A ‘mágoa’ do Partido da República, aquele de Valdemar Costa Neto e Alfredo Nascimento, pode ser até genuina, se a tentarmos entender dentro do presente contorcido sistema brasileiro de governo.
O regime é dito presidencialista, mas em uma caterva de ministros, a presidenta, ao invés de escolher uma plêiade de auxiliares, guindados aos respectivos cargos por sua capacidade, competência e integridade, se vê na maior parte constrangida a apenas chancelar as indicações dos partidos da coalizão.
Ironicamente, ela dispõe de uma ‘quota’ de ministros, que ela ‘pode’ nomear a seu talante. Essa magnânima parcela, que os ávidos partidos lhe atribuem, se descobre no caso em tela estar um tanto prejudicada, eis que a criatura Dilma, ao montar o ministério, teve de atender às ‘solicitações’ de quem a retirou da própria algibeira, para impô-la ao PT e, em consequência, ajudado pelos vacilos da oposição, arrancar-lhe a eleição em segundo turno, superado o susto do primeiro.
E não foram poucos, a dizer verdade, os nomes soprados por Luiz Inácio Lula da Silva. Deixemos de lado esta coorte, em que nem sempre o mérito terá sido o peso determinante na balança, para singularizarmos a figura do Senador Alfredo Nascimento. A sua manutenção no cargo – após o parêntese da malograda campanha pela governança do Amazonas – se terá devido, segundo conhecido colunista, a um desejo pessoal de Lula, por causa de um terceiro, a quem ligam laços de estreita amizade ao presidente de honra do Partido dos Trabalhadores.
Descoberta a profusão de irregularidades no Ministério dos Transportes, a sessão de reprimendas no estilo de Dilma Rousseff pôs em praça pública o que muitos decerto não ignoravam, com a corrupção nos preços superfaturados das licitações, a que, na incrível desenvoltura de departamentos e estatais encarregados da infraestrutura viária do Brasil, se chegava aos ‘aditivos’.
Com o afastamento dos supostos responsáveis – notadamente Luiz Antonio Pagot, do Dnit (ligado a Blairo Maggi) e José Francisco das Neves, da Valec – a peteca da suspeição caíu na quadra de Alfredo Nascimento, cuja responsabilidade política não semelhava cabível de ser varrida para baixo do tapete.
Em rápida fritura, o ministro Nascimento caíu, mas a turma do P.R. – de que participa como co-gestor Valdemar Costa Neto, do antigo P.L. e envolvido no mensalão – reagiu, não com o manto do arrependimento, mas calçando os coturnos da mágoa em ter a sua gente tratada de maneira ríspida.
Nesse ponto é que se abre a chaga de incômoda realidade. A tal esmagadora maioria parlamentar que apóia a administração de dona Dilma, na verdade, é um agregado disparatado de partidos em que a cupidez e a ganância prevalecem sobre o interesse da Nação.
Estranho presidencialismo este em que a Chefe do Executivo parece ter menor poder do que um primeiro ministro de regime parlamentar. Este, pelo menos, dentro de um programa político acordado pelos partidos que o apóiam, seleciona nome de sua estrita confiança. Como se sabe, não é o caso no presidencialismo de Lula e Dilma.
E tal é demonstrado com brutal sutileza pelo corrente entrevero da nomeação de um ministro, que pela constituição é demissível ad nutum pela Presidenta. Magoada, a cúpula do P.R. vetou, repito, vetou a efetivação do ministro interino dos Transportes, Paulo Sérgio Passos, que era o ‘desejo’ da Presidente da República.
Não me deterei no tamanho médio da bancada da agremiação que surgiu da crisálida do PL, oportunamente abandonada por Valdemar Costa Neto e correligionários. Mas se o número dos integrantes do P.R. é suficiente para que a Presidenta não exerça a sua faculdade constitucional de seleção de auxiliares diretos, recuando prontamente em face da ‘mágoa’ do P.R., e, incontinenti convidando o patrono de Luiz Antonio Pagot, o senador Blairo Maggi, detentor de tantos troféus, entre os quais o de ‘Motosserra de ouro’ conferido pelo Greenpeace, alguma coisa – e não das menores – está profundamente errada nesta República.
Qual será o signo desta suposta governabilidade, em que a presidenta, dita enérgica e autoritária, não evidencia autoridade no mais comezinho de seus direitos, que é o de selecionar seus ministros, mas se deve curvar a agremiações como o P.R., aguardando paciente enquanto esta figura de proa do Mato Grosso analisa os prós e os contras de sentar-se na cadeira de Alfredo Nascimento.
Que esses prós e contras pouco tenham a ver com o desafio de mudar a triste realidade de infraestrutura viária que desserve ao Brasil, e sim com as implicacões políticas da eventual abertura de armário que se murmura cheio de esqueletos, eis outro aspecto que não se acresce à glória presidencial.
(Fonte: O Globo )
sexta-feira, 8 de julho de 2011
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