terça-feira, 26 de julho de 2011

Dívida: Desastre Anunciado ?

           À medida que o prazo fatal se aproxima e, a despeito das repetidas reuniões entre democratas e republicanos, não existe sobre a mesa de negociações perspectiva concreta de acordo.
           Aqui não mais cabem menções ao desaparecimento do espírito bipartidário. Há uma falta maior, que concerne à carência de responsabilidade nacional. Ontem à noite, o Presidente Barack Obama fez apelo televisado para que se chegue a entendimento a fim de evitar o pior.
           Nunca os Estados Unidos estiveram tão perto da moratória. Obama assinalou, a propósito, que os eleitores podem ter votado por um governo dividido, mas jamais por um governo disfuncional.
           As próprias pesquisas de opinião espelham tal juízo. Dois terços dos consultados, concordam em que os republicanos não agiram com responsabilidade, ao atrelar um compromisso internacional dos Estados Unidos à consecução de objetivos políticos da plataforma do GOP.
           O discurso de John Boehner, o Speaker da Câmara de Representantes, não acena com disposição à solução de compromisso, ao bater nas teclas do equilíbrio orçamentário, e da não elevação de tributos. A tônica de suas palavras volta a alinhar-se com a maioria intransigente de sua bancada. Temeroso da reação da linha do Tea Party, Boehner já recuara de entendimento com Obama, no que tange a solução abrangente da questão.
           A própria popularidade de Obama, depois da súbita elevação por causa do êxito da operação contra Osama bin Laden, evidencia a contaminação pela crise, posto que ainda 52% da opinião reconheça estar o presidente agindo com responsabilidade nesta crise da dívida. Nesse contexto, cerca de 30% dos eleitores culpam Obama.
           Republicanos mais calejados têm externado sua inquietação com as eventuais consequências para o partido. Foram eles assistentes do filme em que jogada parecida de Newt Gingrich contra o Presidente Bill Clinton fora rejeitada pelo eleitorado, com perdas substanciais para o GOP.
           Em 1995 não se chegou à beira do abismo financeiro, como agora ameaça ocorrer.
           Não haverá retórica, por mais hábil que seja, capaz de toldar para o público a realidade factual, que é a da precípua responsabilidade do Partido Republicano em criar para a nação estadunidense esta crise da moratória. Ao tornar a elevação do teto da dívida pública refém de condicionamentos doutrinários, em outras palavras, ao praticar tentativa de extorsão política para alcançar objetivo determinado, sem preocupar-se com as graves consequências nacionais a serem precipitadas, o GOP, por mais hábil e confusionista que seja na retórica empregada, não logrará eludir a respectiva e pesada responsabilidade perante o povo americano.
          Tampouco se pode neste momento aquilatar plenamente os graves efeitos da crise a ser deflagrada, que alguns equiparam àquela de 2008. Ora, causar tal estrago à economia nacional e internacional por escopo sectário será assinar confissão de irresponsabilidade e de irretratável falta de espírito público.
          A uma semana da data-limite, o tempo se afigura exíguo para que o desastre não venha a acontecer. Se há sempre a esperança de que as últimas horas despertem um sentido de composição e de conciliação, que não só o interesse do país exige, o reduzido prazo e sobretudo a disposição intransigente de uma das partes semelham atravessar-se no caminho do bom senso.


( Fonte: CNN)

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