terça-feira, 19 de julho de 2011

Que desenvolvimento para o Brasil ?

           Fazer parte dos BRICs e ser saudado como país emergente não nos deve fazer esquecer os desafios que temos por diante Tomemos, por exemplo, a balança comercial. Dependendo de como a vejamos, ela pode ser objeto de satisfação, e igualmente de preocupação.
           Tradicionalmente, ela é o aspecto positivo em nossas operações com o exterior, na medida em que nos possibilitou, no passado, saldos bastante amplos que favorecem resultados positivos no balanço de transações correntes.
           No entanto, certos aspectos negativos ou continuam a prevalecer, ou se têm acentuado nos últimos anos. E tais características não são de molde a que nos entreguemos ao fácil triunfalismo da inexorável emergência.
           Em termos de composição da balança comercial, persiste a predominância das commodities, i.e. matérias primas, sobre as manufaturas. Nada contra o agronegócio, mas sim contra o traço permanente da pauta de exportações, em que os produtos de base (soja, carne, café, minérios, etc.) sejam os carros-chefe.
           Além de o mercado internacional de commodities ser propenso a flutuações pronunciadas – o atual boom não é garantia para o futuro – a circunstância de termos uma proporção inferior na produção de produtos industriais e mais ainda naqueles de alta tecnologia, além de não nos trazer a mais-valia do trabalho especializado nas vendas, nos atrela a um dos estigmas do subdesenvolvimento, vale dizer uma pauta de exportações marcada pelo sobrepeso dos produtos de base, aqueles de mais baixo teor agregado de mão-de-obra.
           Como poderemos pretender ascender a mais altos patamares na potência industrial e tecnológica, se ainda atrelamos o nosso carro à característica marcante dos países menos desenvolvidos, vale dizer, a dependência em uma pauta de vendas historicamente voltada para as matérias primas ? E não entraremos aqui na questão do desmate e da perda de recursos naturais,posto que devamos tê-los presente pois a pujança do agronegócio pode ter esses pés de barro.
           Dessarte, a despeito de todo o oba-oba da máquina governamental, por ora estamos defrontados com uma constante que nos acompanha desde os tempos da colônia: plus ça change, plus c’est la même chose (por mais que isto mude, continua a ser a mesma coisa).
           A par da falta de investimentos pelo governo, seja no incentivo ao estudo e ao aperfeiçoamento em ciência e tecnologia, seja na infraestrutura básica plurissetorial, ao invés de sua ênfase no assistencialismo e no incremento dos gastos correntes, carecemos de ter presente que a atual apreciação do real na verdade é um presente de grego se ambicionamos efetivamente mudar esta realidade.
           O real sobrevalorizado em relação ao dólar estadunidense é uma fábrica diferente das tradicionais. Além de incentivar o turismo para o exterior, e de aumentar, portanto, o desequilíbrio no balanço de invisíveis, favorece notadamente a compra de bens de capital e de consumo do exterior, em prejuízo dos nacionais.
           Tornar o produto externo mais barato, não só nos ‘presenteia’ com balanços negativos em termos de bens de capital e de consumo durável, mas também – e o que é mais grave – estimula a desindustrialização em nosso parque fabril.
           O Brasil é um país-continente, dotado de pletora de recursos naturais. No entanto, nos deixamos embalar pela lisonja de acrônimos (como o de BRICs), e temos uma propensão a abusar do aspecto extrativo e agrícola de nossa potencialidade, enquanto descuramos de investimentos, não só em educação, saúde e saneamento, senão em base industrial multifacetada, incluindo a alta tecnologia. Esta última é o degrau indispensável do verdadeiro desenvolvimento, de um país que não deveria estar a venda, mas que deseja ser senhor da respectiva grandeza.
           Se há um real projeto de progresso e desenvolvimento em nosso país, ele não passa por um país que é superavitário em matérias primas, e deficitário em bens de capital e de consumo durável.
           E se este projeto nacional deseja realmente transformar-se em realidade, ele não pode omitir-se na educação e no desenvolvimento de parque industrial de alta tecnologia, que tenha vocação de grandeza comparável ao agronegócio.
           O Brasil, além de não estar à venda, não deve ser precipuamente a sede benfazeja de sucursais estrangeiras. Sem nos desfazer da tradicional hospitalidade, cumpre não esquecer o que é praticado através do Atlântico. O desenvolvimento carece de ter sempre presente o seu caráter nacional. Que, numa relação equilibrada, não deve jamais ficar a reboque de interesses de outras economias.





( Fonte subsidiária: O Globo )

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