Ela chegou de repente. Trazida pelas páginas de um jornalão, sem cerimônia, instalou-se no Palácio do Planalto. A princípio, o atingido e a envolvida, ainda que indiretamente, pensaram que o remédio para este mal súbito fosse a negação, seja de sua existência, seja das implicações dentro e fora do palácio.
Daí, duas negações principais: a das convocações por comissões do Congresso e a das entrevistas explicativas. Se não regassem a planta, pensaram que murcharia e feneceria, sob as vistas indiferentes do poder.
Ora, a tática do silêncio não funcionou. A princípio a oposição, antes havida como incompetente, quase supérflua, ensaiou as primeiras chamadas, que a coesa maioria recusou.
Sem embargo, as linhas Maginot estão aí para serem testadas, provadas e circundadas. E a insídia do ataque residirá sempre na iniciativa e na consequente surpresa.
A persistência também trará seus frutos, sobretudo se o mutismo, ao invés de abafar, comece a espicaçar a antes sólida formação defensiva.
E a maioria, nascida do oportunismo eleitoral, e sem maiores laços que não a conveniência, principia a perder a coesão nas próprias fileiras.
Então o núcleo da perturbação, instado ou não, resolve falar. Não sabe que, na volúvel dinâmica das crises, a entrevista para o nervoso jornalista nas cancelas escancaradas do Jornal Nacional já chega tarde.
Tampouco a loquacidade das declarações, e a enganosa confiança trazida pela impressão de hábeis respostas, lançará para o público o que quer ouvir: o nome dos clientes, a natureza das consultorias, e o montante da paga pelos serviços.
O corifeu da crise acreditou agradar à sua senhora e soberana ao dizer que ela é pessoal e não de governo.
Como jeitoso cortesão, com esse gesto de generosa aparência, pensa atingir dois objetivos: encolher a crise, ao individualizá-la, e agradar à presidenta, que, talvez em se julgando imune, possa ser mais condescendente com o pesado súdito.
Infelizmente tudo indica que não será assim. No ar, além dos aviões de carreira de Aporelli, existem muitas tramas e conluios. Que me recorde, por leituras e experiências, nenhuma presidência repontou nos seus primeiros meses de forma tão incerta e claudicante.
É hora de mostrar ao que veio. Deixou de ser – e não por vontade própria, mas por resolução de 55 milhões de votos – a gerente eficaz e enérgica, que carece da orientação do chefe.
Agora, quer queira ou não, precisa decidir e não esperar pela palavra dos outros, mesmo daquele a quem muito deve.
Os auxiliares, por capazes que sejam, serão sempre auxiliares. Se a chefe muito deles depende, tal se refletirá na qualidade da respectiva chefia.
Quem tem competência, deve estabelecer-se. E quanto mais cedo, melhor.
segunda-feira, 6 de junho de 2011
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