segunda-feira, 2 de fevereiro de 2009

Das Revistas

ISTO É - 4Fev09
VEJA - 4Fev09

A Isto É desta semana publica entrevista exclusiva de Césare Battisti, cuja leitura recomendo. A esse propósito Leonardo Attuch desenvolve a tese de que “o que incomoda Roma no caso Battisti é a origem e não a natureza da decisão”. Fundamenta esta assertiva na diferença do tratamento dado pelo governo italiano a duas recusas de extradição. A primeira, pelo governo francês, de não extraditar a terrorista italiana Marina Petrella, alegando razões humanitárias. A segunda, pelo governo brasileiro, de não extraditar o terrorista Césare Battisti, alegando razões humanitárias.
No primeiro caso, “Roma discordou, mas respeitosamente acatou a decisão de Paris”. No segundo, é necessário explicitar a desmedida reação italiana, com uma série de ameaças ao governo brasileiro ?

Comentário. O que terá motivado reações tão díspares do governo Berlusconi, de respeito pela atitude da França e de desrespeito – e até mesmo menosprezo – pela posição do Brasil ? A Revista VEJA na sua coluna Gente dá uma nota intitulada Tutti Paesani que é lamentável pela triste realidade que expõe. Um grupo de brasileiros se jacta de haver conseguido a nacionalidade (e o passaporte) italianos. Dentre eles, o ex-Ministro Gilberto Gil (atendendo a sugestão de funcionários do consulado italiano, ao acompanhar sua esposa, Flora Giordano, que o precedeu na obtenção deste documento); Marisa Lula da Silva (sem comentários); e Christiane Torloni, a atriz global, que declarou já haver usado muito o dito passaporte, acrescentando: ‘As pessoas te olham com mais simpatia’. A esse propósito, Leonardo Attuch assinala, com carradas de razão que “o que nos coloca numa posição de inferioridade são as imensas filas nos consulados, com pedidos de dupla cidadania. Na semana passada, Gilberto Gil (...) se tornou italiano. Tempos atrás, até a primeira-dama, Marisa Letícia festejou a cidadania italiana, dizendo pensar no futuro dos filhos. É esse nosso complexo de vira-latas que ainda dá aos italianos a falsa ilusão de que podem falar grosso com o Brasil.”
A auto-estima do brasileiro enquanto brasileiro é tema demasiado complexo para que possa ser tratado neste contexto. É, no entanto, preocupante essa demonstração de falta de brasilidade e – porque não dizer ? – de ignorância da real situação do país do signore Berlusconi. A leitura de artigos sobre a Itália e a visão de filmes como, v.g., Gomorra poderiam ser muito ilustrativos para esses brasileiros que não parecem prezar tanto o que é o Brasil e o que ele representa. Se um governo como o de Berlusconi se julga autorizado a menoscabar nosso país, uma parcela ponderável da motivação deve ser atribuída a atitudes de brasileiros que não se afiguram muito lisongeiras para a terra em que nasceram e da qual tiram o sustento cotidiano.
Assim, explica-se em grande parte o estardalhaço italiano por causa de Cesare Battisti, e da decisão do Ministro Tarso Genro de conceder-lhe o direito de refúgio . Por falar nisso, depois da estranha frase do Presidente Lula de que acatará a decisão do Supremo na matéria, o nosso Ministro da Justiça não se estará sentindo um tanto solitário ?

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