Que exista um problema político em nosso país, pode parecer uma dessas afirmações feitas por virtual desconhecido em auditório repleto. Após o pigarrear de um dos membros da mesa, e a troca indefinivel de olhares entre outros, não há reação perceptível no público, que permanece distante.
Que opções se atribuirá à assistência ? Será alienação, indiferença ou cinismo ? Então, não terá ela condições de julgar e acha preferível não participar, ou se encastela em visão cética e ao mesmo tempo debochada da realidade ?
Em todos esses estados de espírito se nos depara a inação, como traço básico de uma atitude.
O Brasil é um país gigante, por sua própria natureza. Conceito que parece genérico, a ponto de estar no hino nacional.
Não obstante, se afigura discutível que os nossos antepassados o vissem como se nos apresenta hoje.
A criatura atual sofre de uma das deformações que acometem entidades do seu tamanho. A inchação pode parecer à distância robustez, mas qualquer exame perfunctório lhe determina o caráter mórbido.
A insensibilidade acompanha esse gigantismo. Não é só o ministério que ganha dimensões absurdas, sem conexão com a realidade.
O mais grave não está aí, neste número ridículo de trinta e nove ministros. Pois tal inchação não é fenômeno isolado, que se cinja ao Poder Executivo Federal.
Alastrou-se por toda a parte. Tudo leva a crer que o processo de fragmentação do Pará será implementado em breve, com o aumento de mais dois estados, e o mínimo de mais oito deputados e três senadores, por unidade federativa.
Sem falar nas assembleias legislativas e governanças estaduais, que se multiplicam, sob o olhar conivente de Câmara e Senado. E alguém há de pensar que o processo para nisto ?
Assim, os presentes e atuantes 513 deputados vão aumentar, posto que o número demográfico não cresce em totais absolutos. Também será o caso do Senado, com o acréscimo de seis outros senadores, para os novos estados. Teremos então, ao invés de 81 senadores, oitenta e sete ! O que contribuirá para incrementar ainda mais o funcionalismo de Câmara e Senado, com os seus padrões salariais que humilham tanta gente, a cujas atividades não correspondem remunerações comparáveis.
Pois essa multiplicação administrativa da burocracia dos três poderes não é uma assombração. Constitui fenômeno generalizado no que tange à distribuição de benefícios extraordinários à casta singularizada. Encontradiça sobretudo em nível estadual, com a criação de pensões de privilégio a altos representantes, a título de ex-governanças. O número de apaniguados torna-se ainda mais deplorável por incluir personalidades antes assinaladas pela postura ética.
Esse mesmo relativismo com respeito à distinção entre fazenda pública e finanças privadas se alastra por todos esses brasis, como o vemos nos programas da tevê, no desvio das dotações de educação e saúde, por tantas prefeituras que não se cingem aos grotões de que nos falava Tancredo Neves. E o que impressiona será a desenvoltura e a arrogância com que atuam esses prefeitos, secretários municipais e vereadores, a apoderarem-se das verbas da merenda escolar ou da assistência a flagelados (como na catástrofe da serra fluminense).
Exceções sempre existirão, mas a proliferação de exemplos nos transmite a incômoda impressão de que toda essa gente – a exemplo do Ministério dos Transportes e alhures – encara a corrupção como a missão precípua do posto a que acedeu, não importa se pelo voto, ou por indicação política.
À medida em que os episódios se acumulam – quem não se lembra no piparote quase negligente nos três mil reais de propina ao dirigente partidário nos correios (e que deu a largada ao juízo do mensalão) – a revolta do povo tende a cansar-se, não fora a monótona repetição de comportamento idiossincrático, e que se distingue da rotina de cada um, na planície sem privilégios e com muito trabalho.
Tudo isso, se não justifica, decerto explica o silêncio ou a inação daqueles que já se cansaram com o espetáculo. Talvez isto mude no futuro. Por ora, há enorme distância entre a festança de poucos e o dia-a-dia dos muitos. Tudo isso regado com os fundos extraídos por eficientíssima máquina de arrecadação, talvez uma das poucas coisas que realmente funcionem neste país. Já quanto à eficácia no retorno da carga dos tributos...
(Fonte subsidiária: Folha de S. Paulo )
quarta-feira, 20 de julho de 2011
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