segunda-feira, 13 de junho de 2011

Dilma e o Datafolha

           Apesar da crise política e dos dissabores com o Congresso, o governo de Dilma Rousseff sobreviveu com poucos indícios desfavoráveis nesta pesquisa do Instituto Datafolha, feita sob o impacto da partida do Ministro-Chefe da Casa Civil, Antonio Palocci e da apresentação ao público da nova cara da Administração.
           Com efeito, apesar de a longa saída do Ministro Antonio Palocci haver sido prejudicial ao governo (segundo sessenta por cento dos brasileiros), paradoxalmente essa crise não lhe afetou a aprovação.
           Na verdade, a leitura da pesquisa Datafolha, divulgada neste domingo, se afigura um exercício em dois níveis. À primeira vista, não há modificações de monta no quadro geral. Houve até elevação na curva da avaliação geral do governo Dilma, que passou de 47% a 49%, no ítem ótimo/bom. Igualmente baixou o ítem ruim/péssimo de doze para dez%, enquanto também encolhia o percentual dos que ‘não sabem’ de sete para três %.
           Contudo, a pesquisa Datafolha não é assim tão unilateral quanto parece em uma primeira leitura. Na realidade, há um segundo nível nas respostas, que podem constituir problemas futuros.
           Houve uma piora da imagem da presidenta em três dos quatro ítens da consulta. Essa deterioração relativa se deverá à demora de Dilma Rousseff em demitir o Ministro Palocci. Dessarte, a caracterização de ‘decidida’ caiu dezessete pontos (de 79% em março para 62 %). Também a de ‘muito inteligente’ baixou de 85% para 76%, e a de sincera, de 65% para 62%.
           Cabe mencionar, a propósito, que a queda na avaliação de Dilma Roussef foi somente entre os brasileiros com educação superior. Já entre aqueles da faixa de ensino fundamental ou médio, a aprovação, ou ficou estável, ou aumentou.
           Entretanto, mesmo nas camadas mais baixas o sinal amarelo está aceso. Assim, em relação à economia, há uma deterioração generalizada na expectativa. A queda, inclusive, é mais forte entre os mais pobres, por serem os que mais sofrem com os perniciosos efeitos da carestia (que lhes restringe a capacidade de adquirir alimentos).
           Nesse sentido, a maioria da população (51%) acha que a inflação vai continuar subindo (em março, somente 41% eram dessa opinião). Consequência natural dessa expectativa é a da queda no total dos que crêem que o poder de compra vá aumentar  (decresce de 43% para 33%).
           Em um horizonte economicamente mais sombrio, não espanta que também aumente o sentimento de que o desemprego tende a crescer ( passa dos 27% anteriores a 33%).
           Não obstante, há ainda certa margem de otimismo na economia. 42% julgam que ela vai melhorar, ou então ficar na mesma (37%). Aumentou a quota dos pessimistas, que se elevou de 9% para 17%.
           Por que esse pessimismo ainda não atingiu de forma sensível a popularidade do governo Dilma ? A suposição dos especialistas reside na circunstância de que os seus efeitos palpáveis ainda não se mostram de modo intenso na rotina diária dos entrevistados. Dessa maneira, se 45% reconhecem que às vezes falta dinheiro, não houve incremento no índice dos que sofrem de muita dificuldade financeira.
           Por fim, se a recente desenvoltura do ex-presidente Lula, reavivou os temores da tutela e o corolário da incapacidade política do governo Dilma de desatrelar-se do criador, e chegar à maioridade - o que é visível no despencar do conceito de ‘decidida’ – o remanejamento no comando administrativo e no da articulação política concede uma extensão do crédito de confiança na imagem da Presidenta.
           A esse respeito, é interessante assinalar que a exemplo do governo (1906-1909) do mineiro Afonso Pena, do início do século vinte – cujo ministério, pela juventude dos membros, fora denominado de ‘jardim da infância’ – o de Dilma ganha igualmente caráter infantil, com a alcunha de ‘clube da Luluzinha’.
           Apelidos à parte, o que interessa ao eleitor é que funcionem.




(Fonte: Folha de São Paulo )

Nenhum comentário: