A Presidenta Dilma Rousseff, como é notório, ‘herdou’ do antecessor Luiz Inácio Lula da Silva diversos ministros que não teria mantido, se acaso tivesse liberdade para designar a respectiva equipe. Por indicações diretas ou por constrangimento, Dilma confirmou ou incluíu ministros que jamais pensaria ter no próprio gabinete.
Desse contrapeso político, a presidente se irá desfazendo com o passar do tempo, que, além de resolver muitos problemas, tende a afrouxar compromissos, ainda mais se ajudado por manifestas dissonâncias e escorregadelas.
O Ministério dos Transportes semelha candidato forte para entrar neste lista. Atual feudo do Partido da República – que sucedeu ao Partido Liberal, que escorrera pelo ralo do mensalão – no M.T. dois personagens dão as cartas: o Ministro Alfredo Nascimento – que voltou à antiga casa pela mão de Lula após o malogro de sua candidatura à governança do Amazonas – e Valdemar Costa Neto, presidente de honra do PR (Nascimento é o presidente em exercício).
Posto que esteja no sexto mandato, a trajetória de Valdemar na Câmara foi interrompida em 2005, pela renúncia, para evitar a provável cassação por conta do mega-escândalo do mensalão. Para a atual legislatura, deve a eleição às sobras de legenda proporcionadas pela votação obtida pela estrela do partido, o palhaço Tiririca (um milhão e trezentos e cinquenta e quatro mil votos, o mais votado do país).
A situação nos Transportes é uma das heranças malditas do Presidente Lula. A despeito das suspeitas de irregularidades nessa pasta, Lula nada fez, preferindo aí manter Nascimento, como mais um sacrifício no altar da governabilidade e da costura da base política para eleger a sucessora, assim como na formação de larga rede de suposta sustentação parlamentar.
Sendo a infraestrutura rodoviária escândalo nacional, é lamentável que seja entregue a um grupelho cuja inadequação para a ingente tarefa ficou exposta na reunião de 24 de junho no Palácio do Planalto. Segundo a revista Veja, convocados a palácio os integrantes da cúpula do MT, o Ministro Nascimento escusou-se, alegando ‘compromissos pessoais intransferíveis’, mas os demais dirigentes – Paulo Sérgio Passos, secretário-executivo; Luiz Antonio Pagot, diretor-geral do Dnit; e Luiz Carlos Oliveira Machado, diretor de engenharia da Valec – compareceram para um senhor pito de quatro horas.
Na companhia das Ministras Gleisi Hoffmann (Casa Civil) e Miriam Belchior (Planejamento), Dilma declarou que “o Ministério dos Transportes está descontrolado”. Manuseando a documentação, acrescentou: “Vocês são inadministráveis e estão inviabilizando o meu governo”. O motivo da cólera presidencial eram os preços ‘insuflados’, i.e., na linguagem burocrática, superfaturados.
No particular, classificou de “abusiva” a elevação do orçamento de obras de ferrovias, que pulou de 11,9 bilhões em março de 2010 para 16,4 bi no mês de junho de 2011, um salto de 38%.
Mais adiante, asseverou : “Vocês precisam de babá. E terão três a partir de agora: a Miriam, a Gleisi e eu”.
Posteriormente, chamou o Ministro Nascimento, de quem cobrou providências imediatas e mandou afastar a cúpula do Departamento Nacional de Infrasestrutura de Transportes (Dnit). Também a estatal Valec é, segundo O Globo, alvo de constantes denúncias de corrupção.
Por ora, o Ministro continua prestigiado na Pasta, havendo Dilma concordado com a solução do afastamento temporário para os principais acusados.
A fama de durona da Presidenta Dilma Rousseff se baseia notadamente nos puxões de orelha que costuma aplicar e que já fazem parte das estórias da Praça dos Três Poderes.
Decerto, o estilo de Dilma e suas enérgicas censuras constróem um perfil. No entanto, reprimendas devem, em princípio, constituir o intróito de ações prontas e eficazes. A irritação presidencial precisa levar a resultados objetivos. Se as suspeitas são graves e as chefias não correspondem, o país não se pode dar ao luxo de que sejam mantidos ministros e altos funcionários cujo comportamento não é satisfatório. Tampouco se determinada a responsabilidade do titular, por ação ou omissão, o sacrifício do segundo escalão não extirpa a origem do mal. Nesse sentido, se a configuração do ministério continuar na mesma, a opinião pública tenderá a ver os sermões presidenciais como apenas outro jogo de cena.
Com a palavra – e a caneta – a Senhora Presidenta.
( Fontes: VEJA e O Globo )
segunda-feira, 4 de julho de 2011
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