A Operação Grécia
O segundo salvamento da Grécia teria de vir através da Chanceler Angela Merkel com a assistência de Nicolas Sarkozy. A cúpula da União Europeia foi uma vez mais precedida pela reunião franco-germânica. Esse virtual diretório da U.E. é uma realidade factual, que se sobrepõe às assembleias pan-europeias. Se há relação de interdependência, inexistem dúvidas acerca da ordem dos fatores, que se desrespeitada irá alterar – e inviabilizar – o produto.
No ritual que cabe à parte devedora, o Primeiro Ministro grego, Giorgos Papandreou foi mantido na ignorância que compete aos postulantes. Até a noite de quinta-feira 21, a delegação helênica desconhecia se do encontro Merkel-Sarkozy viria a fumaça branca da afirmação, ou a negra da recusa.
Como a dívida grega equivale a 140 % do PIB, há muitas dúvidas quanto à possibilidade de pagamento. A perspectiva desastrosa do calote, com o efeito bomba no restante do continente, terá sido o maior estímulo para a renegociação da dívida, com juros reduzidos e prazos prorrogados.
Nesse novo acordo europeu para atender a crise helênica, todas as partes tiveram que fazer concessões. O crescente ônus para a Alemanha, como a mais forte economia, com as crises financeiras de Grécia, Irlanda e Portugal – além da má situação de economias bem maiores como Itália e Espanha – tem acarretado a irritação de seu eleitorado com a Chanceler. No entanto, dado o comprometimento histórico de Berlin com a união europeia, essa relação tende a ser ambígua, na medida em que o eleitor espera da Merkel que trabalhe por uma Europa forte, a par de reduzir os gastos alemães com essa criatura, prestações essas que não são necessariamente compatíveis.
A solução negociada inclui uma certa participação dos bancos credores, na medida em que a dívida foi prorrogada com juros flexibilizados. Garantias como a inserção em empréstimos de bens físicos (edifícios, terrenos e companhias) a título de colaterais, foram consideradas ofensivas pela delegação helênica e retiradas do texto.
Por outro lado, o Banco Central Europeu, ainda sob a direção de Jean-Claude Trichet, logrou aumentar a disciplina na área do euro. Nesse sentido, a responsabilidade de apoiar a Grécia caberá primariamente aos países europeus. A Chanceler teve de concordar com substancial reforço e expansão do Fundo de salvação regional – i.e., a Entidade Europeia de Estabilidade Financeira (EFSF) – que foi autorizado a comprar títulos da dívida soberana em mercados secundários e do Banco Central Europeu. Se o BCE não encerrou formalmente o seu programa de intervenção no mercado de obrigações, o acordo acima representa um êxito para o Banco Central de Trichet, ao ficar desobrigado dessa tarefa pela EFSF e, por conseguinte, dos países membros.
O Terror no Paraíso
O morticínio na Noruega – cerca de noventa pessoas abatidas por um carro bomba no centro de Oslo e um atirador aparentemente isolado na ilha de Utoya, próxima da capital – levantou a suspeita de eventual participação de rede islâmica.
Essa reação quase automatizada da mídia uma vez mais não foi confirmada. Quando literalmente estourou o atentado de Oklahoma – em que o americano Timothy McVeigh matou 168 pessoas e feriu outras 700 – o finado ensaísta Edward W. Said, radicado em Nova York, mas de origem palestina, recebeu dezenas de telefonemas de jornalistas americanos, feitos na presunção de que ele poderia trazer algum elemento para aclarar os eventuais responsáveis, havidos por essas fontes como árabes ou islâmicos.
Compreende-se a sensação de desconforto do então professor de Universidade de Columbia. No entanto, essa reação simplista vem sendo contrariada por episódios como o da afluente e bem-comportada Noruega, em que um branco de olhos azuis com o nome de Anders Behring Breivik dava vazão em programais sociais da internet à sua revolta contra o multiculturalismo que a seu ver ameaçava o Reino norueguês.
Esse tipo de revolta ou de raiva inexplicável nos usuais padrões de conduta tem vários e inquietantes exemplos em diversos países (como se verificou recentemente, tampouco o Brasil está excluído de tal tipo de comportamento associal). À primeira vista, recordam aquele proverbial raio que fulmina alguém a esmo, partindo da serenidade de um céu azul.
Hoje se encontra esse gênero de manifestação de violenta e letal explosão de um turvo inconformismo nos cenários mais diversos. Em geral, parte de solitários que desejam despejar sobre conglomerados associados a lugares que, a seu juízo, lhes trouxeram humilhação ou rejeição o produto de uma indignação malcompreendida.
Por vezes, a raiva de setores lumpen da sociedade se empenha em voltar-se contra os supostos responsáveis pelo seu fracasso individual ou coletivo. O infeliz candidato a alvo será sempre o integrante de uma minoria. Nesse jogo macabro, o ‘objetivo’ ou o bode expiatório tem preocupante característica camaleônica, no sentido em que esta posição havida como pouco invejável pode ser assumida por qualquer um, desde que caia na roleta do preconceito em uma situação que por conjunção infeliz de fatores de repente se transfigure em de excessiva e negativa potencialidade contrária.
A Revolução Árabe Democrática
O conflito líbio se arrasta. Os rebeldes da Liga, se a sua revolução entra no sexto mês, e o respectivo Conselho tem o reconhecimento de mais de trinta países, não são capazes de transmitir, por enquanto, a sensação de uma força irresistível contra os remanescentes feudos da Jamayria do Coronel Muammar Kaddafi.
Se dispõem dos bombardeios da OTAN e se tal ajuda lhes foi instrumental para deter a reação de Tripoli, não tem sido por ora suficiente seja para desequilibrar irremediavelmente o conflito, seja para coagir Kaddafi e sua clique a retirar-se de cena.
O ânimo das forças rebeldes persiste, mas a sua coordenação e maior eficácia em termos de armamentos continuam a fazer falta.
Nesse sentido, o enfrentamento na Líbia, malgrado a sua ocasional letalidade, se assinala pela baixa intensidade, característica essa que parece mais favorecer aos redutos do statu quo. Semelha, à primeira vista, uma contradição, atendidos os progressos realizados pela causa.
Mas se Kaddafi foi indiciado pelo Tribunal Penal Internacional, o próprio Presidente do Sudão General Omar al-Bashir terá todos os elementos para tranquilizar o coronel sobre a eventual periculosidade de tal situação.
Por outro lado, a virtual estagnação na frente não é compensada, ou modificada por ganhos de apoio no exterior.
Na Síria, o regime de Bashar al-Assad goza do apoio da Federação Russa. Moscou não deseja perder o seu aliado, e por isso inviabiliza qualquer resolução do Conselho de Segurança das Nações Unidas, que possa criar reais dificuldades para a tirania da família Assad.
Até o presente, esse veto implícito russo não lhe tem provocado muito desgaste de parte do State Department, que estaria evitando até o momento posições mais afirmativas, tendentes a abalar a imobilidade moscovita, ou, pelo menos, a torná-la mais onerosa em termos de imagem.
No terreno, continua a rejeição da maioria da população ao regime alauíta. No entanto, falta por ora um apoio mais determinante e com consequências materiais mais efetivos, para respaldar a sublevação.
Não há dúvidas sobre a impopularidade de Bashar al-Assad e de sua constelação. Sem embargo, existe um limite claro para a permanência de espírito de confrontação, que é o da perspectiva de possibilidade de sucesso. Nesse tipo de regime, que não sofre limitações de caráter ético, a pressão popular tem de encontrar um outro apoio que pareça aos sublevados convincente em termos de probabilidade de afetar a resistência do ditador.
Se ao invés, o deserto virtual em matéria de ajuda pareça inamovível (situação iraniana, em que a revolta contra o esbulho da reeleição de Ahmadinejad não teve qualquer apoio externo), o levante não terá condições de prosseguir indefinidamente.
(Fontes: International Herald Tribune, Veja, O Globo)
domingo, 24 de julho de 2011
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