domingo, 7 de junho de 2009

Colcha de Retalhos XII

Goleada sobre a seleção do Uruguai

Assisti ontem a vitória da seleção e, ao final, me perguntava se o time de Dunga jogara tão bem quanto proclamava o locutor oficial da Globo, o inefável Galvão Bueno. Se os elogios do comentarista (e ex-craque Falcão) eram mais cuidadosos e com certas reticências, já o esfuziante Galvão, o amigo de estatísticas baseadas em escore de partidas ainda não concluídas, não regateava encômios.
Ora, a leitura hoje da coluna de Fernando Calazans em O Globo me deu a satisfação de verificar que não estou sozinho em minhas dúvidas.
Não pretendo, decerto, diminuir o feito de nossa equipe, quebrando escrita de 33 anos no estádio Centenário. No passado, a Celeste sempre foi adversária temível para o Brasil, embora a celebrada conquista de 1950 do time liderado por Obdúlio Varela se deva muito mais à atmosfera do ‘já ganhou’ em torno de nossa seleção – que no turno final colecionara goleadas sobre a Suécia (7x1) e a Espanha (6x1) – do que propriamente das qualidades do conjunto uruguaio.
O inesperado tropeço – que emudeceu um Maracanã com mais de duzentas mil pessoas – ensombreceria por décadas o imaginário futebolístico nacional, a despeito da série de vitórias de nossa seleção, como as do tri no México (1970), e a da volta triunfal de Romário em 1994, derrotando no velho Maracanã o Uruguai e assegurando a nossa classificação para a Copa nos Estados Unidos, e a conquista do Tetra. Em boa hora, Parreira reconduzira o baixinho à seleção, bom senso que Zagalo não teria em 1998, com o resultado que bem conhecemos.
Hoje, todavia, a Celeste é uma triste caricatura de glórias pretéritas. Não seria a homenagem à nêmesis de nossa seleção de 1950, Ghiggia, que traria de volta a qualidade dos feitores do Maracanazo. O time uruguaio é muito fraco. Seu goleiro Viera, aos onze minutos, engoliu um verdadeiro frango e igualmente falharia no segundo gol, ao permitir que Juan se antecipasse na cabeçada.
Assim, apesar de dominar em pelo menos dois terços do primeiro tempo, o Uruguai não logrou marcar, o que devemos agradecer a Júlio César. Aí surgia uma das razões de nossa vitória, e.g., o fato de dispormos do melhor goal-keeper do presente.
No segundo tempo, malgrado a ajuda do árbitro Saúl Laverini (Argentina) aos locais, ao ver inexistente falta de Luis Fabiano (de que lhe resultou a expulsão), o Brasil não teve dificuldade de marcar mais dois tentos. Se a nossa seleção não tem meio-campo digno deste nome, a classe dos atacantes foi suficiente para completar a goleada, diante de uma Celeste que literalmente não sabe marcar, seja em goals, seja em um esquema defensivo que não abra tantos espaços.
O pressuroso Galvão Bueno, a quem nos toca continuar a ouvir, já anuncia como quase-certeza a incrível façanha da equipe de Dunga de conseguir dois resultados positivos plenos nesta rodada, com a partida no Recife, contra o Paraguai.
Esperemos que os nossos jogadores não confundam a goleada acidental com uma certeza de excelsa qualidade. Porque ainda se nos depara uma equipe sem meio-campo, com ótimo goleiro, recheada de zagueiros e volantes, e com três atacantes, a mor parte do tempo isolados, dos quais o único capaz de desequilibrar continua a ser Kaká.
Só não entendi porque dependendo de um Robinho que até hoje não disse ao que veio, o preclaro Dunga não convocou Ronaldinho Gaúcho, sob o pretexto de que está barrado no seu time italiano. Será que alguém não lhe transmitiu a caridosa lembrança de que Gilmar, o goleiro da seleção, sempre fora convocado, apesar de ser reserva de Cabeção no Corinthians ?

Post-scriptum vascaíno

Gostaria de ter errado ao censurar o técnico Dorival Júnior ao haver, em má hora, decidido repisar o erro estratégico de Renato Portalupi no Fluminense (que privilegiara a disputa pela Libertadores, escalando reservas para o Brasileirão). Desta feita, Dorival não só assistiu à derrota frente ao fraco Paraná, por 3x1 (quebrando série de três vitórias), mas tampouco logrou conseguir ganhar do Corinthians no Pacaembu.
Sem poder disputar a final da Taça Brasil, voltou assim às partidas da Série B, com a equipe fragilizada por dois insucessos.
Infelizmente, a sua jogada ainda surte efeitos negativos, agora no empate em casa e sem goals contra um São Caetano nas últimas colocações. Vimos em São Januário se repetirem quadros de um passado que a série inicial de vitórias começara a apagar: nervosismo dos jogadores, revolta da torcida, e o retorno da insegurança.
O técnico Dorival deverá ter presente que não dirige um conjunto como o Vasco dos tempos do Expresso da Vitória. Na hodierna mediocridade de jogadores atuantes no Brasil, o time vascaíno tem grandes limitações. Em outras palavras, é santo de barro, que carece de ser tratado com cautela, e não com a afoita e desastrada ambição de Dorival Júnior.

Enfim a vitória de Federer no Roland Garros.

Na tarde de hoje, o suiço Roger Federer alcançou resultado que, para muitos, não estava fadado a conseguir. Por quatro vezes, a sua nêmesis Rafael Nadal lograra barrar-lhe a conquista. Na reabertura do Roland Garros deste ano, muitos poucos se atreveriam a vaticinar que Federer, e não Nadal, seria o vencedor. No céu havia a solitária nuvem de sua vitória, em cancha de argila, contra o espanhol, no Torneio de Madrid. Como nesse terreno, em todo o seu retrospecto, Federer só marcara duas vitórias contra Nadal (computado o torneio de Hamburgo), a derrota do primeiro do mundo poderia semelhar simples acidente de percurso.
Eliminado pelo 23º do mundo, o sueco Robin Soderling, Nadal não estaria na disputa pelo seu quinto troféu consecutivo na quadra de Roland Garros. Na caminhada até a final, Federer enfrentou sobretudo a pressão psicológica de arrebatar afinal uma taça com que completaria os quatro grande slams.
Na partida decisiva contra o desafiante Soderling – que, em chegando à final, mostrou que não foi por acaso que afastara Nadal do torneio parisiense -, Federer recuperou a segurança anterior, vencendo em três sets consecutivos.
Alcançando catorze prêmios de grandes slams, ele se iguala a Pete Sampras. Entra igualmente na seleta companhia daqueles jogadores que arrebataram as taças de Wimbledon, Austrália, Nova York e Roland Garros, v.g., Fred Perry, Don Budge, Rod Laver, Roy Emerson e André Agassi.

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