domingo, 14 de outubro de 2012

Perigos da Guerra Civil Síria

        Iniciada em março do ano passado, passando por fase de manifestações que não foram pacíficas por vontade do regime, a guerra civil na Síria atravessa um momento difícil.
         Na prática, a ditadura de Bashar al-Assad confronta a maioria da população. A revolta se espraiou para todo o país, não havendo mais nenhuma área em que o controle do governo seja pacífico.
         Sem embargo, a violência das forças que apóiam Bashar provoca não só crescente êxodo do país,  com maciças levas de refugiados acampados em áreas limítrofes na Turquia, mas também uma resistência encarniçada do povo sírio que permanece nas cidades e aldeias interioranas.
         No que tange à Turquia, as relações sofreram pronunciada deterioração. Assim, o Primeiro Ministro Recip Erdogan vem reagindo com impaciência ás provocações de Damasco. Nesse sentido, lançamento por um morteiro sírio desencadeou represália turca, que acenou inclusive com ações mais diretas contra as forças de Bashar.
         Ainda no campo do agravamento da tensão, a aviação militar turca interceptou voo procedente da Rússia, com destino a Damasco. Forçando a aterrissagem em aeroporto turco, as autoridades desse país denunciaram o fato de que a aeronave civil levava carga de uso militar.
         O Kremlin, no entanto, contesta a ação, afirmando o Ministro dos Negócios Estrangeiros, Serguei Lavrov, que o carregamento se detinaria a fins civis, e, portanto, não conflitante com a legislação aeronáutica.
         De qualquer forma, a interceptação sublinha o fato de o regime alauíta estar recebendo carregamentos de material militar, o que também se aplica a envios de parte de Teerã. Em contraposição, os rebeldes nâo recebem na prática fornecimentos de material militar de nenhum país, árabe ou ocidental. 
         Dados os bombardeios por aeronaves e helicópteros das Forças Armadas Sírias, dirigidos contra  a respectiva população civil - alvejando núcleos residenciais como se fossem posições inimigas - é compreensível a revolta do Exército Rebelde, constrangido a batalhar contra adversários dotados de um poder de fogo bastante superior.
         A despeito de promessas de auxílio militar, tanto a Arábia Saudita, quanto o Qatar não forneceram aos efetivos rebeldes armas que ensejariam derrubar os aludidos bombardeiros e helicóptereos de ataque.  Tal se deveria ao temor que eventuais mísseis terra-ar fossem cair eventualmente em mãos de terroristas. Tampouco lhe foram encaminhados outros equipamentos militares pesados.
         Essa postura é atribuída à orientação americana, que semelha temer a repetição de um cenário tipo afegão, quando a expulsão dos ocupantes soviéticos teve muito apoio do Ocidente, e teria provocado o efeito colateral tanto de treinamento, quanto de armamento dos chamados jihadis . De tal quadro teriam surgido as condições para a formação da al-Qaida.
        Não obstante, os rebeldes que, a princípio contavam como certo o fornecimento de meios para enfrentar o exército de Bashar, recebem tal mudança de atitude com crescente e compreensível irritação.
        Enquanto o regime alauíta colhe o generoso apoio de Moscou e de Teerã, com auxílios pontuais do governo xiita iraquiano, além da milicia do Hezbollah, os rebeldes se vêem obrigados a improvisações de todo gênero, se acaso desejam manter algo que se assemelhe a armas capazes de fazer frente à ditadura de Bashar (ou pelo menos garantir-lhe a sobrevivência às forças rebeladas).
        Em tal sentido, expertos na área temem que o virtual abandono da povoação síria aos próprios (reduzidos) meios provoque um agravamento na situação psico-social, com a progressiva e ulterior  radicalização dos agrupamentos rebeldes, dentro de um enfoque que tornaria a Síria pós-Assad uma espécie de enorme Somália, o que teria óbvias e graves consequências para os países do entorno, como Líbano, Jordânia e a própria Turquia.
        Nesta involução da esperada ajuda ocidental temos irônico contraste com a postura adotada no que concerne ao movimento de Benghazi contra Muammar Kaddafi. Posto que não tenha a abundância de petróleo que favoreceu a política pró-democracia na Líbia, a Síria é um país de importância estratégica - o que não escapa aos aliados xiitas de Bashar - mas não tem sido tomado na devida conta seja pelos regimes sunitas (cujo escopo precípuo se dirige contra o regime alauíta que é favorável ao Irã e às milícias simpatizantes), seja pelo Ocidente. Nesse particular, o virtual interregno causado pela eleição estadunidense representa outra determinante de relevância. Esclarecida em seis de novembro, com os comícios desta data, a posição do Governo Obama, poderia haver, a partir de eventual reeleição do atual presidente, uma mudança na postura ocidental, com um apoio maior aos rebeldes. Inshallah, é o que poderia dizer a frente síria de libertação.
       

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