O terceiro e último debate para a eleição presidencial de seis de novembro de 2012 não diferiu muito do segundo. O Presidente Barack H. Obama, ao contrário do apático personagem de Denver, Colorado, voltou a ser o contendor pró-ativo de Long Island, no estado de New York.
Dentro da visão agonística com que são vistas tais disputas oratórias da tradição americana, Barack Obama manteve em boa parte do tempo a iniciativa. No ringue de Boca Raton, o presidente não deu trégua ao desafiante. Procurou, assim, mantê-lo boa parte do tempo nas cordas, ou muito próximo delas.
Para tanto, facilitou-lhe a tarefa a circunstância de que Mitt Romney não é exatamente um especialista em política externa, terreno aparentemente lhano e singelo, rico, no entanto, em nuances e armadilhas.
Seria difícil neste contexto discutir de igual para igual com alguém que há quase quatro anos cuida, coordena e dirige a política externa da superpotência, e dispõe para tanto de incontáveis assessores e especialistas, para inteirá-lo de todas as intrincâncias e peculiaridades das múltiplas questões concernentes ao dia-a-dia da política externa estadunidense.
Uma coisa será fazer mega-esforço para compensar a óbvia fragilidade do desafiante, buscando memorizar no decoreba de estudante com largos atrasos na matéria em pauta todos os desvãos e idiossincrasias de assunto talvez simples para os amadores, mas assaz complexo para quem se atreva a discuti-lo com antagonista inteirado das respectivas sutilezas e potenciais atoleiros.
Dessarte, não surpreenderá que Mitt Romney haja evidenciado a sua pouca familiaridade com a questão da política externa. Não cometeu, é verdade, nenhum erro garrafal como o de Richard Ford no debate com Jimmy Carter, em que o único presidente americano não-eleito (havia sido designado por Richard Nixon para substituir o vice Spiro Agnew, afastado por corrupção) se confundiu a ponto de considerar como soberanos os então países satélites da União Soviética no Leste Europeu.
Sem embargo, no seu trato dos diversos tópicos (Primavera árabe, Líbia, relações com a Rússia e a China, revolução na Síria, Israel, Irã e até América Latina) não poderia demonstrar a visão abrangente e matizada que tal matéria – cuja ilusória simplicidade tende a confundir os que não são do ramo – necessariamente implica.
Por isso, Romney, em disfarçada confissão do próprio desconforto, tentaria por mais de uma vez invadir a seara da política interna e, em especial, da economia, que acredita ser o principal arrimo da respectiva candidatura. Para azar seu, Barack Obama costumou cortar-lhe as incursões neste campo, chegando mesmo a definir como whoppers (mentiraços), os iterados intentos do candidato do Grand Old Party de apresentar para consumo daquele enorme público televisivo a sua verdade (exemplo disso foi a questão da ajuda financeira dada pelo governo Obama a General Motors para evitar-lhe a falência. Romney, em clamoroso erro político, declarara na época que não interviria na questão. Agora, alegou que daria assistência à GM, buscando mascarar a falta de apoio material).
Embora a peroração tenha cabido desta feita a Mitt Romney, ao repetir os seus mantras de política interna, ele voltaria a indicar os temas em que se sente mais à vontade.
Consultada pelas consuetas pesquisas relâmpago, a resposta da opinião pública voltou a repetir a da vez anterior. Por diferença de dez pontos, Obama foi havido como o vencedor do terceiro debate.
A mídia – e o batalhão de consultores republicanos – tratou, em seguida, de desmerecer dos prováveis efeitos do desfecho da contenda, chegando mesmo a aventar que, no fim de contas, a vitória do presidente no ritual agonístico – afinal ganhara dois e perdera um – não iria pesar muito no cômputo do eleitorado estadunidense.
Essa reação dos meios de comunicação – cujo viés pró-GOP é visível também em Pindorama (se o leitor duvidar, basta compulsar os jornalões e VEJA ) – mais semelha aquele velho truque dos spin doctors ( os expertos na distorção da notícia, para garimpar nela uma oculta tendência favorável à causa, partido ou político por eles defendidos, seja por ideologia, seja por contrato), que sempre descobrem jeito de utilizar um fato negativo de modo a trazer àgua para o seu moinho.
Por isso, é mister relativizar a cortina de fumaça dos republicanos. Se esta eleição promete ser um cliff-hanger, marcada, assim, por aquele suspense dos velhos seriados da filmografia “b” do cinema americano, com o resultado – decidido pelo mecanismo do sufrágio indireto até o mágico total de 270 votos eleitorais (que assegura a maioria no colégio eleitoral). Dessarte, a apuração promete estender-se madrugada adentro, até que se possa ouvir a voz definitiva das urnas.
Faltam, portanto, cerca de quinze dias para os comícios de terça-feira, seis de novembro. Entra-se na reta final, virada a página dos debates, vencidos por maioria, queiram ou não, pelo Presidente Barack H. Obama.
Está decidida a eleição ? Longe disso. No entanto, o presidente ganhou dois dos três debates, mostrando segurança, domínio dos desvãos da política externa, e desmascarou muitas das inexatidões terminológicas (cf. Winston Churchill). Isso lhe garante o triunfo? Não, mas que ajuda, ajuda. Como dizem os locutores esportivos, preparem o coração, porque a eleição de 2012 promete ser uma das mais acirradas e apertadas da história, com o veredito quem sabe dado pelo photochart...
( Fonte: CNN )
Nenhum comentário:
Postar um comentário