Para resumir, muitos conhecem os motivos – e as supostas desatenções – que permitiram à República Helênica lograr aquilo por que ansiava, i.e., o ingresso na Zona do Euro. Representava a culminação do processo de articulação de economia relativamente pequena – admitida nesse clube em 1981, quando a União Europeia ainda se denomina Comunidade Econômica Europeia (CEE) - no prestigioso círculo da U.E. Significava, assim, a colimada distinção, com a sua elevação ao estágio mais elevado de participação, vale dizer a entrada na Zona do Euro.
Com vistas a perfazer os requisitos, o governo helênico contou com a benevolência de agências classificadoras. A crise financeira internacional de 2008 mostraria, para os incautos, qual a real validade das classificações dessas agências. Mas não foi somente por artifícios contábeis, que os astutos gregos conseguiram ilaquear os fiscais dos requisitos para a almejada ambição, o maior deles sendo o déficit orçamentário inferior a 3% do P.I.B. Quiçá na euforia do momento, as autoridades responsáveis fingiram que acreditavam nas solenes assertivas helênicas.
De qualquer forma, Atenas passou a ombrear com os membros plenos da Zona do Euro. Abandonado a histórica dracma, terá parecido a gregos ricos e pobres que com o euro lhes era dada a chave do paraíso dos ricos. A princípio, pouco lhes importou que os déficits orçamentários se acumulassem. Fariam ouvidos de mercador às advertências de Frankfurt – onde está o Banco Central Europeu -, de que ora se despede o francês Trichet.
As falhas principais do sistema do euro só seriam sentidas mais tarde. A princípio, tudo foi flores. A bolha imobiliária hipervalorizara as propriedades e as moradias. As facilidades do crédito, fundadas na suposta solidez financeira dos principais membros da UE – Alemanha e França – corriam livremente, sem as travas da prudência. Quem vivesse na Grécia colheria a impressão de uma sociedade inebriada pelos vapores do consumismo. Compravam com a álacre desenvoltura de quem julga dispor de fundos ilimitados.
Não há negar o caráter ilimitado. O único problema seriam as discretas letrinhas das obrigações contraídas. Aquilo que adquiriam – e que lhes conferia a ilusória vertigem de conviver com os ricos e opulentos – pressupunha garantias e recursos que não possuíam.
A síndrome do devedor, no entanto, tem muito a ver com o vício do jogador. A sorte redentora o aguarda logo ali, no próximo girar da roleta. O devedor se fia igualmente na deusa fortuna, posto que sob forma diversa. Acredita na perenidade da renovação dos papagaios (os termos decerto variam, mas a realidade da dívida se aplica a todos os papéis que comprometem a que se encalacra com débitos acima das respectivas posses).
Como a história econômica iria demonstrar na U.E. havia muitos países que percorriam confiantes o chão traiçoeiro dos passivos que se avolumavam, sob a condescendência dos banqueiros.
O desastre do Banco Lehman Brothers, de setembro de 2008, lançaria os Estados Unidos e em seguida a Europa, em crise sem precedentes. Toda a cidadela costuma ser conquistada pelo trecho mais frágil na respectiva muralha.
Surgiria, desse modo, a primeira crise da economia grega, a que as reticências de muitos, sobretudo da Chanceler Angela Merkel, tornariam demasiado lento o processo de concessão da ajuda à República Helênica.
A face da Grécia desde então é a de Georgos Papandreou, o lider do Pasok (socialista), que recebeu da Direita um Estado à beira da falência. Depois de muitos ires e vires, Papandreou recebeu a ajuda de Bruxelas, que veio recheada de pesadas condições.
A crise helênica, depois de longo percurso, recrudesce novamente. No horizonte europeu as dúvidas se acentuam com a corrente de tempestades anunciadas e temidas (Irlanda, Espanha, Portugal e Itália).
Há países que, a exemplo de certos bancos estadunidenses, malgrado os monumentais passivos, semelham grandes demais para falirem: as viúvas do Lehman Brothers estão aí, a chorarem por uma falência que inda reputam como imprudente, sobretudo por ter aberto as cancelas do inferno da crise econômica-financeira.
Nos Estados Unidos com as insânias especulativas do mercado do subprime (ah! as hipocrisias do marketing! Não mais automóveis usados para vender, eis que foram substituídos pelos seminovos). Certos bancos não desconheciam o caráter dos documentos financeiros que, negociados por agentes sem qualquer fiscalização governamental, forneciam a absurda garantia para outras transações da especulação desenfreada. Com generosas classificações dadas pelas agências reguladoras, tais certificados era quase lixo, eis que juntavam obrigações que logo seriam contestadas, pelo detalhe de que seus portadores breve seriam inadimplentes...
Como um carrossel vienense, a Grécia reaparece como involuntária protagonista. O antes novel Georgos Papandreou continua a ser o síndico de uma falência irresolvida.
Por um punhado de votos, o governo socialista não soçobrou. Para sobreviver, Papandreou teve de remanejar o gabinete, tirando das Finanças o desgastado Giorgos Papaconstantinou, trazendo para o ministério-chave um antigo adversário intrapartidário, Evangelos Venizelos, que tem peso político e altas ambições. Terá quiçá ajudado a salvar Papandreou do voto de desconfiança. Se enfrentará agora o inferno austral de negociar com a UE, notadamente Berlim e Paris, as novas condições de manter a barca helênica ainda em condição navegável, Venizelos ganhará de lambuja a exposição internacional para pretender o acesso a cargo que a sua ambição persegue.
As manifestações da praça se repetem. Havia muitas vantagens que os sindicatos tinham obtido e que nas refregas recorrentes não puderam ser mantidas. No entanto, nas calamidades a justiça fica mais cega do que nunca. Não será apenas a imagem batida que, junto da água do banho, muitas outras coisas que farão falta se perderão.
Nesses tempos interessantes do imaginário chinês, dentre as verdades que como laranjas maduras o viajor, a seu próprio risco, pode animar-se a empolgar, aquela de que está para repontar é a do partido na União Européia que, porventura detentor do governo no parlamento nacional, venha a realizar o milagre de vencer as eleições para o próximo período constitucional... Qualquer oposição, na raiva do eleitor, será reputada preferível.
( Fontes subsidiárias: O Globo e International Herald Tribune)
sábado, 25 de junho de 2011
Assinar:
Postar comentários (Atom)
Nenhum comentário:
Postar um comentário