O brasileiro José Graziano da Silva foi eleito, a 26 de junho corrente, para Diretor-Geral da FAO (Food and Agriculture Organization – Organização para a Alimentação e a Agricultura). Sediada em Roma, nas vizinhanças do Aventino e das Termas de Caracala, a FAO nunca fora antes dirigida por um latino-americano.
Como se sabe, José Graziano foi a primeira indicação de Lula, ao assumir em 2003 a presidência da República. Confiou-lhe uma das principais bandeiras de sua campanha vitoriosa, como candidato do PT, o projeto da Fome Zero. Nesse sentido, o título da pasta era de Ministério Extraordinário de Segurança Alimentar e Combate à Fome.
A despeito do enfático interesse do Presidente Luiz Inácio Lula da Silva, este primeiro intento assistencialista não teria êxito, o que de resto se reflete na saída de José Graziano do ministério, após um ano de desempenho insatisfatório.
A partir de então, sob o título de Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome, o cargo passou para o mineiro Patrus Ananias, que se ocupou da tarefa com grande proficiência. Dentro do escopo assistencialista que presidia às funções do ministério, e a bolsa família – programa oriundo da presidência de Fernando Henrique Cardoso – ora ampliada, passou a ser uma das joias da coroa do lulismo.
Nesse contexto, cabe assinalar que a fome zero, metamorfoseada em bolsa família, constituíu grande sucesso de Lula e do petismo, auxiliando as camadas de baixa renda e contribuindo para granjear o apoio e o voto das classes menos favorecidas para o P.T. O próprio senador Jarbas Vasconcellos , com a franqueza que lhe é própria, definiu "o bolsa família como o maior programa oficial de compra de votos do mundo”.
No que tange à esta bandeira da primeira hora de Lula, o principal responsável pelo êxito do programa assistencialista foi Patrus Ananias. Dentro das limitações desse instrumento de ajuda aos segmentos carentes - seu caráter assistencialista não incentiva os favorecidos a progredirem na escala social – o bolsa família foi enorme sucesso, inclusive no âmbito eleitoral. Por idiossincrasias que não cabe aqui examinar, Patrus Ananias, antigo prefeito de Minas Gerais, e eficiente quadro do PT na sua corrente igrejeira, não colheria sinais visíveis da gratidão do principal beneficiário.
Quanto a José Graziano, bastante ligado ao ex-presidente, recebeu o prêmio da direção da FAO, dádiva ambígua, pelo desafio que representa o braço agricultural-alimentar das Nações Unidas, por muito tempo a cargo de representantes africanos, que não deram ao organismo atuação particularmente eficaz e efetiva na sua área de competência.
O triunfo do candidato brasileiro foi deveras apertado. Superou o principal concorrente, o diplomata e ex-ministro espanhol Miguel Angel Moratinos por quatro votos (92 contra 88 sufrágios).
Depois da série de malogros diplomáticos, infligidos à administração anterior talvez por motivos similares àqueles da célebre crítica de Jean-Jacques Rousseau ao Abbé de Saint-Pierre (grandes ideias e miúdas vistas políticas), a pasta das Relações Exteriores logra – com a ponderável ajuda do ex-Presidente Lula - colocar um brasileiro à testa de uma das principais agências da Organização das Nações Unidas.
Na ambiciosa pauta de objetivos a serem alcançados, muitos permanecem ariscos, malgrado os esforços consideráveis.
Resta formular a José Graziano da Silva os melhores votos de êxito. O Brasil e a Administração Dilma Rousseff esperam que corresponda à expectativa, e que, fundada nos seus titulos e experiência profissional, um brasileiro volte a assinalar-se nesse vasto campo.
Na oportunidade, cabe menção a alguém que, em tempos difíceis, e sem qualquer amparo oficial, sobressaíu na atenção mundial e em particular do que então se chamava o mundo subdesenvolvido. Reporto-me, como se há de intuir, ao grande pioneiro da luta contra a fome no mundo que foi o brasileiro Josué de Castro (1908-1973).
terça-feira, 28 de junho de 2011
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