segunda-feira, 13 de junho de 2011

A Democracia em Marcha

Na Turquia.


            Apesar da foto, com majestático aceno à invisível multidão de sufragantes, as eleições de domingo doze de junho não sairam conforme os ambiciosos planos do primeiro-ministro Recep Tayyip Erdogan.
            Erdogan desejava que o terceiro mandato – está no poder desde 2002 – representasse a consolidação da predominância do AKP (Partido da Justiça e Desenvolvimento). Para tanto, ambicionara alcançar cerca de 350 cadeiras no Parlamento, o que lhe possibilitaria emendar a Constituição vigente sem necessidade de apoio de qualquer outro partido.
            Dadas as características da governança do AKP – a que me reportei no blog Eleições na Turquia, de sábado último – se caminharia não só para reformas econômicas, mas também políticas que eliminariam as garantias leigas estabelecidas pela Constituição vigente. No entanto, a colimada vitória não foi assim tão retumbante, eis que a bancada do AKP, com 50% dos votos, passa a ter 325 cadeiras (em 550), número inferior ao atual, que é de 341 deputados.
            Sem a ‘supermaioria’, Erdogan deverá por de lado os projetos de virar presidente em um regime presidencialista. Por isso, a sua linguagem adota tom conciliatório: ‘O povo nos deu a mensagem de construir nova Constituição por meio do consenso e da negociação’.
            Por sua vez, o Partido Republicano do Povo (CHP) obteve 26% dos votos. Se o total ficou aquém dos planos do líder Kemal Kiliçdaroglu, elegeu 135 parlamentares (tinha 112), o que é suficiente para bloquear mudanças unilaterais na Constituição. Nesse sentido, Kiliçdaroglu asseverou: ‘Desejamos todo o sucesso ao AKP, mas eles devem lembrar que há agora um partido opositor fortalecido.’
            O terceiro partido, que sai diminuído do pleito, é o Partido Movimento Nacionalista (MHP), com 54 deputados. Os independentes cresceram para 36, o que poderá garantir maior abertura para as suas pretensões em defesa das minorias, notadamente a curda.


E na Síria.


            Não teve muita dificuldade o comandante da 4ª. Divisão do Exército sírio, Maher al-Assad de atingir o objetivo de extinguir o levante na cidade nortista de Jisr al-Shougour. Os soldados conscritos que tinham confraternizado com a população, engrossando dessarte os ‘grupos organizados armados’ - que constituem os manifestantes pró-democracia na terra de Bashar al-Assad – não podiam apresentar maior resistência, dada a diferença de armamento e de equipamento.
            No entanto, essa fácil vitória militar implica em um revés político. Até o presente, a ditadura síria cuidara de que a brutal repressão se realizasse longe da mídia internacional, banida do país pelo regime, dentro do chamado modelo iraniano.
            Assim, os eventuais massacres de multidões desarmadas e a eliminação sistemática dos recalcitrantes à ‘ordem unida dos al-Assad’ vinha sendo aplicado com a discrição dos carrascos, uniformizados ou não.
            A fronteira norte aberta pela Turquia, e o resultante êxodo maciço de povoações ameaçadas, deu ampla divulgação aos procedimentos tirânicos do estado sírio. O que antes era oculto pela repressão e a censura ora se manifesta não só à vista da comunidade internacional, mas também da própria população síria, sem carecer das trêmulas e fugidias imagens de celulares.
            Nesse caso, o feitiço se pode voltar contra o feiticeiro, e a tentativa de apagar o fogo de Jisr al-Shougour tornar-se um novo e vasto incêndio, a agitar a opinião da sociedade síria.


( Fontes: O Globo e International Herald Tribune)

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