopolítica, com províncias costeiras que remontam à antiguidade helênica, e vasto, desértico interior onde jorra valioso petróleo.
Na primavera árabe, a rebelião líbica seria outro fenômeno anunciado. O levante de Benghazi e das localidades do litoral oriental viria fatalmente. Espontâneo, desorganizado, sem estrutura castrense nem armamento pesado, foi encarado a princípio com benévola indiferença pelo Ocidente. Paradoxalmente, Kaddafi tratou de ajudá-lo ao procurar debelá-lo como se fora hoste estrangeira, empregando para tanto os seus aviões bombardeiros e a artilharia.
Ao agir como um tirano, terá pensado no exemplo do general Omar al-Bashir do Sudão, a quem o Ocidente favoreceu, não interferindo pelo genocídio de Darfur. Agora, a maior exposição da costa e a riqueza petrolífera em jogo terão pesado mais, transformando a postura ocidental nas proativas bombas da OTAN.
Depois de estabelecer área de proibição de sobrevoo, e de posteriormente tentar, de forma sistemática, alcançar o que Reagan não havia conseguido, as limitações da aliança rebelde, as suas dissensões internas, a par da endêmica desordem no conflito líbico, a recusa de Kaddafi em sair de cena, tudo isso conduziu a um estado de estagnação.
As defecções da Jamairia, acentuadas a princípio, hoje refletem o aparente marasmo militar. Há entusiasmo, mas não organização na Liga Rebelde. Não lhe faltam apoios políticos, mas a supremacia aeromilitar não se afigura bastante para culminar o que antes se julgara inexorável. Por outro lado, Kaddafi pode ser patético na resistência – assim como às vezes semelham patéticas as visitas que se animam a prestar-lhe estranha solidariedade, que parece mais fundada na confusão ideológica do que em avaliação de princípios.
Está, portanto, formado o atoleiro ? A OTAN bombardeia – e as suas incursões, por vezes, nada têm de burocrático – mas não logra atingir o sonhado bunker do coronel. Será que a história voltará repetir-se em farsa ?
Como deste drama falta o fim, fica difícil ler o que reservam as paredes – ou ruinas – do futuro.
Há gente que busca apelar para a razão. Talvez, ao invés de solução, tal convicção constitua parte do problema. Porque nesse entrevero – como na interminável novela pregressa – existem pessoas que deram sempre rédea solta ao corcel da paixão, ignorando o do discernimento. Como até agora julgam ter-se dado bem...
(Fonte subsidiária: International Herald Tribune)
terça-feira, 16 de agosto de 2011
Notícias do Front (VIII)
A Morte mais do que anunciada
As desculpas das autoridades, jogando implicitamente a responsabilidade da falta de segurança sobre a vítima, é comportamento que não contraria a habitual negligência. Não eram segredo, segundo informa O Globo, as ameaças de morte à juíza Patrícia Acioli.
Dois dias antes do assassinato, policial civil da Delegacia de Combate às Drogas (Dcod) esteve na Polícia Federal para informar que havia plano para executar a juíza, considerada linha-dura (sic) nos julgamentos contra PMs da banda podre de São Gonçalo.
A própria futura vítima, Patrícia Acioli, estivera na semana anterior ao crime, na sede da Corregedoria da P.M., onde teria referido estar sendo ameaçada por policiais do 7º BPM (São Gonçalo) e do 12º BPM (Niterói).
Por outro lado, informação recebida a quinze do corrente pelo Disque-Denúncia indica quatro detentos do presídio Ary Franco, em Água Santa, como os mandantes do crime. Ligados à exploração de máquinas caça-níqueis em Niterói, São Gonçalo e Maricá estariam por trás do assassinato da juíza.
Consoante as intenções desse grupo criminoso, os próximos alvos seriam um juiz federal de Niterói e o perene ameaçado, o deputado estadual Marcelo Freixo (PSOL), presidente da CPI das Milícias que divulgou relatório referente ao assunto.
Como se sabe, os honestos incomodam, mais ainda os da têmpera e coragem de Marcelo Freixo. A circunstância de alcunhar de linha-dura os magistrados e deputados que cumprem seu dever em combate contra a corrupção e o crime organizado é um triste, ignominioso sinal da dúbia atitude de muitos. Olhando para o outro lado, a sua omissão contribui para que esses crimes se tornem possíveis.
Frente Parlamentar contra a Corrupção
Registrem-se os nomes dos poucos senadores integrantes da Frente contra a Corrupção: Pedro Simon (PMDB-RS); Cristovam Buarque (PDT-DF); Pedro Taques (PDT-MT); Randolfe Rodrigues (PSOL-AP); Jarbas Vasconcelos (PMDB-PE); Ricardo Ferraço (PMDB-ES); Ciro Miranda (PSDB-GO); Ana Amélia Lemos (PP-RS) e Eduardo Suplicy (PT-SP). Assinale-se que há apenas duas adesões da oposição.
Quanto ao PT diz muito acerca da nova posição do Partido dos Trabalhadores, que pouco ou nada tem a ver com as suas aguerridas posições quando na oposição. Que um movimento lançado por Simon para respaldar a atitude ética da presidenta tenha apenas o apoio simbólico de uma estrela solitária do PT constitui o indício mais acachapante da adesão petista à cultura da ‘base fisiológica’ prevalente no Congresso, de emendas parlamentares e apoios não de princípio mas de oportunidade.
É também deplorável que a oposição (PSDB e DEM) não venha integrar a frente contra a corrupção. Negar apoio à Dilma Rousseff na sua faxina mostra à sociedade que, na verdade, as bancadas desses dois partidos não diferem muito das da ‘base’.
Nos discursos, releva sublinhar: continuação da faxina (Simon), que seja completa, incluindo o PMDB ( Vasconcelos). O toque original foi dado por Cristovam: não queremos ficar só na faxina. “ É hora de a presidente chamar para conversar pessoas que não querem indicar nenhum cargo”, ao contrário da prática dos últimos governos, em que o presidente só chama quem quer indicar cargos ou liberar emendas.
Reações contra Ricardo Teixeira
O presidente Ricardo Teixeira, há cerca de vinte anos à frente da CBD, declarou à revista Piauí que só se preocuparia com acusações quando aparecessem no Jornal Nacional da Rede Globo.
Pelo visto, os tempos principiam a mudar. A Globo, no telejornal do sábado, se reportou a gastos públicos do Distrito Federal em amistoso Brasil x Portugal, na gestão do governador Arruda. Há implicação, posto que discreta, de Ricardo Teixeira.
Haveria algum filtro de proteção ao ainda poderoso Teixeira ? Nesse contexto, vem a lume manifestação popular contra o ex-genro de João Havelange, que pede a sua saída da CBD.
Por outro lado, a BBC inglesa acusou três integrantes da Comissão Executiva da Fifa (Teixeira, Nicolás Leoz do Paraguai e Issa Hayatou, dos Camarões) por terem recebido na década de 90 propinas da ISL, empresa de marketing desportivo.
Que haja nuvens pesadas sobre a Fifa e seu presidente Sepp Blatter, o processo de sua última eleição deixou entrever.
Por enquanto, Ricardo Teixeira não tem recebido a necessária atenção.A menção à passeata contra ele em São Paulo não foi de grande realce. Em época de faxina, seria interessante que o longo mandarinato de Teixeira na CBD caísse sob crivo investigativo.
Afinal, o Brasil se apresta a ser o anfitrião da Copa do Mundo. A opinião pública deveria ter maior acesso às questões relativas à longuíssima gestão de Teixeira. Até o momento, por considerações de programação esportiva, em particular da Rede Globo, Sua Senhoria continua a ser tratado com luvas de pelica.
Tudo o que concerne à seleção, no país do futebol, máxime o atual desgoverno no setor técnico, deve interessar a todos nós. Por isso, agradeceríamos cobertura mais isenta.
( Fonte: O Globo )
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