terça-feira, 17 de fevereiro de 2009

A Entrevista do Senador Jarbas Vasconcelos. Repercussão

A entrevista do Senador Jarbas Vasconcelos, publicada nas páginas amarelas da Revista VEJA, está tendo grande repercussão, embora ocorra em período pré-carnavalesco, decerto não o mais favorável a esse tipo de notícia. O Senador por Pernambuco, que se assinala por hombridade e honestidade, entrou para o antigo MDB, e continua no PMDB que, segundo afirma, “ é um partido sem bandeiras, sem propostas, sem um norte. É uma confederação de líderes regionais.” Passando das características de conhecimento público do PMDB, em resposta à pergunta ‘para que o PMDB quer cargos ?’ assevera o Senador: “para fazer negócios, ganhar comissões.(...) A maioria dos peemedebistas se especializou nessas coisas pelas quais os governos são denunciados: manipulação de licitações, contratações dirigidas, corrupção em geral. A corrupção está impregnada em todos os partidos. Boa parte do PMDB quer mesmo é corrupção.”
Depois de reportar que Jarbas Vasconcelos sempre fora elogiado por Lula, chegando a ser cotado para vice em sua chapa, VEJA indagou por que ele se tornou um dos maiores opositores a seu governo no Congresso: “Era essencial o apoio a Lula, pois ele havia se comprometido com a sociedade a promover reformas e governar com ética. Com o desenrolar do primeiro mandato, diante dos sucessivos escândalos, percebi que Lula não tinha nenhum compromisso com reformas ou com ética. Também não fez reforma tributária, não completou a reforma da Previdência nem a reforma trabalhista. Então eu acho que já foram seis anos perdidos.”
Questionado acerca do país ter voltado a crescer e os indicadores sociais terem melhorado, disse: “O grande mérito de Lula foi não ter mexido na economia. Mas foi só. O país não tem infraestrutura, as estradas são ruins, os aeroportos acanhados, os portos estão estrangulados, o setor elétrico vem-se arrastando. A politica externa do governo é outra piada de mau gosto. Um governo que deixou a ética de lado, que não fez as reformas nem fez nada pela infraestrutura agora tem como bandeira o PAC, que é um amontoado de projetos velhos reunidos em um pacote eleitoreiro. É um governo medíocre. E o mais grave é que essa mediocridade contamina vários setores do país.” Diante da asserção do entrevistador de que o Presidente é recordista de popularidade, o Senador respondeu: “O marketing e o assistencialismo de Lula conseguem mexer com o país inteiro.(...) Ele fez essa opção clara pelo assistencialismo para milhões de famílias, o que é uma chave para a popularidade em um país pobre. O Bolsa Família é o maior programa oficial de compra de votos do mundo.”
Na apresentação da entrevista, a 'Carta ao Leitor' se pergunta da possivel reação do PMDB e dentre as alternativas se menciona processar o senador por falta de decoro parlamentar, ou vestir a carapuça e começar a mudar o comportamento.
VEJA nada diz sobre eventual falta de reação do PMDB. Ora, os principais acusados, José Sarney - dele disse Jarbas que a eleição de Sarney para a presidência do Senado é um completo retrocesso. A moralização e a renovação são incompatíveis com a figura do senador – e Renan Calheiros, atual líder do PMDB no Senado ( Jarbas: Ele não tem nenhuma condição moral ou política para ser senador, quanto mais para liderar qualquer partido) preferiram não se manifestar sobre o mérito das declarações do Senador de Pernambuco.
O PMDB procurou desdramatizar a iniciativa de Jarbas Vasconcelos, taxando a entrevista de “desabafo”. O Presidente do partido e da Câmara, Michel Temer, deu a tônica: “Repudiamos a afirmação de que o PMDB é corrupto. Não queremos dar relevo a algo que não tem especificidade. Não há intenção de apenar o senador. O que não queremos é dar relevância a isso.” Dentro da legenda, haveria o propósito de isolar a Jarbas, para que ele saia do partido.

Por enquanto se afigura cedo para aquilatar o alcance da entrevista de Jarbas Vasconcelos, se este grito contra a corrupção e o atual aparente anestesiamento da sociedade evoluirá para um movimento de contestação do PMDB e de seus caciques, em ulterior reação contra a presente mediocrização da classe política, ou se converterá em simples balbúrdia, que os estamentos dominantes lograrão vencer pelo silêncio e a estudada indiferença.
Em outras palavras, o futuro dirá se nos deparamos com uma nova carta do Marquês de Barbacena, que predisse, sem meias palavras, ao Imperador Pedro I a iminência da sua queda, ou com simples discurso inconsequente, do gênero dos que se ouvem da tribuna do Senado ou da Câmara.

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