A história das crises de inadimplência – o chamado estouro dos calotes – costuma ter monótona evolução. A princípio, a euforia do crédito fácil, o que se vê agravado se o governo tem algum interesse em incentivar as compras. Sob a sensação de que agora vai ser diferente, as classes C e D se entusiasmam com as tão generosas ofertas de bens de consumo duráveis.
Os anúncios na mídia falam de oportunidades únicas, sem entrada, com a primeira prestação empurrada para uns dois ou três meses à frente, as parcelas fragmentadas em longos períodos, a perder de vista, e ainda por cima declarados sem juros !
O consumidor e a família se entusiasmam. Não só acreditam nas promessas, senão atraídos pelas ofertas embarcam no gostoso frenesi das compras !
Sem dar-se conta de que muitas módicas prestações mensais podem representar mais além um peso insuportável, nunca dantes neste país tanta gente de apertados meios acorre ao canto da sereia do comércio a crédito e, pasmem, sem juros !
Essa farra, que o governante interessado em criar falsa atmosfera da mágica terra da abundância não só permite, mas incentiva, vem a calhar para as grandes empresas revendedoras do comércio, e mais além para a indústria e as montadoras estrangeiras.
E o povão acode, mesmerizado e entontecido pela publicidade desenfreada, para a grande festa do ilusório consumismo.
Parte para o carro novo e os luzentes eletrodomésticos. Julga-se convidado para a festança das muitas aquisições, alacremente empilhando carnês e duplicatas, que, no entusiasmo das compras, vai cevando os gordos jornalões com seus cadernos especiais, as empresas e as montadoras, que falam em curvas ascendentes da atividade econômica e pensam nas fartas remessas para as matrizes lá fora.
As classes C e D por uma vez se acreditam convidadas para a grande festa. Tantas ofertas, tantas vantagens, resistir quem há de ? Não sabem, porém, que tudo aquilo deverá ser, daqui a uns poucos meses, por elas bancado.
Então as mesuras, os sorrisos, as facilidades viram miragens no deserto, e o vendedor risonho com seus acenos de créditos a perder de vista se metamorfoseia na carantonha do cobrador importuno, insistente e, no final, na cruel burocracia de sonhos desfeitos na realidade dos ávidos credores, na rotina dos bens arrancados pelos eternos capangas de uma farsa que se descobre, com todos os pormenores de um fim de sonho, no qual, sorrisos e afagos viram grosserias rituais do cair na real, sem nem mesmo o toque poético do e agora José.
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Hoje, nos jornais, com preocupação assinala-se que a inadimplência sobe a 22,3% no primeiro semestre, o que é a maior alta em nove anos !
Interessante notar, a propósito, que este calote supera a todos os demais dentre esse período de nove anos, que, por coincidência, é simultâneo com a assunção ao poder por Luiz Inácio Lula da Silva e o petismo.
Com relação ao mesmo período de 2010, em 2011, de janeiro a junho, aumentam em 7% os cheques sem fundo,e os títulos protestados em 14,9%. Diminuiram em 2% as dívidas com os bancos.
Segundo se lê nas colunas, os especialistas, que são as pitonisas a interpretarem os fumos e os humores dessa entidade inaferrável que é o mercado, dizem que o consumidor de baixa renda pode ser o principal responsável pelo aumento nos calotes.
Vejam só. Quem pensava que era rei e convidado principal, ora é visto como estraga-festas.
Com os vapores da inflação e as medidas indispensáveis de restrição ao crédito, foi enfim individuado o principal responsável, aquele que de um jeito ou de outro, vai ter de pagar a conta.
( Fonte subsidiária: O Globo )
terça-feira, 12 de julho de 2011
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