segunda-feira, 11 de julho de 2011

É Hora de Reproclamar a República

            Há muitas lições a serem tiradas da suposta descoberta de irregularidades no Ministério dos Transportes. Descoberta talvez não seja a expressão apropriada porque o simples fato de não declará-las ostensivamente, por espaço de tempo considerável, não implica em admitir que tais desvios de comportamento fossem desconhecidos até então.
            A integridade é apanágio que não carece de muita retórica. Como segunda natureza, ela acompanha quem a pratica não por contingência e muito menos por ostentação. A sua exposição independerá dos cuidados que seus imitadores costumam empilhar sobre os rotos trajes da corrupção. Como no episódio do rei nu, bastará uma fímbria de verdade para que a contrafação salte aos olhos de quem quiser ver.
            O Globo de hoje estampa assertiva que, entre outras reações, deve merecer estudo aprofundado. Leiamo-la, portanto, com atenção redobrada:
           
                              “Blairo: Pagot só fazia o autorizado”

            Pedindo um pouco de paciência ao leitor, gostaria de reportar-me à relevância neste contexto do comentário do jornalista Janio de Freitas sobre o estranho procedimento adotado pela Presidenta Dilma Rousseff, ao encarregar o ex-Ministro Alfredo Nascimento de indicar nome para a pasta da qual vinha de ser demitido por notórios e sabidos motivos.
            Que o despropósito de tal cometimento tenha escapado a muitos, não diz pouco sobre o estado ético da República. Se me permitem a comparação, em matéria de política o Brasil regrediu ao feudalismo. A raínha soberana não tem autoridade sobre os barões e seus feudos. A admissão desta realidade fática está no gesto, lógicamente absurdo, mas correto no respeito ao poder efetivo, de solicitar ao donatário da capitania a indicação de novo sucessor. A rainha não abdica da faculdade formal de apor a real chancela à designação feita pelo barão, que é de senhor do respectivo feudo.
            A prática atual acaso respeita o artigo 84, inciso I, da Constituição Federal ?
            Se a competência privativa do Presidente de República de nomear e exonerar os Ministros de Estados está sendo atendida na essência, não creio seja assunto de discussão. Se há adesão à forma, quem há de afirmar que também o mérito, a substância esteja sendo respeitado ?
            Antes de concluirmos a análise deste pormenor, semelha importante assinalar que ele nos indica a trilha para que a sociedade civil saia do matagal onde a meteram. Com efeito, tal particular nos é útil para que nos convençamos da urgência da reforma política. Sendo a situação de ponta-cabeça, de que nos serve a postura do avestruz ?
            No que tange à frase do Senador Maggi - indicado pelo chefe do Partido da República para sucedê-lo - a sua formal, ilusória aparência está, em realidade, eriçada de ameaças. Essa batida e tristemente notória defesa do burocrata – apenas cumpriu ordens – no caso em tela, mais parece a ponta de um ariete com que os pelotões do senhor feudal investiam os portões da fortaleza, malgrado o óleo fervente, as pedras e as flechas que os sitiados defensores do castelo lhes arrojavam.
            Sem embargo das atitudes e das posturas, o estado da república exige a coragem e resolução de um Marquês de Barbacena. Se o exemplo deveria ser imitado, que o seja adaptado às circunstâncias presentes. Não é o caso, por conseguinte, de anunciar ao soberano a sua próxima queda, tornada inevitável pela própria responsabilidade, mas sim expor à presidenta, com bíblica concisão, o que as festas em palácio não podem ocultar:
            Faça a reforma, antes que seja demasiado tarde.


( Fonte subsidiária: O Globo )

Nenhum comentário: